Recentes flagrantes no Brasil e em outros países expõem uma prática preocupante: o tráfico de ovos de aves para aprimorar a genética de espécies criadas em cativeiro, facilitar a circulação de animais nascidos desses ovos e testar rotas ilegais de comércio internacional. Essa atividade ilícita, que desafia as leis de proteção ambiental, tem sido cada vez mais identificada por organizações não-governamentais.
No início deste ano, dois indivíduos foram detidos no Aeroporto de Hong Kong, portando um total de 260 ovos de psitacídeos, família que inclui araras, papagaios e periquitos. Suspeita-se que esses ovos pertençam a espécies regulamentadas pela Cites, convenção que regula o comércio internacional de espécies ameaçadas de extinção. As autoridades locais alertaram que o tráfico desses ovos pode resultar em multas significativas e até prisão.
Em outra ocasião, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, 60 ovos de aves nativas foram apreendidos com um cidadão chinês. Este indivíduo, detido por tráfico internacional, planejava levar os ovos para Hong Kong, após tê-los supostamente obtido ilegalmente na região de Foz do Iguaçu, no Paraná. Os ovos, que eclodiram em um centro especializado em São Paulo, revelaram-se de tucanos, araras-vermelhas e azuis.
Um terceiro episódio ocorreu no Brasil em fevereiro deste ano, quando mulheres ucranianas foram detidas com ovos de arara-azul-de-lear na BR-116, entre Salvador e São Paulo. Elas pretendiam viajar do Aeroporto de Guarulhos para o Suriname. Esses casos destacam uma tendência alarmante: o uso de ovos traficados para melhorar a genética das aves em cativeiro e, subsequentemente, legalizar a circulação desses animais.
Juliana Ferreira, diretora-executiva da Freeland Brasil, enfatiza que os ovos traficados visam aprimorar a genética das aves criadas em cativeiro, permitindo que os espécimes nascidos desses ovos sejam comercializados legalmente. Esse modus operandi é semelhante ao do tráfico de animais vivos e representa uma ameaça significativa à biodiversidade.
Essa prática criminosa não é nova e remonta a pelo menos duas décadas, como revelado pela Operação Oxóssi, conduzida no Brasil contra o comércio ilegal de espécies. A utilização de ovos de galinha e codorna para testar a segurança de fronteiras e rotas de tráfico também foi documentada. Esses incidentes ressaltam a necessidade urgente de medidas mais eficazes para combater o tráfico de vida selvagem e proteger a diversidade biológica de nosso planeta.