Pará discute caminhos para uma transição energética real


A discussão sobre os rumos da transição energética no Pará ganhou força na COP30 com o painel promovido pela Companhia de Desenvolvimento Econômico do Pará (Codec). Realizado na Green Zone, no estande do Hub Amazônia Legal, o encontro reuniu especialistas, lideranças empresariais e representantes do setor público para examinar como os distritos industriais do Estado podem se tornar motores de inovação e descarbonização.

Foto: Rafael Silva

A participação superou a capacidade do espaço e atraiu representantes do Sebrae, Federação das Indústrias do Pará (Fiepa), Associação Comercial do Pará, Gás do Pará, engenheiros, investidores e equipes técnicas da própria Codec. A pluralidade dos presentes foi um indicativo claro de que o debate sobre energia limpa já se tornou uma agenda compartilhada na economia paraense.

O painel reuniu o diretor de Estratégia e Relações Institucionais da Codec, Pádua Rodrigues, o diretor da New Fortress Energy, Paul Steffen, e o vice-presidente de Operações da Sinobras, Ian Corrêa.

A abertura coube a Pádua Rodrigues, que destacou como a transição energética se consolidou como eixo central da política industrial do Estado. Segundo ele, os distritos de Barcarena, Icoaraci, Ananindeua e Marabá passam por um redesenho institucional e ambiental que dará segurança jurídica, rastreabilidade e padrões mais rigorosos de governança. Em paralelo, a Codec avança com novos territórios produtivos, como os distritos de Castanhal, Breves e Santarém, além da recém-aprovada Zona de Processamento de Exportação de Barcarena. Esses movimentos, reforçou Rodrigues, se articulam a políticas estratégicas como o Plano Amazônia Agora e o Plano Estadual de Bioeconomia, que definem a bússola para um desenvolvimento industrial compatível com os limites climáticos.

Na sequência, Paul Steffen apresentou o papel do gás natural como vetor de modernização industrial. Para o representante da New Fortress Energy, a transição energética amazônica exige soluções contextualizadas, que não reproduzam modelos importados. Ele destacou o impacto do Terminal de GNL em Barcarena e das usinas UTE Novo Tempo e UTE Portocem, que somam 2,2 gigawatts de geração. Citou ainda o caso da Hydro Alunorte, cuja substituição de combustíveis pesados por gás natural gerou uma das maiores reduções de emissões industriais do planeta em 2023. Segundo Steffen, o Pará vive uma transformação profunda: infraestrutura consolidada, emissões reduzidas e um ambiente mais competitivo para novos investimentos.

20251115204849-GC00072572-F00275403-400x267 Pará discute caminhos para uma transição energética real
Foto: Rafael Silva

SAIBA MAIS: Pecuária sustentável do Pará impressiona ministro do clima da Noruega

O vice-presidente da Sinobras, Ian Corrêa, trouxe uma perspectiva da indústria siderúrgica instalada na Amazônia. Corrêa explicou que a empresa opera com uma das menores intensidades de carbono do setor nacional, graças ao uso de sucata metálica reciclada, energia renovável e carvão vegetal proveniente de florestas plantadas. A Sinobras mantém mais de 48 mil hectares de florestas energéticas e alimenta fornos elétricos de alta potência com energia oriunda de Belo Monte, assegurando balanço de carbono negativo. Para ele, a transição industrial exige revisões estruturais profundas, investimentos de grande porte e marcos regulatórios mais ágeis. Nenhuma mudança, afirmou, acontece isoladamente: tecnologia, infraestrutura e regras estáveis são componentes inseparáveis.

A plateia também trouxe contribuições decisivas. O presidente da Gás do Pará, Flecha Ribeiro, anunciou a inauguração do primeiro posto de GNR para transporte de longa distância do Brasil, previsto ainda para novembro. A iniciativa coloca o Estado na vanguarda da mobilidade de baixo carbono. Ele também confirmou avanços nas tratativas para fornecimento de gás natural em Marabá, reforçando a competitividade da região.

O presidente da Cooperativa de Crédito de Carbono da Amazônia questionou a Sinobras sobre os entraves além das mudanças políticas. Ian Corrêa apontou a escala dos investimentos e a necessidade de adaptar plantas industriais inteiras, além das demoras regulatórias.

Representantes da sociedade civil e de instituições técnicas reforçaram o diagnóstico. A presidente da Associação Comercial do Pará afirmou que os resultados da transição energética já são visíveis e concretos no Estado. Já a diretora de Estudos Socioambientais da CPEA, Mariana Bernal do Mazute, destacou o protagonismo do Pará na rota nacional de descarbonização, sobretudo com o avanço do gás natural. Para ela, a atuação da Codec é determinante para articular empresas, investidores e o setor público — um trabalho silencioso, técnico e estratégico.

O painel evidenciou que a transição energética do Pará avança movida por articulação institucional, conhecimento técnico e visão de longo prazo. A Codec emerge como peça-chave nesse movimento, criando pontes e preparando os distritos industriais para um ciclo de inovação energética e prosperidade sustentável. A companhia retorna à programação da COP30 em 19 de novembro com seu segundo painel temático.