As turfeiras estão entre os ecossistemas mais densos em carbono do mundo, mas, na América do Sul, sua importância como solução climática natural muitas vezes passa despercebida. Pesquisas, no entanto, desafiam a suposição generalizada de que a Ásia abriga as maiores áreas de turfeiras tropicais. Um estudo do Centro de Pesquisa Florestal Internacional (CIFOR) revelou que aproximadamente 44% da área e do volume global de turfeiras tropicais estão localizados na América do Sul, enfatizando a importância desses ecossistemas na região para a regulação climática e o sequestro de carbono.
Apesar de cobrirem apenas uma fração da superfície do continente, as turfeiras sul-americanas abrigam uma notável variedade de flora e fauna. Espécies como a onça-pintada (Panthera onca), a ariranha (Pteronura brasiliensis) e o flamingo-andino (Phoenicoparrus andinus) dependem desses habitats de zonas úmidas para sobreviver. Esses densos ecossistemas também servem como áreas de reprodução para aves migratórias e espécies endêmicas raramente encontradas em qualquer outro lugar do mundo.
As turfeiras ocorrem em uma vasta gama de paisagens. Na América do Sul, incluem planícies costeiras, áreas perimarinas, como manguezais e pântanos, planícies de inundação, margens de lagos, vales montanhosos e vales depressivos com canais fluviais de drenagem lenta nos Andes.
Bofedales, as áreas úmidas de alta altitude dos Andes na Colômbia, Peru, Chile e Argentina, são turfeiras vegetadas, tipicamente encontradas acima de 3.800 metros. Esses ecossistemas podem atingir profundidades de 7 a 10 metros e estima-se que armazenem aproximadamente 1.040 megagramas de carbono por hectare. Em contraste, as florestas andinas abaixo de 3.000 metros servem como fortes sumidouros de carbono acima do solo, sequestrando cerca de 0,67 ± 0,08 megagramas de carbono por hectare anualmente. Das terras baixas ricas em turfa da Guiana às bacias alpinas dos Andes, a distribuição geográfica desses ecossistemas é tão diversa quanto crítica para a resiliência climática (ver Figura 1). No entanto, os Bofedales estão cada vez mais ameaçados por práticas de pastoreio insustentáveis e pelos impactos das mudanças climáticas.
As turfeiras da Bacia Amazônica, particularmente a bacia de Pastaza-Marañón, no norte do Peru, estão entre as mais extensas e ricas em carbono. Esses ecossistemas acumularam vastas reservas de carbono ao longo de milênios. No entanto, as mudanças climáticas e o uso insustentável da terra – como o desmatamento, a mineração de ouro e a drenagem de turfa para expansão agrícola – estão degradando sua função vital como sumidouros de carbono.
Só no Brasil, 3.540 km² de solos orgânicos são utilizados na agricultura, emitindo cerca de 18 Mt de CO₂ anualmente — provavelmente uma subestimação devido ao monitoramento insuficiente.
No Peru, turfeiras amazônicas dominadas por Mauritia flexuosa (palmeira buriti) sofreram perdas de carbono que variam de 32 a 78,7 Mg C ha⁻¹ em cinco anos, devido a práticas de extração tradicionais e comerciais.
O principal foco é o Pantanal brasileiro, a maior área úmida tropical do mundo. Nos últimos anos, a região tem sofrido com incêndios florestais recordes, agravados por secas prolongadas e desmatamento. Incêndios em turfeiras, que ardem lentamente no subsolo e são difíceis de detectar e extinguir, tornaram-se uma ameaça persistente.
A região do Cerrado no Brasil, com estoques de carbono do solo estimados em 3,19 gigatoneladas de carbono, é particularmente vulnerável devido a intervenções humanas como drenagem, agricultura e expansão de infraestrutura. A rápida conversão de vegetação nativa em agricultura industrial e plantações de madeira também está acelerando a degradação e a perda de turfeiras.
Notavelmente, a Península Mitre, na Argentina, abriga 84% das turfeiras do país, armazenando aproximadamente 315 milhões de toneladas métricas de carbono – o equivalente a três anos de emissões nacionais. As ameaças diretas nessa área incluem a ausência de regulamentação do uso da terra e a disseminação de espécies exóticas, colocando em risco a fauna nativa, como o caracará-estriado (Phalcoboenus australis) e a lontra-do-rio-austral (Lontra provocax).
Proteger esses ecossistemas ricos em carbono é essencial para salvaguardar os meios de subsistência, garantir a segurança alimentar e hídrica e conservar a biodiversidade, que é crucial para as pessoas e para o planeta. O monitoramento das mudanças no uso da terra em áreas de turfeiras continua sendo uma lacuna crítica. Emissões não declaradas de gases de efeito estufa (GEE) provenientes de drenagem, incêndios de turfa e invasão urbana contribuem para a instabilidade climática. Para lidar com isso, a solução é aprimorar a contabilização de emissões, o planejamento informado do uso da terra e mecanismos de financiamento baseados em resultados.
A urgência em compreender e conservar as turfeiras da América do Sul envolverá aprender com outros esforços de conservação bem-sucedidos ao redor do mundo. Na província de Riau, na Indonésia, abordagens jurisdicionais para a proteção de turfeiras no âmbito do REDD+ testaram modelos de pagamento por desempenho que vinculam ações locais a benefícios climáticos globais.
A replicação e a adaptação desses modelos podem gerar benefícios semelhantes em outros lugares. Isso requer pesquisas robustas sobre hidrologia, ecologia e fluxos de carbono em turfeiras; marcos regulatórios claros para prevenir a degradação; engajamento de povos indígenas e comunidades locais na gestão; e investimento em programas de financiamento escaláveis e baseados em resultados.
Proteger as turfeiras da América do Sul não é mais opcional e não pode ser ignorado – é um imperativo climático. À medida que os riscos climáticos aumentam e as pressões sobre a terra aumentam, manter a integridade desses ecossistemas vitais é essencial não apenas para a biodiversidade e a regulação da água, mas também como uma linha de frente de defesa contra as mudanças climáticas
O Programa ONU-REDD está pronto para apoiar os países na integração de turfeiras em suas estratégias climáticas e de desenvolvimento sustentável por meio de políticas baseadas em evidências, parcerias estratégicas e mecanismos de financiamento. Isso inclui o trabalho contínuo para operacionalizar pagamentos baseados em resultados para a restauração de turfeiras, como na província de Riau, na Indonésia, e esforços para proteger turfeiras degradadas e impactadas por incêndios. Na América Latina, o Programa ONU-REDD continua a apoiar a conservação de turfeiras — particularmente no Peru e na Colômbia — incorporando sua proteção às estratégias de REDD+ e fomentando o intercâmbio regional de conhecimento. Além de seu papel como sumidouros vitais de carbono, as turfeiras oferecem benefícios não relacionados ao carbono significativos, incluindo regulação hídrica, conservação da biodiversidade, proteção do solo e valor cultural para os povos indígenas. O fortalecimento da proteção de turfeiras contribui não apenas para os objetivos de REDD+, mas também para metas mais amplas de clima, biodiversidade e desenvolvimento sustentável.
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