Durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém (PA), a Associação de Universidades Amazônicas (UNAMAZ) e a Força-Tarefa dos Governadores sobre Clima e Floresta (GCF Task Force) firmaram uma parceria inédita para aproximar a produção científica das decisões políticas nos territórios amazônicos. O memorando de cooperação, assinado na Casa da Biodiversidade e Clima, no Instituto Tecnológico Vale, marca um novo capítulo na integração entre conhecimento acadêmico e gestão pública em escala pan-amazônica.

A iniciativa busca fortalecer a colaboração entre governos subnacionais e instituições de ensino superior em países que compartilham a floresta tropical, conectando pesquisa científica, políticas públicas e saberes locais. O acordo prevê a criação de um grupo de trabalho binacional até fevereiro de 2026, com a missão de formular um plano conjunto de ações voltado à sustentabilidade, ao manejo responsável dos recursos naturais e à mitigação das mudanças climáticas.
Um pacto pelo conhecimento e pela floresta
A assinatura do memorando reuniu lideranças de governos amazônicos e representantes do meio acadêmico. Entre os signatários estavam José Seixas Lourenço, presidente pro tempore da UNAMAZ; Manuel Gambini Rupay, do governo de Ucayali (Peru); Gladson Cameli, governador do Acre (Brasil); Tiyua Uynkar Kaniras, prefeito de Morona Santiago (Equador); e Luiz Francisco Ruiz Aguilar, representante do governo de Caquetá (Colômbia). O Secretariado Global da GCF Task Force foi representado por Colleen Lyons, diretora sênior, e Jason Gray, diretor de projetos.
Em um gesto simbólico de integração pan-amazônica, a cerimônia destacou a importância de articular esforços entre ciência e política. “Este é um momento histórico. A ideia é formar lideranças e usar a pesquisa como instrumento para promover sustentabilidade e governança ambiental. É apenas o começo de uma colaboração ampla, que envolve todos os estados-membros da GCF e seus parceiros globais”, afirmou Colleen Lyons.

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Universidades como redes de transformação
A UNAMAZ, criada em 1987, reúne atualmente 80 universidades e centros de pesquisa dos nove países amazônicos. Para o professor José Seixas Lourenço, a rede é hoje um eixo de articulação fundamental entre o conhecimento acadêmico e os desafios do desenvolvimento sustentável.
“Temos um plano estratégico 2025–2030 que inclui o programa ‘Vozes do Clima’, voltado à integração de projetos sobre mudanças climáticas em toda a Pan-Amazônia. O papel da UNAMAZ é justamente conectar essas iniciativas e dar visibilidade ao trabalho das universidades amazônicas”, destacou Lourenço.
Segundo ele, a associação vem expandindo suas fronteiras de cooperação. “Estamos em vias de formalizar acordos com a Universidade da Guiana, em Caiena, e com instituições da Califórnia e do Colorado, nos Estados Unidos. Também buscamos parcerias com países do eixo Sul-Sul, incluindo diálogo com o governo da Indonésia”, acrescentou.
Cooperação como estratégia global
A parceria entre a UNAMAZ e a GCF Task Force insere-se em um contexto mais amplo de integração internacional em defesa das florestas tropicais. A GCF, que reúne 43 governos subnacionais de dez países, tem sido um fórum decisivo na articulação de políticas públicas para a redução do desmatamento, valorização de comunidades locais e desenvolvimento de economias de baixo carbono.
A aliança com as universidades amazônicas amplia esse alcance, criando uma base de evidências científicas capaz de orientar decisões políticas de longo prazo. Ao envolver pesquisadores, gestores públicos e comunidades, a cooperação pretende acelerar a transição para uma economia baseada no uso sustentável dos recursos da floresta, com foco na inovação e na inclusão social.
“Não basta apenas formular políticas. É preciso sustentá-las em dados, conhecimento e formação de lideranças locais. Essa parceria representa um passo concreto na construção de uma Amazônia mais resiliente e integrada”, sintetizou Marcelo Lima, coordenador adjunto da UNAMAZ em Brasília.
O papel estratégico da Amazônia na COP30
A realização da assinatura durante a COP30 reforça a centralidade da Amazônia nos debates climáticos globais. Ao sediar a conferência, Belém tornou-se símbolo de um novo modelo de cooperação: um que valoriza a ciência produzida no território, os saberes tradicionais e as iniciativas de governança compartilhada.
Como destacou o embaixador Carlos Lazary, consultor sênior da UNAMAZ, “a Amazônia é o coração do equilíbrio climático do planeta. O fortalecimento de suas instituições científicas e políticas é essencial para qualquer estratégia global de mitigação e adaptação”.
O memorando entre UNAMAZ e GCF Task Force reafirma esse compromisso: o de transformar a cooperação em ação e o conhecimento em ferramenta de futuro.






































