A Vale, uma das maiores mineradoras do mundo, anunciou que reduzirá os investimentos previstos em metais voltados à transição energética em 2025. O orçamento, inicialmente estimado em US$ 2 bilhões, foi revisado para cerca de US$ 1,7 bilhão. A decisão, no entanto, não indica recuo na estratégia da companhia, mas sim ganhos de eficiência no uso do capital em projetos que já estavam em curso.
O anúncio foi feito pelo CEO da empresa, Gustavo Pimenta, durante o Neosummit COP30, em São Paulo. Ele explicou que a redução no capex está associada a um processo de alocação mais inteligente dos recursos, sem cortes em iniciativas estratégicas. “Não há mudança de direção. Pelo contrário: seguimos comprometidos com os mesmos projetos, mas com mais eficiência”, destacou.
Mercado e os desafios do “prêmio verde”
Pimenta também apontou uma mudança no comportamento do mercado global, especialmente no setor do aço. Segundo ele, há alguns anos havia maior disposição para pagar valores adicionais por produtos com menor pegada de carbono, mas atualmente essa predisposição diminuiu. Fatores econômicos e fiscais têm dificultado a valorização de soluções chamadas de “verdes”.
Apesar disso, a companhia mantém a meta de oferecer produtos que contribuam com a descarbonização. A visão é de que o setor passará por uma transição natural: “Os produtos verdes vão ficar mais eficientes e, em algum tempo, essa escala se tornará mais competitiva”, afirmou.
Entre as soluções em desenvolvimento estão os briquetes de minério de ferro, que reduzem emissões no processo siderúrgico, e novas rotas de produção de aço em regiões onde o gás natural tem custo mais baixo. Para a empresa, o desafio é garantir preços competitivos sem abrir mão da sustentabilidade.

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A força do corpo minerário e os investimentos estratégicos
Uma das grandes vantagens competitivas da Vale, segundo Pimenta, é o seu corpo minerário. Ele ressalta que a capacidade de desenvolvimento de novos produtos é superior à de concorrentes globais. Esse potencial é reforçado pelo pacote de R$ 70 bilhões anunciado para Carajás em 2024, no qual uma parte significativa está voltada para o cobre, metal essencial para a transição energética.
“O foco é acelerar o desenvolvimento, colocar mais atenção e recursos em projetos estratégicos. É uma prioridade que já está em andamento”, explicou o executivo.
De forma mais ampla, a Vale também revisou o capex total previsto para 2025, incluindo projetos de crescimento e manutenção no segmento de minério de ferro. O valor, que antes estava estimado em US$ 5,9 bilhões, foi ajustado para a faixa entre US$ 5,4 bilhões e US$ 5,7 bilhões.
Essa recalibragem reflete não apenas a busca por maior eficiência financeira, mas também uma leitura do cenário internacional, em que pressões econômicas e fiscais afetam a demanda por soluções de baixo carbono.
Perspectiva de longo prazo
Mesmo diante dos ajustes, a mineradora mantém o compromisso de alinhar seus negócios às tendências globais de descarbonização. A estratégia não se resume a responder ao mercado atual, mas preparar a companhia para o futuro da indústria de metais e mineração.
Pimenta enfatizou que a trajetória da Vale está clara: ser protagonista na oferta de soluções sustentáveis e competitivas. “A direção não muda. A direção de descarbonização está muito clara”, disse.
Essa postura revela que, mais do que reduzir custos, a mineradora busca se reposicionar em um setor cada vez mais pressionado por compromissos ambientais. O desafio é equilibrar eficiência, inovação e sustentabilidade em um mercado que ainda hesita em remunerar plenamente os benefícios ambientais dos produtos verdes.










































