A gestora The Yield Lab Latam, apoiada por investidores de peso como o BID, Nestlé e Bimbo, está prestes a concluir a captação de um fundo regional de venture capital de US$ 50 milhões (quase R$ 280 milhões) para fomentar o desenvolvimento de agtechs e agfoodtechs na América Latina.
Com este novo fundo, a gestora planeja expandir de 24 para 30 startups investidas nos próximos 18 meses e já vislumbra o lançamento de outro fundo, de US$ 100 milhões, nos próximos anos.
A Yield Lab Latam, ramo latino-americano da rede global The Yield Lab, nasceu nos Estados Unidos e hoje opera na Ásia, Europa e América do Norte, acumulando mais de 80 investimentos em startups ao redor do mundo.
A gestora investe principalmente em agtechs e foodtechs, conforme explica Kieran Gartlan, diretor da Yield Lab Latam no Brasil: “Nossa tese está focada em acelerar a adoção de tecnologias pelo produtor com modelos que tragam eficiência e impacto”.
Desde 2017, a gestora atua em sete países da América Latina, incluindo Brasil, Argentina, Colômbia, Chile, Equador, México e Peru, com fundos regionais para minimizar riscos e criar sinergias entre pequenos mercados.
Em cada país, a Yield Lab adapta sua abordagem. No México, por exemplo, os investimentos são voltados para agfoodtechs, focando no mercado consumidor americano, enquanto no Chile, a aposta é na biotecnologia. No Brasil e na Argentina, o foco está em agtechs.
A gestora captou recursos significativos nos últimos anos. Dois anos e meio atrás, recebeu US$ 6 milhões do BID Lab, braço de inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), seu investidor-âncora. Empresas como Nestlé e Grupo Bimbo também fizeram aportes no ano passado, de valor não divulgado. Recentemente, o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) investiu mais US$ 6 milhões.
“A entrada do BID trouxe visibilidade e validou nosso modelo para outros grandes investidores, como o GEF,” destaca Gartlan.
Apesar de atuar em toda a região, a Yield Lab pretende focar principalmente no Brasil e México, mercados que estão se tornando mais interessantes e maduros em termos de investimento.
Ambições Maiores
O novo fundo da Yield Lab é significativamente maior que os anteriores. O primeiro fundo, criado em 2019, tinha US$ 3 milhões, e o segundo, cerca de US$ 4 milhões. A pandemia de 2020 obrigou a gestora a replicar o primeiro fundo em tamanho, mas com os mesmos investidores.
A Yield Lab realiza investimentos iniciais de até US$ 500 mil e, posteriormente, investe até US$ 2 milhões no formato follow-on. Os investimentos vão desde capital semente até a série B.
A gestora busca startups com alguma receita e tecnologias não mais em estágio experimental. No Brasil, a Yield Lab identificou lacunas tecnológicas e dificuldades de acesso ao capital necessário para financiar esse tipo de equipamento, por isso dá atenção especial às finanças.
Um exemplo é a Terra Magna, primeira startup investida no Brasil, que desenvolveu uma plataforma para facilitar o acesso ao crédito rural.
Gartlan acredita que a sustentabilidade está intrinsecamente ligada ao lado financeiro: “Com financiamento, o produtor pode comprar insumos melhores e produzir de forma mais sustentável.”
Recentemente, a gestora também investiu em biotecnologia e climatechs. Participou de uma rodada de investimento na Symbiomics, startup de bioinsumos personalizados, e na Um Grau e Meio, que desenvolveu uma plataforma preditiva de incêndios florestais.
Além dessas três empresas, a Yield Lab tem outras quatro startups em seu portfólio: @Tech (plataforma digital para integrar a cadeia produtiva da proteína animal), Agroforte (facilita o acesso ao crédito para produtores), Seedz (programa de fidelidade que agrega dados dos produtores) e Voa (drones de monitoramento e aplicação de controle biológico no combate a pragas).
Tecnologia no Campo
O perfil do investidor da Yield Lab inclui grandes produtores ou famílias interessadas em adotar novas tecnologias agrícolas. Empresas como Nestlé e Bimbo investem no fundo para incentivar o uso de novas tecnologias em suas cadeias de fornecedores e cumprir metas ESG.
“Elas querem entender melhor a cadeia agrícola e torná-la mais eficiente e sustentável,” afirma Gartlan.
A entrada de grandes investidores como o BID e GEF reforça a posição da Yield Lab como porta de entrada para aqueles que não conhecem as peculiaridades do mercado latino e da agricultura na região.