Em tempos em que as distâncias parecem encurtar apenas por meio de voos e combustíveis fósseis, o ultraciclista Joab Marques decidiu provar que o caminho mais longo pode ser o mais transformador. Às vésperas da COP30, que será realizada em Belém (PA), ele se prepara para cruzar o Brasil pedalando de São Paulo até a capital paraense — uma jornada de 3 mil quilômetros em 14 dias.

Mais que uma façanha esportiva, a travessia simboliza um chamado urgente à ação climática e à mobilidade de baixo carbono. A cada pedalada, Joab transforma o esforço físico em manifesto ambiental, numa tentativa de lembrar que as mudanças climáticas são um desafio coletivo — e que a mobilidade sustentável pode ser parte da solução.
Segundo cálculos da Fundação SOS Mata Atlântica, ao optar pela bicicleta em vez de automóveis, ônibus ou aviões, Joab deixará de emitir cerca de 0,3 tonelada de CO₂. Um gesto pequeno em números, mas imenso em significado.
O corpo como veículo da mensagem
“O ultraciclismo exige foco, constância e confiança”, afirma Joab, que encara o trajeto como uma metáfora da própria luta climática: um percurso árduo, que demanda persistência e ritmo, mas cujo destino final vale cada esforço.
Para o cientista Paulo Moutinho, PhD e cofundador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), a bicicleta é mais do que um meio de transporte — é uma ferramenta de consciência. “Pedalar de São Paulo a Belém é um ato de coragem e de educação ambiental. A jornada de Joab abre espaço para um debate necessário sobre saúde, mobilidade sustentável e justiça climática”, ressalta.
A iniciativa tem o apoio da Shimano, referência mundial em tecnologia e componentes para bicicletas, e conta com a colaboração de Willian Mendes, assessor de pautas ambientais do gabinete da vereadora Renata Falzoni, defensora histórica do uso da bicicleta como meio de transporte urbano.

SAIBA MAIS: Pedalando rumo à conscientização climática
O roteiro de uma travessia climática
A rota, planejada para durar duas semanas, atravessará cinco estados brasileiros. De São Paulo, Joab segue por Limeira e Ribeirão Preto, cruza Minas Gerais por Uberlândia e entra em Goiás, passando por Campo Alegre e Brasília. Depois, corta o Tocantins por cidades como Paraíso e Brasilândia, até alcançar o Pará — passando por Marabá, Jacundá e Tailândia, antes de concluir a jornada em Belém, no dia 10 de novembro, véspera da abertura da conferência.
Cada parada foi pensada não apenas pela logística, mas também pela oportunidade de dialogar com comunidades locais e inspirar outros ciclistas e ambientalistas. A cada cidade, uma nova conversa sobre futuro, clima e escolhas cotidianas.
Pedalar como ato político e poético
O desafio de Joab condensa o espírito da COP30: enfrentar a crise climática com ações concretas, pessoais e coletivas. O ultraciclista não apenas desloca seu corpo — ele move consciências. Sua bicicleta carrega mais do que equipamentos; transporta uma ideia de mundo em que o progresso não precisa significar destruição.
Em tempos de aceleração e consumo, sua viagem lembra que velocidade não é o mesmo que avanço, e que desacelerar pode ser o passo mais decisivo rumo à sustentabilidade. De São Paulo a Belém, cada quilômetro se torna um lembrete de que o futuro — assim como o caminho — depende de quem se dispõe a pedalar.









































