Primata gigante das Américas instiga reflorestamento em SP

Autor: Redação Revista Amazônia

Na região interiorana de São Paulo, cercada por pastagens e plantações, uma área de 292 hectares protege uma das últimas populações do muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides), o maior primata das Américas e espécie endêmica da Mata Atlântica. Nessa área, a Estação Ecológica do Barreiro Rico, vivem apenas cinco dos cerca de 1.300 indivíduos dessa espécie que ainda restam na natureza. Eles desempenham um papel crucial no reflorestamento da Mata Atlântica, sendo importantes dispersores de sementes de grandes árvores, essenciais para a manutenção da biodiversidade local.

Monitoramento da espécie primata nas copas das árvores

A observação direta desses primatas nas copas das árvores, onde passam a maior parte do tempo, é difícil. Por isso, a doutoranda Beatriz Robbi, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), utiliza drones equipados com sensores térmicos e câmeras para localizá-los e monitorar seu comportamento. As informações obtidas são valiosas para entender a vida social dos muriquis, seus padrões de alimentação e reprodução, além de ajudar na conservação da espécie.

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Primata cuidando dos filhotes – Fonte: Beatriz Robbi/UFV

A área onde vivem, no entanto, é cercada por plantações de cana-de-açúcar, eucalipto e pastagens, o que dificulta a conexão entre diferentes grupos de muriquis. Para superar essa barreira, pesquisadores e ONGs estão trabalhando na criação de corredores ecológicos, que possam conectar fragmentos isolados da Mata Atlântica, possibilitando a circulação dos animais e reduzindo o risco de extinção.

A restauração florestal desses corredores é um dos principais focos do projeto Corredor Caipira, financiado pela Petrobras, e de pesquisas desenvolvidas pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP). Esses estudos visam identificar quais áreas possuem maior potencial para abrigar e sustentar os muriquis, além de quais espécies de árvores são essenciais para sua alimentação e abrigo. “Queremos restaurar áreas com espécies arbóreas que são importantes para o muriqui, criando corredores que ofereçam não apenas conexão, mas também os recursos alimentares que eles precisam”, explica a pesquisadora Luana Carvalho, da Esalq-USP.

Além de contribuírem para a dispersão de sementes, os muriquis são conhecidos como os “jardineiros da floresta”, favorecendo a regeneração natural ao transportar sementes de árvores como cambuís, jatobás e copaíbas. Essas espécies arbóreas são vitais para a estrutura ecológica da Mata Atlântica e, sem os muriquis, o equilíbrio da floresta pode ser prejudicado.

No passado, a Estação Ecológica do Barreiro Rico abrigou entre 200 e 500 muriquis, mas incêndios frequentes, como o de 2012, reduziram drasticamente essa população. No entanto, nos últimos anos, investimentos em prevenção de incêndios, tanto pelo governo quanto pela mobilização de comunidades locais, têm permitido a recuperação gradual da área. “O esforço conjunto entre o governo, empresários e proprietários rurais tem sido fundamental para evitar novos desastres”, afirma João Marcelo Elias, gestor da Estação Ecológica.

Com as novas estratégias de conservação, como a criação de reservas de água e o trabalho de conscientização, Barreiro Rico se tornou um exemplo de como o envolvimento local pode ser crucial para a proteção de espécies ameaçadas e para a manutenção de ecossistemas importantes. O muriqui, símbolo dessa mobilização, segue como peça-chave para o futuro da Mata Atlântica, desempenhando seu papel como grande dispersor de sementes e contribuindo para a regeneração de uma das florestas mais biodiversas do planeta.


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