Documento da Cáritas Brasil inspira propostas nacionais para a COP30


A publicação da Cáritas Brasileira para a conferência do clima em Belém vai além de diretrizes institucionais e propõe um modelo de ação climática que parte das experiências comunitárias e valoriza a participação social.

 

Cáritas

Quando os holofotes do mundo se voltarem para Belém do Pará em novembro de 2025, o Brasil terá a chance única de mostrar que as soluções para a crise climática não precisam vir apenas dos grandes centros de poder, mas podem emergir das raízes das comunidades que resistem e inovam há décadas. É nesse contexto que o recém lançado Documento de Posições da Cáritas Brasileira para a COP30 se destaca, oferecendo uma bússola para a sociedade civil e um convite aberto à articulação.

Não se trata de mais um texto burocrático sobre metas e compromissos. A publicação da Cáritas se firma como um farol, iluminando um caminho onde a experiência prática se traduz em diretrizes políticas. Organizado em sete eixos estratégicos, o documento costura princípios, diagnósticos e propostas detalhadas. Ele é um manifesto que prioriza a justiça fiscal no financiamento climático, o reconhecimento de perdas e danos para além da dimensão material, a proteção de migrantes climáticos, a adaptação comunitária e a mitigação centrada em direitos territoriais. Outros pontos fundamentais incluem a defesa de uma transição energética justa e a agroecologia como uma política estruturante.

Screenshot-2025-08-12-221852 Documento da Cáritas Brasil inspira propostas nacionais para a COP30
Fonte: Cáritas Brasileira

Propostas que partem da realidade

 

O grande mérito do documento está em sua abordagem. Em vez de flutuar no campo das abstrações, ele aterra as discussões em experiências reais e já testadas no Brasil. O Programa Um Milhão de Cisternas P1MC, por exemplo, não é apenas citado como um caso de sucesso, mas projetado como um modelo escalável de política pública de adaptação para diversos biomas. Essa é uma demonstração de que a inovação não está apenas nas grandes tecnologias, mas na sabedoria acumulada pelas comunidades.

Ao abordar perdas e danos, o texto eleva a conversa a um novo patamar. Vai além dos custos de reconstrução de infraestruturas e incorpora a dimensão imaterial da perda de identidade, de pertencimento, de espiritualidade. É um reconhecimento de que o impacto da crise climática fere a alma das comunidades. Para mitigar isso, a Cáritas sugere instrumentos que permitem que essas perdas profundas sejam reconhecidas e reparadas.

Transição justa e participação popular

 

A clareza e a profundidade se mantêm em todos os eixos. A transição energética, por exemplo, é defendida não como um simples aumento de fontes renováveis, mas como um processo socialmente responsável que respeita direitos e evita novos impactos. O documento insiste na participação genuína das comunidades afetadas na tomada de decisões. Da mesma forma, o financiamento climático é atrelado à justiça fiscal, propondo a taxação de grandes fortunas para que os recursos cheguem a quem realmente precisa deles as organizações comunitárias. A mitigação é pensada a partir da proteção de territórios e não de mercados de carbono desregulados que, muitas vezes, acabam por mercantilizar a natureza e os saberes tradicionais.

A relevância do trabalho da Cáritas não se limita ao seu conteúdo robusto. Ele envia uma mensagem poderosa: a sociedade civil tem a capacidade de se organizar para oferecer propostas sólidas, que combinam valores humanistas com prática e viabilidade política. É um farol de esperança para a construção de um futuro mais justo e sustentável.

Oportunidade para uma rede nacional

 

Essa publicação é também um convite inspirador para outras redes e organizações brasileiras. A Articulação Semiárido Brasileiro ASA, a Articulação Nacional de Agroecologia ANA, movimentos indígenas, quilombolas e coletivos urbanos possuem um vasto repertório de experiências. Se sistematizadas em documentos similares, poderiam formar uma grande teia de reflexões e propostas para a ação. Uma iniciativa conjunta desse porte teria o potencial de influenciar não apenas a COP30, mas todo o debate climático no Brasil, transformando a agenda de fora para dentro.

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A crise climática é complexa e exige mais do que discursos de ocasião. Pede consistência, propostas concretas e uma capacidade real de gerar impacto. O documento da Cáritas mostra que é possível responder a esse desafio com criatividade e engajamento. Agora, a pergunta que fica é: quem mais se unirá a esse movimento de construção coletiva para que a COP30 seja, de fato, a conferência do povo brasileiro?

O documento da Cáritas pode ser conferidas em português e em inglês no portal da Cáritas