Mata Atlântica revela nova espécie de árvore em Minas Gerais


A Mata Atlântica, um dos biomas mais ameaçados e, ao mesmo tempo, mais ricos do planeta, acaba de revelar um de seus segredos mais bem guardados. Pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV) anunciaram a descoberta de uma nova espécie de árvore no leste de Minas Gerais. Batizada de Myrcia magnipunctata, a planta se junta à vasta família das mirtáceas, um grupo botânico que já nos presenteou com a jabuticabeira e a pitangueira. O achado científico, publicado na prestigiada revista Phytotaxa, é um lembrete vivo da biodiversidade oculta que ainda resiste e prospera nas florestas brasileiras.

folhas da árvore Myrcia Magnipunctata foto: UFV-divulgacao

A descoberta não foi um evento planejado, mas sim um momento de sorte e atenção científica. O pesquisador Otávio Verly, da UFV, estava realizando um inventário florestal para sua tese de doutorado quando a encontrou. A rotina de mapeamento, que a empresa Cenibra realiza a cada cinco anos para monitorar a saúde dos fragmentos florestais, proporcionou o cenário perfeito para o encontro. Ao analisar a planta e compará-la com as centenas de espécies já catalogadas, o pesquisador e seus colegas do Grupo de Estudo em Economia e Manejo Florestal (GEEA) notaram algo diferente. Após uma coleta minuciosa e análises em laboratório, a suspeita foi confirmada: tratava-se de uma espécie inédita para a ciência. O professor Marcos Sobral, da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e especialista em mirtáceas, foi peça-chave na confirmação do achado.

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Campus da Universidade Federal de Viçosa (UFV) – foto divulgação UFV

Pequena em tamanho, gigante em significado

A Myrcia magnipunctata é uma árvore modesta em altura, variando entre três e seis metros. Mas suas características a tornam única. A planta se distingue por uma camada de pelos marrom-avermelhados que cobre o caule e a parte inferior das folhas, dando-lhe uma textura peculiar. O nome, que em latim significa “com grandes pontuações”, faz referência a pequenos pontos translúcidos que os pesquisadores observaram na superfície das folhas. No entanto, a beleza dessa nova espécie é ofuscada por uma preocupação: até o momento, foram encontrados apenas onze exemplares, o que a coloca em uma posição de extrema vulnerabilidade.

O fato de uma nova espécie ser descoberta em uma região historicamente devastada, como a Mata Atlântica, carrega um significado profundo. A Mata Atlântica já perdeu mais de 85% de sua cobertura original. A cada nova espécie encontrada, os cientistas reforçam a mensagem de que, apesar da destruição, o bioma ainda guarda uma riqueza incalculável e, por isso, merece toda a atenção e proteção.

A descoberta também destaca a importância crucial do trabalho de inventário e monitoramento contínuo das florestas. Foi a rotina aparentemente burocrática de um inventário florestal que permitiu a identificação da árvore. Isso sublinha a necessidade de investimentos em pesquisa de campo e na formação de botânicos e engenheiros florestais. São esses profissionais que atuam na linha de frente, mapeando a biodiversidade e garantindo que espécies ainda desconhecidas não desapareçam antes mesmo de serem catalogadas.

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Exemplar da árvore Myrcia Magnipunctata foto UFV-divulgacao

O achado serve como um lembrete de que o trabalho de preservação é uma corrida contra o tempo. A fragilidade da Myrcia magnipunctata, com seus poucos exemplares encontrados, é um alerta. Ela simboliza a urgência de expandir as áreas de conservação e fortalecer as políticas de proteção ambiental. A história da Myrcia magnipunctata é a história de muitas outras espécies que, sem o devido cuidado, podem se extinguir sem que a humanidade sequer saiba de sua existência.

A ciência nos oferece uma nova razão para proteger o que resta da Mata Atlântica. A descoberta em Minas Gerais é um farol de esperança, mostrando que o bioma, apesar de todas as cicatrizes, ainda tem muito a nos oferecer e a nos ensinar. É uma oportunidade para que as políticas públicas e o apoio à pesquisa científica se unam em um esforço contínuo para garantir que a biodiversidade brasileira não seja apenas um capítulo do passado, mas uma riqueza a ser protegida para o futuro.

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