Enquanto Belém se prepara para sediar a COP30, o verdadeiro espírito da justiça climática emerge de suas próprias raízes. Nos dias 22, 23 e 24 de agosto, a cidade será palco da 3ª COP das Baixadas, um evento que vai muito além das conferências oficiais. Realizada no Curro Velho, na Vila da Barca, esta iniciativa pioneira é um movimento que nasceu da própria juventude local e que busca redefinir o debate ambiental a partir das vozes e experiências das periferias e comunidades mais vulneráveis. Com uma expectativa de cerca de 800 participantes, o evento promete ser um caldeirão de ideias, ativismo e cultura, mostrando que a luta pela justiça climática não é uma questão burocrática, mas uma realidade cotidiana.
A COP das Baixadas é um projeto que se consolidou nos últimos anos como um farol de resistência e protagonismo. Suas edições anteriores, em 2023 e 2024, fortaleceram um espaço onde a educação climática se mistura com esporte, lazer e arte, criando um ambiente de engajamento que contrasta com a linguagem formal e muitas vezes hermética das negociações internacionais. A grande mensagem do evento é clara: a Amazônia não pode ser discutida apenas em gabinetes. É preciso ouvir as comunidades que vivem e sentem o impacto das mudanças climáticas em sua pele, pois são elas as primeiras a serem afetadas por inundações, secas e eventos extremos.
A programação, que é totalmente gratuita e aberta ao público, reflete essa abordagem holística. O evento contará com uma série de atividades projetadas para envolver a comunidade de forma profunda e significativa. Painéis de discussão reunirão líderes comunitários, pesquisadores e ativistas para abordar temas como o impacto das mudanças climáticas na vida cotidiana, a importância dos saberes tradicionais na preservação da natureza e a necessidade de políticas públicas que considerem a realidade das periferias.

Programação para além da cúpula
Além dos debates, a COP das Baixadas vai inovar com a realização de “tribunais simbólicos”, onde serão julgadas as práticas que agridem o meio ambiente e as comunidades. Essas sessões não têm o objetivo de punir, mas de conscientizar e dar visibilidade às injustiças ambientais que, muitas vezes, permanecem invisíveis para a sociedade em geral. O evento também contará com oficinas práticas, oferecendo ferramentas e conhecimentos para que os participantes se tornem agentes de mudança em seus próprios bairros. A programação cultural, com apresentações de artistas locais, reforçará a identidade e a riqueza cultural da região, mostrando que a sustentabilidade e a arte caminham juntas.
O propósito central da COP das Baixadas é construir, coletivamente, “a conferência que queremos”. Essa frase, mais do que um slogan, é um convite para que a população periférica se aproprie do debate climático e exija seu lugar na mesa de negociações. A iniciativa reconhece que as soluções para a crise ambiental não virão apenas de acordos internacionais, mas da base, da força e da resiliência das comunidades. Ao trazer o foco para a Vila da Barca e outras áreas de baixada, o evento mostra que a vulnerabilidade socioambiental é um problema que precisa ser enfrentado com urgência. A COP30 de Belém tem a oportunidade de ser uma conferência diferente, mas para isso, precisa olhar para dentro, para suas próprias periferias, para entender as verdadeiras necessidades e desafios. A COP das Baixadas é um lembrete vivo de que a voz da juventude e das periferias é crucial para construir um futuro mais justo e sustentável.
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