Nos centros urbanos, as lavanderias são parte essencial do cotidiano, mas escondem um problema silencioso: a enorme dependência do uso da água. Seja em operações domésticas, hospitalares, industriais ou hoteleiras, o recurso aparece entre os principais custos e também como um dos maiores desafios ambientais do setor.

O dilema, no entanto, começa a ganhar novos contornos com a chegada da Project Aqui, uma startup criada em 2023 por dois jovens engenheiros ambientais formados na Faculdade de Tecnologia da Unicamp (FT-Unicamp), Emmanuel Caponi e Igor Oliveira. Movidos pela constatação de que os sistemas de reuso de água disponíveis no mercado são caros e exigem grandes espaços físicos, eles decidiram investir em uma solução compacta, de fácil instalação e mais acessível.
A proposta rapidamente ganhou fôlego: a empresa nasceu com a missão de desenvolver tecnologias para o tratamento de efluentes e o reuso de água, atendendo um setor que gasta alto com o recurso e que enfrenta limitações estruturais para modernizar suas operações.
Do projeto acadêmico à empresa
Caponi conta que a ideia surgiu ao perceber a dificuldade de lavanderias em implantar sistemas de grande porte. O alto custo do metro quadrado em áreas urbanas inviabilizava, muitas vezes, a instalação desses equipamentos. Com Oliveira, iniciou pesquisas para reduzir o tamanho dos sistemas e, após comprovar a eficiência da tecnologia, transformaram a iniciativa em negócio.
A virada empreendedora foi apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), por meio do programa PIPE Start, que oferece suporte a empresas de base tecnológica em estágio inicial. O financiamento de R$ 93 mil viabilizou salários, treinamento, aquisição de equipamentos e, principalmente, pesquisas com potenciais clientes. Ao conversar com 20 a 25 lavanderias, os fundadores descobriram que 70% delas têm na conta de água sua principal despesa. Como a maioria está instalada em áreas urbanas e não dispõe de grandes espaços físicos, o potencial de mercado para soluções compactas mostrou-se evidente.
Com esse respaldo, a Project Aqui foi aceita no programa de incubação da Incamp, a Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp, e instalou-se no prédio Núcleo do Parque Científico e Tecnológico da Unicamp, gerido pela Agência de Inovação Inova Unicamp. Hoje, a equipe já conta com quatro integrantes e segue aprimorando suas soluções.
Em paralelo à estruturação da empresa, a startup firmou um acordo de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) com a Unicamp, sob liderança do professor Renato Falcão, da FT. O objetivo é criar um reator de leito cerâmico ativado por ozonização, tecnologia capaz de remover corantes presentes nos efluentes das lavanderias. Esses resíduos têxteis, além de escurecer a água, impedem a passagem da luz e afetam diretamente a vida aquática.
A proposta do novo reator é inovadora por ser eficiente, de menor custo, compacto e ainda aproveitar resíduos da própria indústria cerâmica. “É um tipo de filtro que pode fazer diferença para o setor, atendendo às exigências legais e ao mesmo tempo sendo economicamente viável”, explica Oliveira.

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Exigências regulatórias e pressão econômica
As regras ambientais são rigorosas. O Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) define parâmetros para o descarte de efluentes por meio das resoluções 357/2005 e 430/2011. Uma das prioridades é justamente a remoção de corantes. O descumprimento dessas normas pode gerar penalidades legais e custos adicionais para as empresas.
Mas a questão vai além da legislação: quanto mais poluída a água descartada, maior o valor cobrado pelas companhias de saneamento para tratá-la. Em outras palavras, o tratamento eficiente reduz tanto riscos jurídicos quanto custos diretos com a operação.
A Project Aqui surge, portanto, em um momento estratégico, unindo inovação científica, empreendedorismo jovem e pressão crescente por soluções ambientais. Em um setor que movimenta milhões de litros de água por mês, adotar sistemas compactos e acessíveis de reuso pode ser o diferencial competitivo entre estagnar ou prosperar.
Mais do que uma startup, a empresa simboliza uma mudança de paradigma: transformar passivos ambientais em oportunidades de inovação. Num país em que a água é cada vez mais cara e escassa, soluções como essa deixam de ser apenas uma vantagem e passam a ser questão de sobrevivência para os negócios.











































