Semana da Amazônia reforça papel da região na segurança alimentar e no desenvolvimento sustentável


Manaus recebeu, entre 2 e 4 de setembro, um encontro que posiciona a Amazônia como peça-chave nas agendas globais de segurança alimentar, clima e desenvolvimento sustentável. A Semana da Amazônia: Desenvolvimento Rural Sustentável e Sistemas Agroalimentares reuniu representantes de governos, organismos internacionais, academia, organizações indígenas, camponesas e da sociedade civil, sob a liderança do Governo do Brasil e da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

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Mais do que um evento, foi um espaço de convergência política e social em torno de um objetivo comum: transformar a realidade amazônica em direção a um modelo mais inclusivo, resiliente e justo, sem deixar ninguém para trás. A iniciativa integrou o Programa de Cooperação Internacional Brasil-FAO, consolidando uma parceria de quase duas décadas.

No debate de abertura, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE), o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), além da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), ressaltaram a importância estratégica do bioma.

Segundo Máximo Torero, economista-chefe da FAO, a Amazônia precisa ser vista como espaço de inovação em políticas públicas e novos modelos econômicos, com destaque para a agricultura familiar e os povos indígenas. O presidente do INCRA, Cesar Aldrighi, reforçou que a região simboliza inclusão e valorização de saberes locais. Já Fernanda Machiavelli, secretária-executiva do MDA, destacou que o bioma oferece ao mundo mais de mil variedades de alimentos cultivados nas florestas.

Lilian Rahal, do MDS, chamou atenção para os desafios urbanos: cidades amazônicas concentram altas taxas de insegurança alimentar, exigindo políticas que conectem campo e cidade.

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Emanuel Cavalcante/Divulgação Embrapa Amapá

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Agricultura familiar no centro da transformação

Dados mostram que 85,4% dos estabelecimentos agropecuários da Amazônia pertencem a agricultores familiares. Por isso, a Reunião Especializada sobre Agricultura Familiar do Mercosul (REAF Mercosul) foi um dos pontos altos, reunindo experiências que orientam políticas de apoio ao setor.

As discussões apontaram que a agricultura camponesa e indígena não é apenas produtora de alimentos, mas também guardiã da biodiversidade e elemento essencial no combate às mudanças climáticas.

O III Diálogo Técnico Regional sobre Bioeconomia Amazônica trouxe à mesa atores estratégicos, como o Banco do Brasil, o World Resources Institute (WRI), o Fundo Vale, a ZTE e a INCA Terra. Também participaram representantes de governos de oito países amazônicos, além de lideranças indígenas e comunidades tradicionais.

O debate tomou como referência a Estratégia Regional Amazônica de Segurança Alimentar, aprovada pela Declaração de Bogotá, e a iniciativa Amazônia Mão a Mão. Casos concretos de bioeconomia em diferentes países foram mapeados, revelando o potencial da região para atrair investimentos inovadores.

A atividade “Habitar a Amazônia, Alimentar o Futuro” destacou experiências de sistemas agroalimentares urbanos em cidades do Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador e Peru. Com apoio da FAO, ABC, MDS, ICLEI – Governos Locais pela Sustentabilidade e Comida do Amanhã, foi desenhada uma rota para fortalecer mercados locais, ampliar compras públicas, reduzir perdas de alimentos e conectar políticas de clima e nutrição.

A Semana da Amazônia reafirmou a cooperação entre Brasil e FAO, reconhecida como uma das mais consolidadas do Sul Global. Com base na experiência brasileira em segurança alimentar, programas de combate à fome e desenvolvimento rural foram exportados como referência para outros países.

O encontro deixou claro que a Amazônia não é apenas uma pauta ambiental, mas também econômica, social e alimentar. Sua contribuição vai muito além das fronteiras nacionais: trata-se de um território vital para o futuro da humanidade.