Cinco lições sobre economia circular rumo à COP30


À medida que a COP30 se aproxima, marcada para novembro de 2025 em Belém, cresce a pressão sobre o Brasil para mostrar avanços concretos na agenda climática. Uma das frentes mais estratégicas é a gestão de resíduos, que conecta diretamente o cotidiano da população às metas globais de redução de emissões. Nesse cenário, a economia circular e a coleta seletiva despontam como ferramentas que unem benefícios ambientais, sociais e econômicos.

Edmar Chaperman/Funasa

A startup SOLOS, criada no Nordeste e voltada ao impacto socioambiental, tem se destacado ao propor soluções inovadoras nesse campo. Seu trabalho reúne tecnologia, engajamento comunitário e inclusão social, consolidando experiências em grandes eventos como Carnaval, Réveillon e São João. Nesses contextos, a empresa já demonstrou como logística reversa, planejamento de infraestrutura e valorização de catadores podem se traduzir em sistemas eficazes de coleta.

Entre as iniciativas da SOLOS está o projeto RODA – a reciclagem na sua porta. Ele combina veículos elétricos, coleta porta a porta e a atuação de cooperativas de catadores, diminuindo emissões e fortalecendo a inclusão social. Além disso, a empresa organiza ecopontos, sistemas de troca de resíduos por benefícios e programas educativos que vão de palestras a mutirões de limpeza. Tudo isso sob a lógica de que a sustentabilidade precisa ser vivida de forma prática e acessível.

Os números do Brasil, porém, ainda revelam desafios estruturais. Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos de 2024, o país gera aproximadamente 81 milhões de toneladas de resíduos urbanos por ano, mas recicla apenas 8% desse volume. A discrepância é evidente: enquanto 75% da população declara separar o lixo em casa, grande parte dos materiais recicláveis não chega às cooperativas ou indústrias por falta de infraestrutura adequada. Dados do IBGE reforçam essa distância entre a boa vontade do cidadão e a realidade do sistema.

Para Saville Alves, cofundadora e líder de impacto da SOLOS, a COP30 é uma vitrine para mostrar como práticas de economia circular podem ser incorporadas em larga escala. Ela elenca cinco pontos que explicam por que o tema deve ser prioridade para o Brasil e para cada cidadão.

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Divulgação – Solus

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O primeiro é a redução da poluição. O encaminhamento correto dos resíduos diminui a contaminação do solo, da água e do ar. Além disso, reduz a pressão sobre florestas e ecossistemas, já que materiais reciclados substituem a extração de novas matérias-primas. Esse ponto é particularmente relevante no Brasil, que em 2025 ainda tem no desmatamento sua principal fonte de emissões de carbono.

O segundo aspecto é a participação da população, impulsionada pela tecnologia. Quando sistemas de coleta porta a porta, aplicativos de agendamento e pontos de entrega voluntária se tornam comuns, o cidadão passa a ser parte ativa do ciclo, aumentando tanto a quantidade quanto a qualidade dos materiais coletados.

O terceiro ponto é a inclusão social dos catadores. São eles que respondem pela maior parte da reciclagem no país. Reconhecer sua importância, garantir remuneração justa e melhorar condições de trabalho é essencial para tornar a coleta seletiva eficiente e segura.

O quarto benefício é o retorno ambiental e econômico. Além de reduzir a poluição, a reciclagem gera empregos, movimenta cooperativas e fornece matéria-prima para a indústria. Um estudo do Ministério do Meio Ambiente (MMA) estima que a economia circular pode gerar até 7 milhões de empregos no Brasil até 2030, mostrando que sustentabilidade também é vetor de desenvolvimento.

Por fim, Saville destaca a infraestrutura inovadora. Sem ecopontos, coletores estratégicos e sistemas que democratizem o acesso, a coleta seletiva não alcança escala. Criar essa base física é tão importante quanto conscientizar a população.

Com parcerias firmadas com marcas como Ambev, Braskem, iFood, Nubank e Coca-Cola, a SOLOS já coletou mais de 1.700 toneladas de resíduos, gerando R$ 6,5 milhões em renda para catadores em cinco anos. O dado mostra que inovação e impacto social podem caminhar juntos.

“Com a COP30 realizada no Brasil, o mundo volta os olhos para nossas práticas. Reduzir o desmatamento e impulsionar a economia circular não é apenas responder às pressões internacionais, mas reestabelecer o vínculo entre cada cidadão e o futuro do planeta”, resume Saville.

Ao final, a coleta seletiva se revela mais do que uma tarefa doméstica: é uma porta de entrada para uma economia circular capaz de transformar cidades, gerar trabalho digno e reverter parte da crise climática.