A série “A Caminho da COP30: Biossoluções para uma Agricultura de Baixo Carbono” propõe uma reflexão essencial sobre o futuro da produção rural em um planeta em rápida transformação. Enquanto o Brasil se prepara para sediar a COP30 em Belém (Pará), o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), a Embrapa e o CGIAR — Grupo Consultivo para a Pesquisa Agrícola Internacional — articulam uma sequência de diálogos que colocam as soluções biológicas no centro da resposta climática global. O objetivo é claro: mostrar como a agricultura pode ser, ao mesmo tempo, produtiva, regenerativa e essencial na redução das emissões de carbono.

Mais do que um setor econômico estratégico, a agricultura é um campo vivo de inovação e experimentação. As chamadas biossoluções — práticas e tecnologias que utilizam processos biológicos para otimizar o solo, nutrir plantas e reduzir dependência de insumos sintéticos — representam um caminho concreto para conciliar produtividade e sustentabilidade. Essas abordagens vão desde o uso de microrganismos que ajudam a solubilizar fósforo até inoculantes microbianos que fixam nitrogênio e fortalecem a resistência das plantas a secas e pragas. Também incluem sistemas integrados de produção, como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que combina culturas agrícolas, criação de animais e cobertura florestal. A combinação desses elementos fortalece o solo, aumenta o sequestro de carbono e torna as propriedades mais resilientes diante das mudanças climáticas.

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Embora as biossoluções exijam investimentos iniciais em pesquisa, formação técnica e adequação regulatória, seus benefícios de longo prazo são evidentes. Solos mais vivos e férteis armazenam mais carbono, retêm melhor a água e demandam menos fertilizantes industriais, frequentemente produzidos com alto custo energético e ambiental. Ao reduzir essa dependência, os produtores também diminuem a vulnerabilidade a flutuações de preço e a crises de abastecimento de insumos.
A série de diálogos será composta por três momentos complementares. O primeiro, marcado para o dia 30 de setembro, às 10h30, será o webinar “A ciência de ampliar o uso de biossoluções para a saúde do solo e a ação climática”. Especialistas do Brasil e de outros países vão compartilhar evidências científicas e experiências práticas sobre como ampliar o uso dessas soluções em larga escala. Entre os participantes estão Alessandro Cruvinel (MAPA), Sieg Snapp (CIMMYT), Leigh Winowiecki (CIFOR-ICRAF), James Stapleton (CGIAR), Mirjam Pulleman (Alliance Bioversity-CIAT), Ieda Mendes (Embrapa Cerrados), Marco Antônio Nogueira (Embrapa Soja), Marcus Gitau (Kumea Agriculture) e Aine McGowan (UK FCDO).
O segundo diálogo, intitulado “Agricultores e Negócios: Escalando Biossoluções”, será realizado em 16 de outubro e aprofundará o debate sobre como levar essas práticas ao campo, conectando agricultores, empresas, investidores e formuladores de políticas. O terceiro e último encontro, híbrido e presencial, ocorrerá em Belém durante a COP30, no pavilhão do CGIAR, no dia 10 de novembro, com o tema “Finanças e políticas sustentáveis”. Nesse momento, o foco será a criação de instrumentos financeiros e regulatórios capazes de transformar as biossoluções em pilares permanentes de uma agricultura de baixo carbono.
A iniciativa busca não apenas disseminar conhecimento técnico, mas também mudar a forma como se enxerga o papel do agro na transição climática. Em vez de um setor frequentemente visto como emissor de gases de efeito estufa, a proposta é apresentá-lo como parte fundamental da solução, promovendo uma economia rural mais circular e regenerativa. Para isso, é necessário integrar ciência, política e prática. O avanço depende de pesquisas aplicadas, de marcos regulatórios adequados e de políticas públicas que estimulem o uso de bioinsumos. Também requer a valorização do conhecimento local e o fortalecimento da extensão rural, de modo que produtores de diferentes escalas — inclusive os pequenos — possam acessar e aplicar essas tecnologias de forma viável.

Entre os principais desafios estão a lentidão dos processos de registro de bioinsumos, o custo inicial de adoção e a necessidade de estrutura para produção e distribuição em escala. Há ainda a urgência de criar mecanismos financeiros que incentivem práticas regenerativas e reconheçam o valor do solo saudável como ativo ambiental. Apesar disso, os ganhos potenciais superam os obstáculos. Ampliar o uso de biossoluções pode reduzir drasticamente as emissões ligadas à produção agrícola, melhorar a qualidade e a produtividade das terras, diversificar rendimentos e fortalecer a posição do Brasil como referência mundial em agricultura sustentável.
A série “Biossoluções para uma Agricultura de Baixo Carbono” se propõe, portanto, a ser mais do que uma agenda técnica: é um movimento estratégico de transformação. Ao conectar ciência, negócios e políticas públicas, oferece um caminho concreto para que a agricultura brasileira avance em direção a um modelo produtivo capaz de alimentar o mundo sem degradar o planeta. No horizonte da COP30, essas discussões representam uma oportunidade rara de fazer do campo não apenas um espaço de produção, mas também um agente ativo na reconstrução do equilíbrio climático.
Agenda
Webinar “A ciência de ampliar o uso de biossoluções para a saúde do solo e a ação climática” (Science of Scaling Biosolutions for Soil Health and Climate Action)
Data: 30 de setembro de 2025 (terça-feira)
Horário: 10h30 às 12h (Horário de Brasilia)
Inscrições: events.cgiar.org/









































