A COP30, conferência da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), marcará um ponto de virada na história das negociações climáticas. Pela primeira vez sob presidência brasileira, o encontro de 2025 em Belém traz um modelo de governança mais inclusivo e voltado à escuta social, simbolizando uma tentativa de reaproximar a política climática da vida real das pessoas.
Desde sua criação em 1995, a COP mantém um formato semelhante, reunindo os 198 países que compõem a Convenção e uma crescente presença da sociedade civil. Mas, ao longo dos anos, a estrutura evoluiu para incorporar novos atores e temas — da diplomacia à economia verde, da inovação tecnológica à justiça climática. Em 2025, o Brasil inova ao propor um formato que combina protagonismo político com participação popular, abrindo novas formas de diálogo entre governos, cientistas, empresas, povos tradicionais e juventudes.
A presidência brasileira e a nova arquitetura da COP30
O embaixador André Corrêa do Lago, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Itamaraty, foi designado presidente da COP30. Sua missão será conduzir negociações complexas e mediar posições divergentes entre países com interesses muitas vezes opostos. O papel da presidência é, antes de tudo, diplomático: criar pontes, garantir equilíbrio e buscar consensos em torno de metas comuns.
A estrutura sob o comando brasileiro está organizada em quatro eixos principais. O primeiro é a Cúpula de Chefes de Estado, que reunirá líderes mundiais em Belém nos dias 6 e 7 de novembro. Embora não tenha caráter deliberativo, o encontro deve definir o tom político das negociações que seguirão na conferência.
O segundo eixo é o das negociações oficiais, concentradas na chamada Blue Zone — espaço onde os delegados dos países debatem compromissos e metas que, posteriormente, se traduzem em decisões internacionais.
O terceiro eixo é a Agenda de Ação, criada em 2015, durante a COP21 de Paris. Ela amplia o foco das discussões, incluindo iniciativas voluntárias de governos locais, empresas, cidades e comunidades. Na COP30, essa agenda ganha uma dimensão estratégica: serão apresentados planos de aceleração com base no Primeiro Balanço Global (GST-1) — um mecanismo que avalia o progresso coletivo desde o Acordo de Paris e define novos rumos para a ação climática.
O quarto eixo é o da mobilização social, que busca envolver a sociedade no debate. O Brasil criou o Mutirão Global, uma ampla rede de diálogo e engajamento para aproximar o processo decisório das pessoas e movimentos que atuam diretamente nos territórios.

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Direção executiva e nova dinâmica de escuta social
A coordenação executiva da conferência está sob responsabilidade de Ana Toni, secretária nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Sua função é articular o diálogo com a sociedade civil e garantir que as múltiplas vozes — de organizações, comunidades e setores produtivos — encontrem espaço dentro do processo oficial. Essa é uma das inovações centrais da COP30: transformar o evento de cúpula em um ecossistema de participação contínua, em vez de um fórum restrito a diplomatas.
Outro destaque são os Campeões Climáticos, representantes nomeados pela UNFCCC para conectar governos, empresas e sociedade. O Brasil indicou o empresário Dan Ioschpe como Campeão de Alto Nível e Marcele Oliveira como Campeã da Juventude do Clima — ambos responsáveis por impulsionar ações práticas e ampliar o engajamento de jovens e lideranças locais.
Círculos e conselhos: inovação institucional brasileira
Entre as principais novidades estruturais estão os Círculos Temáticos, criados pelo Brasil para ampliar a colaboração entre diferentes setores. Esses grupos — liderados por ministros e articuladores — têm a missão de propor soluções concretas e apresentar resultados diretamente à Presidência da COP30.
Entre eles estão o Círculo de Balanço Ético Global, o Círculo de Ministros de Finanças (voltado ao mapa do caminho de Baku a Belém), o Círculo de Povos, e o Círculo de Presidentes de outras COPs, que promove a troca de experiências entre ex-presidências da conferência.
Complementando essa estrutura, foram instalados quatro conselhos estratégicos: de Adaptação, Científico, de Economistas e de Inovação Tecnológica e Inteligência Artificial. Cada um deles reúne especialistas convidados para oferecer recomendações de alto nível sobre políticas climáticas e caminhos de transição justa.
Um modelo de governança em rede
Com 29 enviados nacionais e internacionais, a COP30 se consolida como a edição mais participativa da história. O formato brasileiro aposta na escuta, na transparência e na construção coletiva de soluções — um desenho que reflete o papel do país como mediador global e potência ambiental.
Mais do que um evento, a conferência em Belém quer se tornar um marco político e simbólico: a transição de uma diplomacia climática centralizada para uma diplomacia de colaboração, onde a Amazônia é cenário e metáfora de uma nova forma de pensar o planeta.








































