Roraima amplia rede de escolas indígenas com apoio do FNDE e mobilização de lideranças locais


Em Roraima, um encontro realizado nesta terça-feira (30) entre lideranças indígenas, representantes da Secretaria de Educação e Desporto de Roraima (Seed), do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e de diversas organizações do movimento indígena marcou um passo decisivo para o fortalecimento da educação escolar indígena no estado. A reunião teve como pauta principal o avanço das obras de construção e reforma de escolas nas comunidades, tema que há anos mobiliza reivindicações das populações originárias.

Foto: povo Kawaiwete/Kayabi

A iniciativa partiu do Conselho Indígena de Roraima (CIRR), que solicitou a audiência com o objetivo de esclarecer os prazos e a execução dos investimentos previstos. Participaram também representantes da Organização dos Professores Indígenas de Roraima (Opirr), da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), do Movimento de Mulheres Indígenas, além de tuxauas, gestores escolares e técnicos do FNDE.

O encontro coincidiu com mais uma edição do projeto “FNDE Chegando Junto”, iniciativa que percorre os estados brasileiros para oferecer assistência técnica a gestores públicos sobre programas federais de infraestrutura e financiamento da educação básica.

Durante a reunião, o secretário estadual de Educação, Mikael Cury-Rad, apresentou um panorama detalhado das obras previstas em Roraima: serão 22 escolas indígenas reformadas ou construídas, o que coloca o estado como o segundo com maior número de projetos aprovados no país. “Esses investimentos representam não apenas a melhoria da estrutura física das escolas, mas também o reconhecimento da importância da educação indígena para o desenvolvimento do nosso estado”, afirmou.

Segundo dados do FNDE, Roraima foi contemplado com R$ 8,3 milhões em investimentos, provenientes de emendas parlamentares da ex-deputada federal Joênia Wapichana e contrapartida do governo estadual. Ao todo, o fundo federal aprovou 165 projetos em todo o Brasil, voltados à reforma, ampliação e construção de prédios escolares, priorizando áreas rurais e comunidades indígenas.

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Foto: Ag. Roraima

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A gerente de projetos do FNDE, Geziene Albernaz, destacou que parte dos recursos havia sido paralisada em gestões anteriores e agora será retomada. “Nosso foco é destravar obras essenciais que atendam diretamente às comunidades. Queremos garantir que o máximo desses projetos saia do papel ainda no próximo ano”, afirmou.

A mobilização das lideranças indígenas foi fundamental para impulsionar a retomada das obras. O CIRR e a OPIRR vêm alertando há anos para a precariedade das escolas nas terras indígenas, muitas delas sem infraestrutura adequada para o atendimento às crianças. Em regiões de difícil acesso, há unidades que funcionam em estruturas improvisadas, com materiais insuficientes e problemas logísticos que dificultam o calendário letivo.

A partir desse cenário, o diálogo com o FNDE é visto como um avanço institucional importante. Ao abrir espaço para a participação direta das lideranças, o governo busca alinhar a execução das obras às demandas das próprias comunidades, respeitando as especificidades culturais e territoriais de cada povo.

Entre as escolas contempladas estão unidades localizadas em municípios como Bonfim, Cantá, Alto Alegre, Amajari, Normandia, Uiramutã e Boa Vista Rural, abrangendo diversas etnias e microrregiões. Algumas delas, como a Escola Estadual Indígena Índio Dionísio Figueiredo e a Escola Marechal Cândido Rondon, são referências comunitárias que há décadas aguardam por revitalização.

As reformas e construções deverão contemplar salas adaptadas, bibliotecas, espaços multiuso e sistemas sustentáveis de energia e água, seguindo padrões atualizados de acessibilidade e conforto ambiental.

Para o movimento indígena, as melhorias na rede física das escolas representam apenas uma etapa de um processo mais amplo de valorização da educação intercultural. “A estrutura é importante, mas queremos também fortalecer o currículo, a formação de professores indígenas e o ensino das línguas nativas”, pontuou uma representante da OPIRR durante a reunião.

O fortalecimento da educação indígena em Roraima reflete uma tendência nacional: o reconhecimento de que o acesso à educação de qualidade em territórios tradicionais é parte essencial da garantia de direitos constitucionais e do enfrentamento das desigualdades históricas.

Ao fim do encontro, ficou acordado que Seed, FNDE e as lideranças indígenas continuarão o diálogo técnico e político, acompanhando o cronograma das obras e a execução dos recursos. Mais do que uma pauta de infraestrutura, a reunião simbolizou um compromisso coletivo com o futuro da educação indígena em Roraima — um campo onde cada escola construída é também um gesto de reparação, autonomia e esperança.