Yellow Zones ampliam debate climático nas baixadas


As Yellow Zones prometem dar um novo tom à COP30, que será realizada em Belém. O programa, criado pela COP das Baixadas — uma coalizão formada por dez organizações que atuam em territórios periféricos —, leva o debate sobre as mudanças climáticas aos bairros populares da capital paraense, aproximando o discurso global das realidades locais.

Divulgação - @Guetohub

As “zonas amarelas” são espaços comunitários e culturais onde moradores se reúnem para discutir os impactos do clima em seu cotidiano, como enchentes, calor extremo e precariedade urbana. A iniciativa nasceu em 2024, após duas edições da COP das Baixadas, dedicadas à educação climática e ao debate sobre o Acordo de Escazú, e agora se consolida como exemplo inédito de participação popular dentro da agenda climática internacional.

A periferia como centro do debate climático

A chegada das Yellow Zones à conferência representa um movimento inédito de descentralização da COP30, levando a pauta climática para além das áreas oficiais da chamada Blue Zone. Em Belém, oito espaços comunitários foram transformados em polos de debate e ação socioambiental, espalhados por bairros como Jurunas, Vila da Barca, Icoaraci, Águas Lindas e Cremação.

“Queremos que as periferias que sediam a conferência se vejam incluídas nesse novo mundo, com justiça social e reparação”, afirma Jean Ferreira, do coletivo Gueto Hub, um dos polos do projeto, ao lado do EcoAmazônias, também no Jurunas.

Segundo Ruth Ferreira, integrante dos dois coletivos, a iniciativa tem como base o fortalecimento das comunidades na busca por soluções práticas — desde infraestrutura básica até geração de emprego e cultura —, conectando o cotidiano das periferias à agenda global do clima.

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Divulgação – @yellowzones

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Educação, cultura e mobilidade sustentável

Cada Zona Amarela tem um programa próprio de atividades, moldado às características e desafios de seu território. No Gueto Hub, estão previstas rodas comunitárias sobre práticas tradicionais, oficinas de memória cultural e conversas sobre luta territorial e crise climática. Já o EcoAmazônias realiza oficinas de arte e ecologia, ensinando práticas como composteiras e o uso de ecotijolos, e trilhas educativas voltadas a crianças e adolescentes.

O tema da mobilidade urbana também entra em pauta por meio do coletivo Paraciclo, premiado cinco vezes com o Prêmio Bicicleta Brasil pelo projeto Perifa na Pista, que incentiva o uso da bicicleta nas periferias. “Queremos maior apoio à mobilidade ativa e sustentável, que reduza a poluição e amplie o direito à cidade”, defende Ruth Costa, diretora-financeira do grupo.

Como parte das ações, o coletivo organiza uma Bicicletada Manifesto no dia 15 de novembro, com ciclistas de todo o país. O trajeto de 20 quilômetros — de Águas Lindas até o ponto de partida da Marcha Mundial pelo Clima — será um ato simbólico em defesa da mobilidade inclusiva e do enfrentamento à crise ambiental.

Cultura como ferramenta de transformação

Na comunidade ribeirinha Vila da Barca, uma das maiores sobre palafitas do país, o projeto Barca Literária cria uma biblioteca itinerante para incentivar a leitura e o protagonismo infantojuvenil. Em Icoaraci, o coletivo Chibé desenvolve o Laboratório Narrativo Entrando no Clima, voltado à educação climática de jovens da rede pública, estimulando a produção de reportagens e conteúdos sobre ações locais.

Essas experiências mostram que o debate climático ganha força quando parte das margens. As Yellow Zones tornam visível o papel das periferias como sujeitos ativos da transição ecológica, e não apenas como vítimas da crise.

A programação completa está disponível no site oficial yellow-zone.org e no canal da iniciativa no YouTube.

Legado comunitário da COP30

Mais do que eventos paralelos à conferência, as Yellow Zones pretendem deixar um legado permanente em Belém: formação de lideranças locais, fortalecimento de coletivos e mobilização contínua em torno da pauta climática.
Enquanto a diplomacia discute metas de carbono, as periferias da cidade mostram que justiça ambiental também passa por saneamento, transporte, moradia e cultura.

Com iniciativas como essa, a COP30 ganha um novo contorno — menos distante e mais enraizado —, onde o futuro do clima começa nas baixadas.