Enquanto os pavilhões da COP30 se espalham por Belém, o clima de expectativa se mistura a um emaranhado de siglas e expressões que moldam o futuro das negociações ambientais. O inglês é a língua oficial da conferência, mas o verdadeiro idioma que conecta líderes, ativistas e cientistas é o da urgência climática — e compreender seus termos é compreender o que está em disputa no planeta.

A Conferência das Partes é o grande fórum global que, desde 1995, reúne países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Criada na Rio-92, ela definiu um princípio central: o de responsabilidades comuns, porém diferenciadas, reconhecendo que as nações historicamente mais poluentes devem liderar a redução das emissões.
Desde então, cada COP busca traduzir essa lógica em compromissos concretos. O Acordo de Paris, firmado na COP21 de 2015, foi um marco: reuniu esforços para limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Essa meta deu origem à chamada Missão 1,5, que se tornou símbolo de esperança e também de cobrança sobre os países que ainda resistem à transição energética.
Mas o caminho até Belém é repleto de lacunas. O Livro de Regras de Paris, elaborado na COP24 em Katowice, buscou operacionalizar o acordo, definindo como medir, relatar e revisar metas. Entre os mecanismos mais debatidos está o Artigo 6, que cria as bases para um mercado global de carbono, permitindo que países e empresas compensem emissões através de créditos ambientais — uma ferramenta promissora, mas ainda envolta em disputas sobre transparência e integridade climática.
Justiça e responsabilidade compartilhada
A Justiça Climática tornou-se um conceito-chave nas últimas conferências. Mais do que uma questão ambiental, trata-se de um debate ético e social: como garantir que a transição para economias de baixo carbono não reproduza desigualdades históricas? Países em desenvolvimento, especialmente do Sul Global, defendem que o financiamento climático deve ser ampliado e previsível.
Esse compromisso aparece na Nova Meta Quantificada Global de Finanças Climáticas (NCQG), acordada na COP29 em Baku, que pretende elevar os recursos disponíveis de 300 bilhões a 1,3 trilhão de dólares até 2035. Esses valores seriam destinados à adaptação e mitigação em países mais vulneráveis.
Na prática, isso significa viabilizar políticas de adaptação climática — como sistemas de drenagem urbana, reflorestamento e agricultura sustentável — e também ações de mitigação, que buscam reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE), como o dióxido de carbono (CO₂) e o metano (CH₄).

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Balanços, metas e transparência
Outro instrumento essencial é o Global Stocktake (GST), o balanço global que avalia o cumprimento das metas do Acordo de Paris. O primeiro relatório, apresentado na COP28 em Dubai, revelou um cenário preocupante: o mundo ainda está distante de alcançar o limite de 1,5°C.
A cada cinco anos, cada país deve atualizar suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) — planos que detalham como cada nação pretende reduzir suas emissões. O Brasil, por exemplo, submeteu sua terceira versão em 2024, estabelecendo uma redução entre 59% e 67% até 2035 e a neutralidade de carbono até 2050, segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
Esses dados integram os Relatórios Bienais de Transparência (BTRs), documentos obrigatórios que permitem avaliar a coerência entre o discurso e a prática. É o equivalente a uma auditoria climática internacional — fundamental para manter a confiança entre as partes.
De Bonn a Belém: uma rota de esperança
Antes de cada COP, os negociadores se reúnem na Conferência de Bonn (SB60), um espaço técnico na Alemanha onde são alinhados pontos críticos. De lá saiu o chamado Mapa do Caminho de Baku a Belém, que delineia a rota para consolidar os novos mecanismos financeiros e garantir o avanço da Troika climática, uma aliança entre os Emirados Árabes Unidos, o Azerbaijão e o Brasil — países que presidem as COPs 28, 29 e 30 — comprometidos em manter viva a ambição da Missão 1,5°C.
Ao longo dessas três décadas, a agenda climática se expandiu muito além dos muros das negociações diplomáticas. Hoje, termos como perdas e danos, sumidouros de carbono e ponto de não retorno deixaram de ser jargões técnicos para se tornarem metáforas do nosso tempo: a linha tênue entre o colapso e a regeneração.
A COP30, em Belém, não é apenas uma conferência — é um convite a traduzir esse vocabulário em ação concreta, combinando ciência, solidariedade e vontade política para redesenhar o futuro comum da humanidade.







































