Quando o vento virou tempestade em Rio Bonito do Iguaçu, no interior do Paraná, o tempo parecia ter parado. Em poucos minutos, o céu desabou sobre casas, escolas e memórias. O tornado, com ventos que superaram 330 km/h, deixou um rastro de destruição e uma cidade inteira em estado de choque. Agora, o que se vê nas ruas é o início de uma reconstrução que vai além do concreto — é um esforço coletivo para restabelecer a vida.

Seu José Sabatino Filho, de 89 anos, ainda tenta compreender o que aconteceu. “Foi questão de um minuto. Só ouvi o estouro, e começou a cair tudo”, contou, apontando para o terreno onde antes ficava sua casa. No quintal, restam telhas quebradas e o silêncio de quem sobreviveu por pouco. Atrás da antiga residência, outras cinco casas foram completamente destruídas.
O relato de José se repete em dezenas de famílias. O impacto do tornado, que atingiu o município em 9 de novembro, foi um dos mais severos já registrados no estado. Segundo a Defesa Civil do Paraná, centenas de moradias foram destruídas parcial ou totalmente, e mais de 1,3 mil pessoas já se cadastraram para receber auxílio emergencial.
Entre as vítimas indiretas da tragédia está Cleiton Wieczorkovski, que voltava de Laranjeiras do Sul quando percebeu que o posto de combustível na entrada da cidade havia sido arrancado do chão. “Quando vi o redemoinho preto passando, entendi que minha casa tinha ido junto. Não havia nada a fazer”, lembra.
Ruínas e reconstrução
Em meio ao cenário de entulho, um dos símbolos da destruição foi o ginásio do principal colégio estadual da cidade. A estrutura metálica, completamente retorcida, virou metáfora do impacto da natureza sobre a infraestrutura local. Ao lado, o Colégio Estadual Rio Bonito do Iguaçu também ficou em ruínas.
Mas a reconstrução já começou. Uma força-tarefa conjunta entre o Governo do Estado do Paraná e a prefeitura prevê que as aulas sejam retomadas até fevereiro de 2026. A reforma da escola tem início imediato, enquanto a recuperação do ginásio ocorrerá em uma segunda etapa. O objetivo é garantir condições básicas para professores e alunos retomarem as atividades.
Enquanto máquinas e caminhões limpam os escombros, um outro movimento se espalha: o da solidariedade. Pontos de arrecadação foram montados por toda a cidade, recebendo desde produtos de higiene e água potável até protetor solar para os voluntários que trabalham sob o sol forte.

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Corrente humana de apoio
Entre as voluntárias, Simone Regina Cosseau coordena um dos centros de doação. “As pessoas pedem muito produtos de limpeza, baldes, vassouras, e fraldas grandes. Também pedem protetor solar — quem está nas ruas reconstruindo precisa se proteger”, explica. A mobilização, segundo ela, tem sido espontânea, com doações vindas de cidades vizinhas.
De Cascavel e outros municípios da região, caminhões chegam com mantimentos e ferramentas. O apoio institucional também cresce: a 15ª Brigada de Infantaria do Exército Brasileiro montou dez barracas no centro da cidade para abrigar famílias e equipes de resgate, especialmente diante da previsão de chuvas para os próximos dias.
Um futuro a reconstruir
Rio Bonito do Iguaçu tenta agora equilibrar o trauma com a esperança. O município, que antes era conhecido pela tranquilidade e pela agricultura familiar, se vê desafiado a renascer. A solidariedade e o apoio entre vizinhos se tornaram o combustível da reconstrução.
O poder público trabalha para acelerar o repasse de recursos e reconstruir as infraestruturas críticas, mas o verdadeiro alicerce está nas mãos das pessoas comuns — aquelas que, mesmo diante do caos, se organizam para varrer os destroços e reconstruir não apenas suas casas, mas a confiança em recomeçar.
Como diz seu José, olhando o terreno vazio onde antes havia um lar: “A casa a gente levanta de novo. O importante é que a gente está vivo.”














































