Mapas estratégicos guiam nova fase da restauração no Brasil


O Brasil anunciou um marco que reposiciona o país no centro da agenda global de restauração ecológica. Segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), já são 3,4 milhões de hectares em recuperação de vegetação nativa, resultado direto do esforço coordenado do Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa, o Planaveg. O número representa quase um terço da meta nacional de restaurar 12 milhões de hectares até 2030, e sinaliza uma virada concreta na forma como o país enfrenta o colapso climático, a degradação dos solos e o declínio da biodiversidade.

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O anúncio foi feito durante o encontro Agenda Restaura Brasil – Conectando Convenções, Impactando Pessoas e Natureza, realizado na COP 30, em Belém. No evento, o MMA apresentou o conjunto de políticas, parcerias internacionais e mecanismos financeiros que têm dado sustentação ao avanço da restauração em todos os biomas. Trata-se de um movimento que integra ciência, governança territorial e participação social para transformar a recuperação da vegetação nativa em política de Estado — permanente, contínua e mensurável.

O avanço divulgado é fruto de um grande esforço de mapeamento conduzido pelo MMA no âmbito da Comissão Nacional para a Recuperação da Vegetação Nativa (CONAVEG), em parceria com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e com a aliança União pela Restauração, formada pelas organizações CI-Brasil (Conservation International), TNC Brasil (The Nature Conservancy), WRI Brasil (World Resources Institute) e WWF-Brasil (World Wide Fund for Nature). O trabalho integrou diferentes bases e sistemas de monitoramento, produzindo a leitura mais completa já feita sobre restauração ecológica nos biomas brasileiros.

Para a secretária de Biodiversidade, Florestas e Direitos Animais do MMA, Rita Mesquita, o país vive uma mudança de trajetória. Ela destaca que grande parte das áreas recuperadas corresponde a vegetação secundária em regeneração — florestas que se recompõem espontaneamente quando as pressões diminuem e a governança ambiental melhora. Esse processo natural, quando protegido, se torna um dos caminhos mais eficientes e de baixo custo para gerar escala em restauração.

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O levantamento mostra que os 3,4 milhões de hectares mapeados se distribuem entre Terras Indígenas, Unidades de Conservação, propriedades privadas e áreas sob instrumentos de responsabilização ambiental. No caso das Áreas de Preservação Permanente (APPs), Áreas de Uso Restrito (AUR) e Reservas Legais, o cômputo considera exclusivamente áreas de imóveis com Cadastro Ambiental Rural validado, garantindo segurança jurídica e alinhamento ao Código Florestal.

De acordo com Thiago Belote, diretor do Departamento de Florestas do MMA, os dados atestam que a restauração deixou de ser promessa e entrou definitivamente no domínio das políticas públicas com rigor técnico, rastreabilidade e amplitude territorial.

Durante o evento, o MMA apresentou ainda o primeiro mapa de áreas prioritárias para restauração na Amazônia, validado pela Câmara Consultiva Temática do Planaveg. A seleção considera critérios como biodiversidade, clima, água, geração de empregos, custo-efetividade e uso do solo. Os demais biomas terão seus mapas finalizados até meados de 2026, compondo um Sistema Nacional Unificado de Monitoramento.

O governo também destacou três frentes que estruturam a agenda de longo prazo. A primeira é a garantia de permanência da vegetação secundária, com reforço aos Planos de Prevenção e Controle do Desmatamento (PPCDs) e à implementação integral do Código Florestal. A segunda é a ampliação de mecanismos financeiros inovadores, combinando recursos públicos, privados e internacionais em modelos de blended finance para diminuir riscos e atrair investimentos. A terceira envolve iniciativas que aceleram a capacidade de transformação, como o Fundo Tropical das Florestas (TFFF), o fortalecimento de cadeias produtivas da restauração e o desenvolvimento de territórios prioritários.

O marco dos 3,4 milhões de hectares demonstra que a restauração não é tema periférico, mas sim uma oportunidade concreta de estruturar uma nova economia baseada na regeneração. Os avanços foram possíveis graças ao trabalho conjunto de governos, organizações ambientais, comunidades tradicionais, produtores rurais e setor privado. A expectativa agora é ampliar esse esforço até cumprir a meta de 12 milhões de hectares em 2030 — e consolidar o Brasil como referência global na reconstrução de paisagens resilientes, produtivas e inclusivas.