A ciência conseguiu, em 2025, algo que por décadas parecia impossível: detectar um tsunami ainda em alto-mar, praticamente no momento em que ele se formava. A conquista marcou um avanço decisivo em sistemas de alerta precoce e mostrou que a atmosfera pode funcionar como um imenso sensor natural para identificar perturbações provocadas por ondas gigantes antes que elas alcancem o litoral.

O episódio que colocou essa tecnologia à prova ocorreu no verão de 2025, quando um terremoto de magnitude 8,8 atingiu a costa leste da península de Kamchatka, na Rússia. Em segundos, a movimentação brusca do fundo do oceano desencadeou um tsunami que cruzava o Pacífico a mais de 600 quilômetros por hora. Alarmes foram acionados em diversos países, e milhões de pessoas receberam ordens de evacuação. No Japão, mais de dois milhões de habitantes deixaram suas casas.
Mas o fenômeno despertou mais do que preocupação. À medida que as ondas avançavam pelo oceano, elas deslocavam quantidades colossais de água, movimentação suficiente para gerar ondulações na atmosfera bem acima do mar. Essas perturbações atingiram a ionosfera, camada carregada eletricamente que envolve a Terra, modificando temporariamente sua densidade e interferindo nos sinais transmitidos por sistemas globais de navegação via satélite.
Foi nesse instante que uma tecnologia recém-implementada tornou-se protagonista. Na véspera do terremoto, a agência espacial dos Estados Unidos, a Nasa, havia integrado um módulo de inteligência artificial ao seu sistema de alerta de desastres, batizado de Guardian. O sistema cruzava dados de sinais de rádio de satélites e identificava, em tempo real, mudanças atmosféricas provocadas por eventos extremos.
Vinte minutos após o tremor em Kamchatka, o Guardian já havia alertado especialistas sobre a direção das ondas e a aproximação do tsunami ao Havaí, com até 40 minutos de antecedência — um intervalo precioso em casos de risco elevado. Felizmente, as ondas chegaram com força moderada, atingindo até 1,7 metro, sem causar danos significativos. Ainda assim, a experiência demonstrou que a tecnologia pode salvar vidas em cenários mais críticos.

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A base dessa abordagem reside numa característica fundamental dos tsunamis: embora suas ondas possam ter apenas dezenas de centímetros de altura em mar aberto, elas deslocam volumes enormes de água. O movimento vertical do oceano, mesmo sutil, empurra a atmosfera para cima, criando “ondas” invisíveis que se propagam até centenas de quilômetros acima da superfície. Essas ondulações alteram a distribuição de elétrons na ionosfera, interferindo na velocidade dos sinais enviados por satélites de GPS às antenas terrestres.
Pesquisadores que estudam o comportamento da atmosfera superior, como especialistas da University of Michigan e da Embry-Riddle Aeronautical University, já sabiam que esses sinais sofriam perturbações naturais. Mas a percepção de que essa interferência poderia servir como um alerta ultrarrápido para tsunamis representou uma guinada. O Guardian consolidou anos de trabalhos experimentais conduzidos por equipes da Nasa e do Jet Propulsion Laboratory (JPL).
Até então, as principais ferramentas globais de detecção precoce eram as boias do sistema DART, operado pela NOAA. As boias são precisas, mas limitadas ao local onde estão instaladas. Já a ionosfera cobre todo o planeta e pode oferecer uma visão ampla, contínua e em tempo real.
Especialistas enfatizam que o maior potencial dessa tecnologia está no tempo adicional que pode oferecer às comunidades distantes do epicentro. No tsunami devastador de 2004, por exemplo, ondas levaram duas horas para atingir o Sri Lanka e sete horas até alcançar a Somália. Esse intervalo, se monitorado com sistemas como o Guardian, poderia permitir evacuações mais organizadas e reduzir tragédias.
A Europa também desenvolve seu próprio sistema de monitoramento atmosférico, coordenado por pesquisadores do Institut de Physique du Globe de Paris. A expectativa é que ele comece a ser testado em breve, com foco especial em regiões vulneráveis como o Oceano Índico.
Embora o Guardian ainda esteja em evolução, seus criadores vislumbram etapas mais ousadas: prever automaticamente o comportamento das ondas, estimar sua altura final e calcular o momento exato de impacto em diferentes trechos do litoral. A cada dez minutos, novos cálculos poderiam gerar simulações atualizadas, oferecendo uma capacidade inédita de antecipação.
O sistema, no entanto, não substitui completamente métodos tradicionais. Como a ionosfera pode levar alguns minutos para reagir ao deslocamento das ondas, comunidades muito próximas ao epicentro ainda dependem de sensores sísmicos clássicos. Mesmo assim, pesquisadores concordam que o monitoramento atmosférico representa um salto tecnológico — e que, diante de tsunamis capazes de atravessar oceanos inteiros, minutos extras podem significar milhares de vidas salvas.













































