O desafio de garantir educação de qualidade às comunidades indígenas mais isoladas do país ganhou um novo impulso em Roraima. O Governo do Estado, por meio da Secretaria de Educação e Desporto de Roraima (Seed), firmou uma parceria com a Força-Tarefa coordenada pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), com o objetivo de assegurar que estudantes da Terra Indígena Yanomami recebam, de forma contínua e estruturada, alimentação escolar, materiais pedagógicos e insumos básicos para o funcionamento das escolas estaduais em regiões de acesso exclusivamente aéreo.

A iniciativa, formalizada em encontro na manhã de sexta-feira, 28, simboliza mais que um acordo administrativo: é um movimento para superar um dos maiores gargalos da educação indígena no país — a logística extrema da maior terra indígena do Brasil, onde deslocamentos podem levar horas de voo, e a chegada de suprimentos depende exclusivamente de aeronaves autorizadas.
O coordenador da Força-Tarefa Yanomami, Ivo Macuxi, foi recebido pelo secretário adjunto de Gestão do Sistema Educacional, Edson Mendonça, para definir as ações conjuntas, que já começam a ser planejadas para o ano letivo de 2026. A operação, que envolve rotas aéreas regulares mantidas pela Funai, contará agora também com transporte de merenda escolar, kits de material didático e fardamento, além de equipamentos diversos destinados às unidades de ensino.
Segundo Mendonça, integrar a estrutura logística da Funai ao planejamento da Seed significa aproximar a política educacional do cotidiano das comunidades, reduzindo falhas no abastecimento e garantindo maior previsibilidade. “A parceria nos ajuda principalmente na região de área de voo, onde não há acesso por estrada. Aproveitar os voos já existentes da Fundação é fundamental para assegurar que a alimentação escolar chegue no tempo certo e que as escolas funcionem com dignidade”, explicou.
Ele lembrou que o compromisso do Governo de Roraima é atender todas as escolas estaduais, sem distinção, o que inclui as 22 unidades indígenas localizadas dentro da Terra Yanomami — um território cuja extensão, dispersão populacional e complexidade geográfica criam obstáculos logísticos que poucos estados brasileiros enfrentam. “Garantir merenda, material escolar, fardamento e infraestrutura adequada é garantir segurança alimentar e permanência do estudante em sala de aula”, completou.
Ivo Macuxi destacou que a Força-Tarefa Yanomami nasce de um Termo de Execução Descentralizada firmado entre a Funai e a Fiocruz, reunindo atualmente 78 profissionais. Seu objetivo principal é fortalecer ações de saúde, apoio comunitário e logística para as aldeias, mas a incorporação da agenda educacional amplia o alcance da iniciativa.
Ele explicou que os voos semanais já atendem regiões estratégicas como Auaris, Surucucu, Sauba, Alto e Baixo Mucajaí, Missão Catrimani e Ericó, e que o compartilhamento desse espaço logístico com a Seed permitirá otimizar recursos federais e estaduais. “Se conseguimos enviar medicamentos, suprimentos de saúde e insumos comunitários, também podemos fortalecer a educação enviando merenda, material didático e equipamentos. A parceria potencializa o serviço público”, avaliou.

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A previsão é que toda a rede indígena Yanomami esteja integrada à nova rotina operacional já no início do calendário escolar de 2026. De acordo com o Censo Escolar mais recente, as 22 escolas estaduais da região atendem 1.284 estudantes, que dependem integralmente das ações governamentais para ter acesso à merenda e aos materiais essenciais.
A cooperação entre Seed e Funai revela um entendimento crescente: nenhuma política pública é plenamente eficaz na Terra Yanomami se não estiver ancorada em logística especializada, regularidade de abastecimento e articulação entre diferentes órgãos. A educação, sobretudo em áreas remotas, não se sustenta apenas com professores e currículo; exige presença do Estado em seu sentido mais amplo — transporte, alimentação, material, infraestrutura e acompanhamento contínuo.
O acordo também aponta para uma mudança de postura institucional. Em vez de ações fragmentadas, cada qual em sua estrutura, governo estadual e órgãos federais reconhecem que compartilhar voos, equipes, rotas e planejamento é uma forma de garantir que as escolas indígenas funcionem dentro de padrões mínimos de dignidade, apesar da distância geográfica e das dificuldades de deslocamento.
A Terra Yanomami carrega emergências históricas em saúde, nutrição e segurança alimentar, que nas últimas décadas se tornaram mais visíveis ao país. A educação, muitas vezes vista em segundo plano diante de cenários críticos, passa agora a receber tratamento integrado — passo essencial para a autonomia das comunidades e para o futuro das crianças e jovens que dependem da escola para ampliar horizontes sem perder as raízes culturais.
Ao integrar logística, planejamento e responsabilidade compartilhada, a nova parceria posiciona o Estado e a Funai em uma rota mais eficiente, capaz de transformar a rotina escolar em um território onde nada é simples, mas tudo é urgente.















































