A rotina de organização social em comunidades rurais costuma avançar em passos curtos, mas firmes. Em Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém, esse movimento ganhou novo impulso com a iniciativa da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater), que decidiu aproximar agricultores locais de uma experiência bem-sucedida de cooperativismo. No próximo dia 10, vinte produtores da comunidade Bom Jesus, no bairro do Aurá, farão uma imersão na estrutura e no funcionamento da Cooperativa Agropecuária de Benevides (Coopaben), instalada no distrito de Benfica, no município vizinho.

A visita integra a programação da Semana Paraense da Extensão Rural, realizada pela Emater em diferentes regiões do Estado desde o início de dezembro. A agenda especial marca os 60 anos da instituição e também celebra o Dia Nacional do Extensionista Rural, comemorado em 6 de dezembro. Trata-se de um encontro simbólico: enquanto a Emater revisita sua história, aposta em novas articulações para fortalecer a agricultura familiar e ampliar o alcance das políticas públicas no Pará.
No caso da comunidade Bom Jesus, o intercâmbio tem um propósito muito claro: oferecer aos agricultores uma referência concreta sobre como uma cooperativa nasce, amadurece e se sustenta ao longo do tempo. O grupo já atua de forma associativa, mas deseja dar um passo adicional e transformar a articulação informal em uma estrutura cooperativa consolidada — projeto que, por enquanto, atende pelo nome provisório de Cooperativa de Produtores Familiares da Comunidade Bom Jesus (Coopaf-BJ). A Emater acompanha de perto esse processo, orientando desde os trâmites legais até os aspectos organizativos e formativos que moldam um empreendimento coletivo.
Segundo a perspectiva dos extensionistas que atuam em Ananindeua, o prazo estimado para que a cooperativa esteja formalmente constituída é de até dois anos. Não se trata apenas de registrar um novo Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica; é um movimento de preparação interna, aprendizado sobre governança e alinhamento de expectativas entre famílias que compartilham desafios, mas também ambições distintas. Para muitas comunidades rurais, essa etapa é decisiva: marca o momento em que deixam de depender de negociações fragmentadas e passam a acessar políticas públicas com mais força e previsibilidade.
Um exemplo disso são os mercados institucionais, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Esses programas privilegiam a compra direta da agricultura familiar, e a participação coletiva via cooperativas amplia a capacidade de fornecimento, a segurança jurídica dos contratos e o alcance dos produtos no mercado institucional. Para os agricultores de Bom Jesus, que trabalham principalmente com o extrativismo de açaí, o plantio de mandioca e seus derivados, a cooperativa pode significar a entrada em um circuito comercial mais estável e menos dependente da informalidade.

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A visita técnica à Coopaben funciona como um mergulho na prática. A cooperativa de Benevides, atendida há anos pela Emater, já percorreu justamente o caminho que Bom Jesus deseja trilhar. Ver de perto galpões, processos de beneficiamento, formas de gestão e estratégias de comercialização permite entender tanto os acertos quanto as tensões inevitáveis de qualquer organização coletiva. Não é apenas uma demonstração institucional; é um exercício de inspiração.
Para Tangrienne Nemer, engenheira florestal e chefe do escritório local da Emater em Ananindeua, a constituição de uma cooperativa representa um salto qualitativo para qualquer comunidade rural. Ela destaca que a mudança organizativa abre portas, impulsiona oportunidades e amplia a visibilidade das famílias produtoras. O acompanhamento da Emater não se limita ao aspecto técnico; envolve mediação, escuta e apoio contínuo, elementos que geralmente determinam o sucesso ou o fracasso de uma nova cooperativa.
No pano de fundo, essa iniciativa revela algo maior: a busca de agricultores pela autonomia econômica e pela construção de espaços coletivos capazes de negociar em condições mais equilibradas. Em um cenário marcado por oscilações de mercado e desafios logísticos, cooperar é uma forma de resistência, estratégia e esperança. A Semana Paraense da Extensão Rural, ao estimular encontros como esse, reforça a vocação da Emater como articuladora de conexões que transformam realidades.















































