Fundo LIRA investe R$ 6,8 milhões em projetos que movem a sociobiodiversidade da Amazônia


O novo ciclo do Fundo LIRA – Legado Integrado da Região Amazônica — marca um momento decisivo para iniciativas comunitárias que moldam o futuro da floresta com base na sociobiodiversidade. De 2025 a 2026, o fundo, coordenado pelo IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, direciona R$ 6,8 milhões para 53 projetos conduzidos por povos indígenas, comunidades tradicionais, cooperativas e organizações locais em sete estados da Amazônia Legal. Mais do que repassar recursos, a iniciativa alimenta um movimento que defende um princípio simples e profundo: a floresta permanece em pé quando aqueles que a habitam têm condições de prosperar.

Divulgação -LIRA Ciclo

Esse investimento alcança 26 Terras Indígenas, 30 Unidades de Conservação e um território quilombola, irradiando impactos diretos sobre modos de vida que combinam conhecimento ancestral, autonomia comunitária e soluções produtivas inovadoras. A gerente do LIRA/IPÊ, Fabiana Prado, resume o espírito do programa ao lembrar que cada produto da sociobiodiversidade — de um óleo vegetal a uma peça de artesanato — é uma história de cuidado e resistência que dá sustento à própria Amazônia.

Nos territórios apoiados, essa perspectiva ganha contornos concretos. As 20 organizações indígenas beneficiadas, assim como as quatro quilombolas, as 25 comunitárias e as quatro cooperativas, atuam em cadeias de valor variadas, que vão da castanha-do-brasil aos óleos vegetais, do mel ao turismo comunitário, passando pela pesca artesanal, pelo artesanato e pela vigilância territorial. O resultado é um mosaico de economias locais que movem renda, fortalecem governança e ampliam o protagonismo de mulheres e jovens — pilares de uma bioeconomia guiada pelos próprios territórios.

Nas narrativas de quem vive a Amazônia no cotidiano, o impacto do Fundo LIRA aparece de forma ainda mais vívida. No Amapá, a Associação de Mulheres Mãe Venina, do Quilombo do Curiaú, finalmente concretiza um sonho nutrido há quase três décadas: a construção de sua sede própria. A presidente Keila Paixão descreve a conquista como uma virada histórica para o coletivo de mulheres que, há anos, articula produção artesanal e fortalecimento comunitário.

No Maranhão, o apoio do LIRA está dinamizando a economia de comunidades quilombolas que trabalham com suinocultura ecológica e pesca artesanal. Para Dheyiglison, do Quilombo Rumo, o fomento chega como o impulso necessário para ampliar atividades tradicionais e consolidar autonomia econômica.

Na Floresta Nacional do Tapajós, no Pará, a força feminina transforma sementes em independência financeira. As Amélias da Amazônia, representadas por Maria Nelson, apontam que o aumento da produção de óleo de andiroba e o fortalecimento de toda a cadeia socioprodutiva são passos estratégicos para garantir renda e liderança local feminina.

Lira-400x300 Fundo LIRA investe R$ 6,8 milhões em projetos que movem a sociobiodiversidade da Amazônia
Divulgação -LIRA Ciclo

SAIBA MAIS: O Brasil acredita que pode mudar o jogo climático com o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF)

Já no Amazonas, a Cooperativa Coopem celebra a reforma de casas de farinha — estruturas essenciais para a produção de alimentos. Segundo Lucínio, representante da cooperativa, a adequação às normas sanitárias abre portas para novos mercados e políticas públicas, ampliando a estabilidade econômica das famílias produtoras.

No Acre, lideranças indígenas como Maria Valdenice, do povo Nukini, sintetizam o sentimento coletivo ao descrever o LIRA como sinônimo de liberdade — uma forma de autonomia que conecta tradição, território e futuro. Em Rondônia, Adriano Karipuna reforça que o aporte é o que permite manter ações permanentes de monitoramento e oficinas de fortalecimento territorial na Terra Indígena Karipuna.

Essas diversas vozes expressam a essência do Fundo LIRA: um mecanismo de financiamento direto que chega na base, onde a conservação acontece diariamente. Seus recursos impulsionam iniciativas que combinam saber local com inovação, tornando tangíveis avanços em gestão territorial, fortalecimento institucional, geração de renda e valorização cultural. Assim, o fundo se consolida como um modelo de investimento socioambiental que prioriza quem vive na Amazônia — e que compreende que a conservação não pode ser dissociada das pessoas.

O LIRA reúne uma rede de 125 organizações com atuação em cinco estados amazônicos, articulando conhecimento, inovação e políticas públicas para ampliar a conservação da biodiversidade e a resiliência climática. Sua estrutura é viabilizada com apoio do Fundo Amazônia, da Gordon and Betty Moore Foundation, além de parcerias institucionais com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas – Funai, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, a Secretaria do Meio Ambiente do Amazonas – SEMA-AM e o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará – Ideflor-Bio.

Ao abrir este novo ciclo, o Fundo LIRA reafirma um horizonte no qual desenvolvimento e conservação caminham juntos — e onde a Amazônia é vista não apenas como floresta, mas como território vivo, em movimento contínuo, conduzido por quem o conhece em profundidade.