Pesquisa revela como o passado geológico da Amazônia influencia sua biodiversidade


Entendendo a Biodiversidade da Amazônia: Uma Perspectiva Geológica

A Amazônia é uma região notoriamente rica em biodiversidade, mas essa diversidade não é fruto do acaso. Segundo o geólogo André Oliveira Sawakuchi, professor do Instituto de Geociências – IGc-USP, a compreensão do ambiente amazônico exige um olhar atento à geologia. A Amazônia é uma região de grande heterogeneidade, com solos, rios e clima variados que, ao longo de milhões de anos, formaram um mosaico de ambientes que contribuem para a grande quantidade de espécies que lá habitam.

Foto: Artur Warchavchik

No entanto, entender a origem dessa diversidade não é simples. A pesquisa geológica tenta decifrar como esses diferentes ambientes se formaram, muitas vezes muito antes da presença humana, e como evoluíram ao longo do tempo. Para isso, as geociências oferecem ferramentas essenciais, como a paleoclimatologia, que permite reconstituir o clima e os ecossistemas do passado. Essa perspectiva histórica é fundamental para entender o impacto das atividades humanas atuais, como o desmatamento e as emissões de gases, sobre a Amazônia e sua biodiversidade.

O Projeto de Perfuração Transamazônica: Explorando o Passado da Amazônia

Um dos grandes projetos geológicos para estudar a Amazônia é o Projeto de Perfuração Transamazônica. Sua principal motivação é compreender a origem e a diversidade das espécies da região. O projeto propõe acessar o subsolo das bacias sedimentares da Amazônia, considerados verdadeiros “arquivos do passado”, para coletar amostras dos últimos 65 milhões de anos.

O plano original contemplava cinco perfurações continentais e uma oceânica, com o objetivo de extrair dados que pudessem esclarecer como o clima, os rios e a vegetação da Amazônia mudaram ao longo desse período. O financiamento do projeto foi viabilizado por meio de parcerias internacionais, incluindo o ICDP, NSF, Smithsonian e a FAPESP. No entanto, os desafios econômicos pós-pandemia e o aumento dos custos operacionais limitaram o projeto a duas perfurações continentais: uma no Acre, no oeste da Amazônia, e outra no Marajó, no leste.

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Andre Sawakuchi – Reprodução

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Desafios Técnicos e Logísticos: Superando Obstáculos na Perfuração

A perfuração no Acre enfrentou grandes dificuldades logísticas e técnicas. O material do subsolo da região é altamente friável, o que dificultou o avanço da operação. Isso resultou no aprisionamento da coluna de perfuração, um contratempo que prolongou a operação e reduziu a profundidade alcançada. O objetivo inicial era perfurar até 2000 metros, mas o trabalho foi encerrado aos 923 metros, ainda assim produzindo amostras valiosas.

Essas amostras, chamadas de testemunhos, são consideradas sem precedentes e oferecem dados suficientes para décadas de pesquisa sobre a história geológica e climática da Amazônia. Embora o projeto tenha sido impactado por dificuldades imprevistas, as amostras coletadas oferecem uma janela única para compreender o passado remoto da região. Esses dados serão transportados para o repositório da Universidade de Minnesota, uma das poucas instituições que conta com um repositório certificado para armazenar material científico desse tipo, já que o Brasil ainda não possui uma estrutura semelhante.

O Impacto das Atividades Humanas e o Futuro da Biodiversidade Amazônica

Além de estudar o passado, o projeto também examina as interações atuais entre a atividade humana e o meio ambiente. As mudanças climáticas, o desmatamento e as emissões de gases de efeito estufa têm um impacto profundo sobre a biodiversidade da Amazônia. A pesquisa geológica e paleoclimática ajuda a entender melhor como essas atividades estão alterando o equilíbrio da região e acelerando a perda de espécies.

A combinação de dados geológicos históricos com informações sobre o impacto atual das atividades humanas oferece uma perspectiva única sobre o futuro da Amazônia. A preservação de sua biodiversidade depende não apenas de medidas imediatas, como a redução do desmatamento, mas também de um entendimento profundo das mudanças climáticas e geológicas que moldaram essa região ao longo de milhões de anos.