Exposições como linguagem: ciência que se conta em espaços públicos
A ciência nem sempre chega às pessoas pelos caminhos tradicionais dos artigos acadêmicos ou das salas de aula. Em muitos casos, ela se aproxima do cotidiano por meio de experiências sensoriais, narrativas visuais e encontros inesperados em museus e espaços culturais. Foi a partir dessa compreensão que representantes do Science Museum Group, uma das mais influentes alianças de museus de ciência e tecnologia do mundo, iniciaram conversas no Brasil em busca de parcerias para futuros projetos expositivos.

Em 9 de dezembro, dirigentes da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) receberam Sir Ian Blatchford, diretor e executivo-chefe do Science Museum Group (SMG), instituição que reúne alguns dos principais museus científicos do Reino Unido. A reunião teve como foco a troca de ideias sobre modelos de comunicação científica e a possibilidade de cooperação em exposições que possam circular ou ser desenvolvidas em território brasileiro.
A conversa refletiu uma tendência global: levar a ciência para fora dos ambientes especializados e apresentá-la como parte viva da cultura contemporânea, capaz de dialogar com questões urgentes da sociedade.
Combater o negacionismo com conhecimento acessível
Durante o encontro, Blatchford destacou o papel estratégico das exposições científicas na promoção do letramento científico e no enfrentamento do negacionismo. Para ele, temas complexos ganham força quando apresentados de forma clara, contextualizada e baseada em evidências, permitindo que o público construa uma relação mais crítica e informada com o conhecimento científico.
Entre os assuntos apontados como potenciais eixos de futuras exposições no Brasil estão a resistência aos antibióticos, a importância das vacinas e a evolução das pesquisas sobre o câncer. São temas que atravessam o debate público contemporâneo e que, ao mesmo tempo, exigem rigor científico e sensibilidade comunicacional.
A proposta discutida envolve tanto exposições em museus quanto ações em espaços públicos, ampliando o alcance das iniciativas e dialogando com públicos diversos. Esse modelo se alinha à atuação internacional do SMG, conhecido por transformar descobertas científicas em narrativas acessíveis, sem abrir mão da complexidade que caracteriza a ciência.
Participaram da visita ao Brasil Helen Jones e Giovana Zocoli, respectivamente diretora e gerente de Engajamento Global do Science Museum Group, reforçando o interesse institucional em construir parcerias de longo prazo fora da Europa.

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A experiência paulista com museus, acervos e ciência
Do lado brasileiro, a FAPESP apresentou um panorama de suas ações voltadas à valorização de museus, coleções científicas e acervos culturais. O presidente da Fundação, Marco Antonio Zago, ressaltou a importância estratégica dessas iniciativas para a pesquisa, a educação e a preservação do patrimônio científico e artístico.
Entre os exemplos citados está o apoio ao Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP), cuja coleção é considerada uma das mais relevantes da América Latina para o estudo da biodiversidade. Zago também mencionou o financiamento ao Centro de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas do Brasil, desenvolvido em parceria com o Museu da Língua Portuguesa e o Museu de Arqueologia e Etnologia da USP (MAE-USP).
O MAE-USP, aliás, foi destacado pelo valor de suas coleções, especialmente aquelas relacionadas ao patrimônio cultural dos povos indígenas da Amazônia. Esses acervos não apenas preservam memórias e saberes, mas também oferecem material fundamental para pesquisas interdisciplinares e para exposições que dialogam com temas como diversidade cultural, história e ciência.
Essas experiências mostram que o estado de São Paulo já possui uma base sólida para colaborações internacionais no campo da museologia científica, unindo pesquisa acadêmica, infraestrutura cultural e políticas públicas de fomento.
Infraestrutura, cooperação internacional e o futuro das exposições científicas
O diálogo com o Science Museum Group ocorre em um momento em que a FAPESP intensifica investimentos em infraestrutura cultural e científica. Em 2025, a Fundação lançou duas chamadas de propostas no âmbito do Programa de Apoio à Infraestrutura de Pesquisa do Estado de São Paulo (PAIP): uma voltada a Coleções Biológicas e outra dedicada a Acervos Museológicos, Bibliográficos e Arquivísticos.
Essas chamadas reforçam a compreensão de que acervos bem estruturados são essenciais não apenas para a pesquisa científica, mas também para a difusão do conhecimento. Exposições bem concebidas dependem de coleções preservadas, documentação qualificada e equipes capacitadas — elementos que exigem investimento contínuo.
Também participaram da reunião representantes das áreas institucionais da FAPESP, como Raul Machado, gerente da Assessoria de Relações Institucionais, Laura Redondo, assessora da área, e Ana Paula Yokosawa, gerente adjunta de Colaboração em Pesquisa. A presença desse grupo reforça que a aproximação com o SMG é vista como parte de uma estratégia mais ampla de internacionalização e cooperação científica.
Ao buscar parceiros no Brasil, o Science Museum Group sinaliza interesse em construir projetos que dialoguem com realidades locais, valorizem a produção científica brasileira e contribuam para ampliar o acesso público à ciência. Para a FAPESP, a aproximação abre espaço para novas formas de comunicar pesquisa, fortalecer museus e transformar conhecimento em experiência compartilhada.
Mais do que exposições, o encontro aponta para um futuro em que ciência, cultura e sociedade se encontram em narrativas capazes de informar, provocar reflexão e fortalecer o vínculo entre pesquisa e cidadania.



































