Verra anula créditos de carbono da Shell vinculados ao cultivo de arroz na China

Autor: Redação Revista Amazônia

 

O cancelamento dos créditos de carbono da Shell vinculados à agricultura de arroz na China, anunciado pela Verra, principal padrão de créditos de carbono, gerou preocupações sobre a integridade do processo de verificação de reduções de emissões desses projetos.

Esses projetos visavam reduzir as emissões de metano, um gás de efeito estufa, através de mudanças nos métodos de irrigação dos arrozais. No entanto, após uma revisão de 17 meses, a Verra identificou falhas que resultaram na emissão de créditos em quantidades superiores às reduções reais de emissões alcançadas.

Verra impôs “sanções significativas”

Verra impôs, pela primeira vez, “sanções significativas” aos responsáveis pelos projetos e às empresas auditoras encarregadas de certificar suas operações, o que gerou pedidos por reformas mais amplas no mercado de carbono.

Em março de 2023, uma investigação revelou que os projetos da Shell enfrentavam problemas de integridade, como a superestimativa das reduções de emissões. A Shell, que utilizou esses créditos enquanto a Verra conduzia sua investigação, enfrentou críticas por parte de especialistas e ativistas.

Os projetos de arroz da Shell estão entre os 37 esquemas de cultivo de arroz cancelados pela Verra. A principal justificativa foi a falta de evidências suficientes de que as atividades realmente contribuíram para a redução de emissões de metano e a adoção de procedimentos simplificados que permitiram que os desenvolvedores dos projetos evitassem verificações mais rigorosas.

Verra explicou que suspendeu os projetos em fevereiro de 2023 após tomar conhecimento das preocupações, mas, até então, os projetos já estavam ativos há quase dois anos, emitindo milhões de créditos. A organização justificou a aprovação inicial dos projetos citando a evolução dos processos de avaliação e as restrições de viagens impostas pela COVID-19 na China, que dificultaram investigações no local.

A Shell declarou estar “decepcionada” com os problemas identificados e afirmou que trabalharia junto à Verra para entender o impacto das descobertas. Embora a empresa alegue que não gerencia diretamente os projetos, a partir de 2021 ela se tornou a representante autorizada deles, com direitos e responsabilidades equivalentes aos do desenvolvedor original.

Além de utilizar os créditos emitidos pelos projetos, a Shell também os ofereceu para venda a outras empresas. A Petrochina, empresa estatal chinesa de petróleo e gás, adquiriu mais de 300 mil desses créditos antes da suspensão dos projetos.

Especialistas como Gilles Dufrasne, da Carbon Market Watch, criticaram a Shell, afirmando que a empresa não tem credibilidade em ações significativas contra as mudanças climáticas. Além disso, a Verra apontou “falhas graves” no trabalho das empresas auditoras, que têm 15 dias para apresentar um plano de ação para evitar problemas futuros, sob risco de suspensão temporária.

O caso também levantou questões sobre possíveis conflitos de interesse, uma vez que os auditores são contratados e pagos diretamente pelos desenvolvedores dos projetos. Dufrasne sugeriu que a Verra deve reformar urgentemente seu sistema de certificação por terceiros.

A Verra, que já havia proibido o uso da metodologia aplicada aos projetos de arroz, está desenvolvendo um novo conjunto de regras para garantir que os futuros projetos atinjam reduções de emissões de forma confiável e gerem créditos de alta qualidade. No entanto, a nomeação de uma empresa indiana, parte do grupo Shell, para aconselhar nesse processo, gerou novas preocupações sobre possíveis conflitos de interesse.


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