Agro brasileiro busca protagonismo nas negociações da COP30


A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) apresentou um documento estratégico para marcar a presença do setor agropecuário nas negociações da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada entre 10 e 21 de novembro em Belém, no Pará. Intitulado “Agropecuária Brasileira na COP 30”, o material reúne propostas para fortalecer o papel do agro nas discussões internacionais sobre clima e sustentabilidade, com atenção especial à Amazônia.

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A entrega simbólica ocorreu em Brasília, na sede da entidade, durante cerimônia que reuniu lideranças do setor, pesquisadores e autoridades políticas. O documento foi entregue pelo presidente da CNA, João Martins, ao ex-ministro da Agricultura e hoje enviado especial para a COP30, Roberto Rodrigues, à presidente da Embrapa, Sílvia Massruhá, e ao senador Zequinha Marinho, representante do Pará. Também estiveram presentes presidentes de federações estaduais de agricultura e pecuária, reforçando a amplitude da mobilização.

Segundo a CNA, o documento é resultado de uma ampla construção coletiva. Produtores rurais, entidades representativas e especialistas participaram de reuniões da Comissão Nacional de Meio Ambiente para consolidar propostas que buscam orientar negociadores brasileiros em Belém. A meta é dupla: dar voz ao agro dentro do processo diplomático e mostrar como a produção rural pode ser uma aliada decisiva no enfrentamento às mudanças climáticas.

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CNA/Wenderson Araujo/Trilux

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A agricultura como protagonista da transição climática

O texto parte de um princípio central: os produtores rurais precisam ser reconhecidos como atores estratégicos na implementação de soluções climáticas. Para a CNA, a agricultura tropical é parte da resposta imediata aos desafios que o planeta enfrenta e deve ocupar posição de destaque nas negociações.

Entre as propostas, estão a criação de mecanismos financeiros que assegurem crédito acessível, seguros contra eventos climáticos extremos e redução de custos para adoção de tecnologias de baixo carbono. O documento também pede a inclusão efetiva do setor no debate global, por meio do portal do Trabalho Conjunto de Sharm el Sheikh para Agricultura e Segurança Alimentar, espaço criado na COP27 para integrar agricultura às negociações climáticas.

Outro ponto destacado é o aprimoramento do Global Stocktake — mecanismo da ONU para avaliar os avanços no Acordo de Paris —, de modo a torná-lo mais transparente, acessível e comparável entre países. A CNA defende ainda que indicadores de adaptação sejam ajustados às realidades nacionais, reconhecendo soluções típicas da agricultura tropical.

No campo da mitigação, a confederação pede mais objetividade nas negociações e o reconhecimento do potencial da agropecuária brasileira para reduzir emissões. O setor também reivindica participação ativa no mercado de carbono, com regras que recompensem práticas sustentáveis, como recuperação de áreas degradadas e preservação de florestas.

Por fim, o texto chama atenção para a necessidade de uma transição justa. As medidas climáticas devem considerar as diferenças produtivas e socioeconômicas entre países, evitando que agricultores sejam penalizados por critérios que não correspondam às suas realidades.

O legado amazônico

Um capítulo específico trata do impacto da COP30 na Amazônia. A região, que concentra mais de 30 milhões de habitantes, mais de 750 municípios e cerca de um milhão de produtores rurais, é apontada como espaço crucial para conciliar preservação ambiental e desenvolvimento sustentável.

A CNA lista nove recomendações voltadas para o futuro da Amazônia. Entre elas estão a regularização fundiária e ambiental, o combate efetivo ao desmatamento ilegal, a criação de linhas de crédito específicas para os produtores da região e investimentos em logística e energia limpa. A entidade também pede que o agricultor amazônico seja valorizado por sua contribuição à transição climática, reconhecendo sua posição singular no equilíbrio entre produção e conservação.

Uma COP de virada

Ao ocorrer pela primeira vez na Amazônia, a COP30 ganha um simbolismo único. Para a CNA, o encontro em Belém será decisivo para transformar discursos em ações concretas, reconhecendo a agricultura não apenas como parte do problema, mas como parceira indispensável das soluções globais. O setor rural brasileiro, com sua experiência em agricultura tropical e práticas de baixa emissão, quer assumir protagonismo em um debate que moldará o futuro climático do planeta.