Agroflorestas impulsionam inovações financeiras para sustentabilidade

Autor: Redação Revista Amazônia

 

O crescimento das agroflorestas no Brasil está cada vez mais presente em produtos de consumo cotidiano, como cacau, café e outros alimentos que já chegam aos supermercados com um selo de sustentabilidade socioambiental. Em regiões como Rondônia, onde o desmatamento e a crise hídrica são preocupações crescentes, novas soluções de financiamento baseadas em créditos de carbono têm ganhado força. Esses arranjos buscam viabilizar os custos da produção, remunerar pequenos agricultores pelo cultivo de espécies nativas e aumentar a restauração de áreas degradadas.

Agroflorestas como modelos de negócios sustentáveis

Alexis Bastos, coordenador do centro de estudos da ONG Rioterra, localizada em Porto Velho, destaca que “frente às mudanças climáticas, é essencial oferecer alternativas de crédito mais acessíveis para a agricultura familiar, que hoje encontra dificuldades de financiamento nos moldes tradicionais”. Em resposta a esse cenário, surgiu a Aica, uma startup criada como spin-off da Rioterra. A Aica tem como objetivo atrair investimentos privados para a bioeconomia, promovendo impacto social positivo e impulsionando o desenvolvimento de modelos de negócio sustentáveis.

Em parceria com outra startup de Rondônia, a Essentia, a Aica conseguiu captar R$ 18 milhões do Amazon Biodiversity Fund (ABF) para expandir sistemas agroflorestais. O foco está em integrar a produção de cacau, banana e açaí com o plantio de árvores nativas, ajudando produtores rurais a se adequarem ao Código Florestal sem custos adicionais. O retorno financeiro dos investidores ocorre por meio da venda de créditos de carbono, que também são usados para recompensar os agricultores em forma de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), incentivando a recuperação e preservação da floresta. Além disso, o projeto recebeu uma doação de R$ 7 milhões do fundo canadense One Tree Planted.

Atualmente, 200 famílias participam do projeto, abrangendo 800 hectares em dez municípios. Aproximadamente 25% dessa área é destinada ao cultivo de cacau em sistemas agroflorestais, enquanto o restante se destina à conservação, compondo reservas legais e áreas de preservação permanente (APP) ao longo de rios. Segundo Bastos, o cacau tem um potencial de geração de renda até sete vezes maior do que a pecuária na região, tornando a atividade mais atrativa do que outras opções econômicas menos sustentáveis.

Além disso, a startup também está à frente da iniciativa Agroverde, que apoia pecuaristas de leite em Rondônia. Com um investimento de R$ 10 milhões do ABF, associado a uma dívida conversível em carbono, e outros R$ 25 milhões do Fundo L’Oréal, cerca de 600 produtores recebem apoio técnico, mudas e insumos para reflorestamento. Eles também são recompensados financeiramente em créditos de carbono pelo papel na recuperação florestal. O projeto, que abrange sete municípios, tem como meta reflorestar 2.000 hectares, com o compromisso de recuperar uma área equivalente de pastagens degradadas.

Bastos ressalta que o sucesso dessas iniciativas está na integração de políticas públicas, fortalecimento de cadeias produtivas e na regularização ambiental. Até o momento, a startup já restaurou 6.200 hectares e atualmente trabalha na recuperação de 3.000 hectares em pequenas propriedades, além de estar negociando contratos para restaurar outros 12 mil hectares.

Com um viveiro que abriga 115 espécies de mudas, a meta futura é envolver até 10 mil famílias no processo de reflorestamento. Entretanto, Bastos aponta que o custo da restauração florestal, que gira em torno de R$ 30 mil por hectare, ainda demanda novas soluções financeiras para garantir a viabilidade em larga escala.

Em tempos de crise climática, com secas intensas e incêndios florestais se espalhando pela Amazônia, as agroflorestas têm demonstrado maior resiliência. Nesse contexto, Bastos reforça que a restauração produtiva não só traz ganhos ambientais, mas também oferece um caminho promissor para o desenvolvimento econômico sustentável.


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