A presença de Al Gore no Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia, em Belém, foi mais do que uma visita de cortesia durante a COP30 da UNFCCC. Para o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, referência internacional na agenda climática, o que se desenha no Pará é um laboratório vivo de um novo modelo de desenvolvimento: o Vale Bioamazônico, uma estratégia que combina ciência, inovação, saberes tradicionais e valorização econômica da floresta em pé.

A recepção foi conduzida pelo governador do Governo do Pará, Helder Barbalho, que tem apresentado o Parque como uma das principais vitrines da transição econômica amazônica. Instalado nos armazéns 5 e 6 do complexo Porto Futuro, às margens da Baía do Guajará, o espaço abriga laboratórios, áreas de formação profissional e programas de fomento à bioeconomia, onde convivem pesquisadores, startups, empreendedores comunitários e iniciativas voltadas ao uso sustentável da biodiversidade.
A visita teve caráter simbólico e, ao mesmo tempo, estratégico. Gore, um dos responsáveis por colocar as mudanças climáticas no centro do debate público global, revelou entusiasmo com a proposta construída pelo Estado. O que ele viu no Parque pareceu contrastar radicalmente com as imagens da Amazônia que moldaram suas visitas anteriores ao Brasil.
Em suas palavras, o que se ergue hoje no Pará é uma narrativa de esperança sobre a floresta. Ele afirmou que apresentará ao mundo o modelo que está sendo consolidado no Estado, reconhecendo que o Vale Bioamazônico demonstra como prosperidade econômica e proteção ambiental podem caminhar juntas. Para Gore, o que surgia antes como símbolo da destruição começa agora a ser visto como plataforma de futuro.
As falas otimistas de Gore foram acompanhadas de um reconhecimento público da mudança de trajetória observada na Amazônia. “É muito inspirador. Nas últimas visitas, a narrativa dominante era a da destruição. Agora vejo uma abordagem que une emprego, tecnologia e floresta viva”, declarou. O entusiasmo, segundo ele, o fará voltar mais vezes ao Estado.
Enquanto conduzia o visitante pelos espaços do Parque, Helder Barbalho reforçou que o Vale Bioamazônico se inspira em histórias de transformação econômica já consolidadas no mundo, mas com uma assinatura própria. Helder lembrou a recente visita de Gavin Newsom, governador da Califórnia, e comparou os caminhos que cada região trilhou para se tornar referência em inovação. A Califórnia construiu o Vale do Silício a partir dos chips; a Amazônia, nas palavras do governador, possui outro tipo de riqueza estratégica: as moléculas, a biologia, o patrimônio genético e cultural da maior floresta tropical do mundo.

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A menção à Califórnia não é fortuita. O Vale do Silício tornou-se símbolo de um ecossistema capaz de combinar pesquisa acadêmica, capital de risco e empreendedorismo. O Vale Bioamazônico busca adaptar essa lógica à realidade amazônica, mobilizando universidades, centros de pesquisa, empreendedores sociais e as próprias comunidades tradicionais. A ambição é transformar conhecimento e biodiversidade em soluções escaláveis para os desafios climáticos, alimentares e farmacêuticos do século XXI.
O Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia, peça-chave dessa estratégia, funciona como um núcleo integrador entre saberes científicos e conhecimentos locais, mobilizando juventudes urbanas e populações tradicionais. Ali, tecnologias de ponta convivem com inovações ancestrais que há séculos sustentam modos de vida nas florestas. Essa interseção é considerada, pelo governo e por pesquisadores, o diferencial que pode posicionar o Pará como referência global no campo da bioeconomia.
A visita também reforçou a intenção do Estado de consolidar um ambiente de negócios capaz de atrair investimentos de impacto, estimular cadeias produtivas sustentáveis e diversificar oportunidades de renda para os povos da floresta. Para especialistas, a presença de figuras globais como Al Gore ajuda a abrir portas, ampliar visibilidade e integrar o Pará a debates e redes internacionais de inovação climática.
Ao final da visita, o saldo político e simbólico apareceu evidente: o Vale Bioamazônico deixou de ser apenas um projeto em construção e passou a circular como modelo potencial de transformação econômica e ambiental. E, ao prometer divulgar ao mundo o que viu em Belém, Al Gore não apenas validou a estratégia, mas reforçou o papel do Pará como protagonista na construção de uma economia baseada na vida da floresta — e não em sua destruição.







































