A COP30, conferência global sobre o clima da ONU, começou nesta segunda-feira (10) em Belém (PA), e promete ser uma das mais desafiadoras das últimas décadas.
Mais de 50 mil delegados de 190 países, entre cientistas, diplomatas, indígenas e líderes ambientais, se reúnem por 11 dias no coração da Amazônia, tentando encontrar respostas para uma pergunta que já parece urgente demais: quem vai pagar pela crise climática — e como o mundo pode agir antes que seja tarde?

A Al Jazeera publicou um extenso explainer sobre o encontro, apontando que a conferência ocorre em meio a desacordos diplomáticos, pressões financeiras e novos recordes de aquecimento global.
A reportagem destaca que, apesar do otimismo do Brasil, “os delegados chegam divididos sobre como — e quem — deve liderar a ação climática”.

O que é a COP e por que ela importa
A COP (Conferência das Partes) é o principal fórum da ONU sobre mudanças climáticas, criado a partir da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), firmada em 1992 no Rio de Janeiro.
Desde 1995, os países se reúnem anualmente para discutir formas de reduzir as emissões de carbono e adaptar sociedades aos impactos do aquecimento global.
O tratado estabeleceu o princípio da “responsabilidade comum, porém diferenciada” — ou seja, países ricos, historicamente mais poluentes, devem arcar com maior parte dos custos da transição climática.
A COP30, sediada pelo Brasil, é considerada uma oportunidade histórica para reconstruir a confiança internacionalapós anos de promessas não cumpridas.
A agenda de Belém: menos promessas, mais implementação
O governo brasileiro quer fazer desta a “COP da Implementação”, deixando de lado novas metas e priorizando a execução das promessas anteriores.
O presidente da conferência, André Corrêa do Lago, enviou uma carta aos negociadores defendendo a ideia de mutirão— um termo de origem indígena que significa união em torno de um objetivo comum.
“Ou decidimos mudar por escolha, juntos, ou a mudança nos será imposta pela tragédia”, escreveu Corrêa do Lago. “Podemos mudar, mas precisamos fazer isso juntos.”
Entre os principais objetivos brasileiros estão:
Criar um roteiro global de implementação climática para a próxima década;
Avançar no “Tropical Forests Forever Facility”, fundo de US$ 25 bilhões voltado à conservação de florestas e biodiversidade, com expectativa de atrair mais US$ 100 bilhões do setor privado;
Consolidar acordos sobre a transição energética, incluindo a eliminação gradual dos combustíveis fósseis, prometida na COP28.
Quem está participando (e quem ficou de fora)
Mais de 50 mil pessoas se inscreveram para a conferência em Belém — entre elas, representantes de governos, ONGs, povos indígenas e delegações de quase 200 países.
Blocos políticos como o G77 (países em desenvolvimento), a Aliança dos Pequenos Estados Insulares e o grupo BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China) devem ter papel ativo nas negociações.
Mas a ausência de grandes potências pesa.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a retirar o país do Acordo de Paris e chamou a crise climática de “a maior farsa já criada”.
Sem delegação norte-americana e com China e Índia enviando apenas vice-ministros, a Al Jazeera destaca que “a conferência começa com um vácuo de liderança global”.
A falta de infraestrutura em Belém também virou notícia: os altos preços de hotéis e a escassez de vagas fizeram o governo brasileiro disponibilizar cabines gratuitas em navios para delegações de países mais pobres.
O que mudou desde a COP29
Apesar dos impasses, houve avanços parciais desde a última conferência, em 2024:
Energia limpa: energia solar e eólica representaram 90% da nova capacidade instalada no mundo, segundo a Agência Internacional de Energia Renovável.
Mobilidade elétrica: 1 em cada 5 carros vendidos no mundo em 2024 foi elétrico.
Empregos verdes: o setor de energia limpa já emprega mais pessoas que o de combustíveis fósseis.
Investimentos: os investimentos globais em energia limpa devem atingir US$ 2,2 trilhões em 2025 — o dobro do gasto em petróleo e carvão.
Mas o aquecimento global também se acelera.
De acordo com a Organização Meteorológica Mundial, o planeta já aqueceu 1,3°C desde a era pré-industrial, e a barreira de 1,5°C pode ser ultrapassada antes de 2030.
“Mesmo um pequeno ultrapasse terá consequências dramáticas”, alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres.
“Isso pode empurrar ecossistemas para pontos de não retorno e expor bilhões de pessoas a condições inabitáveis.”
O peso simbólico da Amazônia
A escolha da Amazônia como sede da COP30 é carregada de simbolismo.
O evento ocorre na região que mais armazena carbono no planeta — e também uma das mais ameaçadas.
Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o desafio é transformar a floresta no centro das soluções climáticas e não apenas no retrato da destruição.
“Precisamos de roteiros para reverter o desmatamento, superar a dependência dos fósseis e mobilizar recursos para isso”, afirmou Lula na abertura da conferência preparatória.
Um planeta em risco
O explainer da Al Jazeera conclui lembrando que 2025 foi um ano de desastres climáticos extremos:
Ondas de calor recordes atingiram Índia e Paquistão, com picos de 48°C e colheitas devastadas;
Incêndios florestais no Mediterrâneo obrigaram 100 mil pessoas a deixarem suas casas;
Secas severas atingiram a Turquia e o sul da Europa, reduzindo chuvas em até 70%;
No Brasil, tornados e enchentes no Sul provocaram perdas humanas e econômicas inéditas.
A COP30, afirma a Al Jazeera, “é o teste de fogo de uma geração que precisa escolher entre a cooperação e o colapso climático”.


































