Alckmin pede uma COP30 focada na verdade e na ação


A plenária de alto nível da COP30 abriu suas portas em Belém com um apelo claro do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. Para ele, a conferência marca um ponto de inflexão no regime internacional do clima. O que antes se apoiava sobretudo em negociações se converte, a partir de agora, em um pacto de implementação. A mensagem, dirigida a países que chegam à Amazônia para definir o futuro do Acordo de Paris, foi direta: chegou a hora de transformar ambição em resultados palpáveis.

Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Alckmin lembrou que o Brasil pretende deixar como legado da conferência três compromissos centrais: acelerar a transição energética, erradicar o desmatamento ilegal e fortalecer a sociobioeconomia como modelo capaz de valorizar florestas em pé. Esses pilares, segundo ele, só terão efeito real se forem guiados pela ciência, pela solidariedade entre países e pela responsabilidade ética com as gerações futuras. Para simbolizar essa virada, o vice-presidente evocou que a ação climática precisa combinar progresso tecnológico com dignidade humana, e não pode ser tratada apenas como um problema técnico.

Diante de chefes de delegação e lideranças globais, Alckmin apontou que o mundo ainda está muito distante de suas próprias metas. A capacidade instalada de energia renovável, disse ele, corresponde hoje à metade do necessário para limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius, objetivo central do Acordo de Paris. Por isso, defendeu que a humanidade não pode mais postergar esforços: é preciso triplicar a participação de renováveis e dobrar a eficiência energética até 2030.

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Foto: Sergio Moraes/COP30

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O vice-presidente também destacou o avanço do chamado Compromisso de Belém, iniciativa que busca quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035 e que já conta com o apoio de 25 países. Ele ressaltou que o Brasil chega à COP30 com credenciais importantes, entre elas a redução de 50% do desmatamento ilegal na Amazônia. Embora o número represente apenas um passo diante da urgência climática, Alckmin o apresentou como sinal de que ações firmes podem gerar efeitos concretos em curto prazo.

Outro ponto enfatizado em seu discurso foi a necessidade de os países apresentarem novas NDCs compatíveis com a trajetória de 1,5 grau. Ele relembrou a atualização da meta brasileira anunciada na COP29, em Baku, ao lado da ministra Marina Silva, à frente do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. O compromisso determina reduzir entre 59% e 67% as emissões líquidas do país até 2035 em comparação com 2005, uma meta que Alckmin classificou como ousada, mas tecnicamente viável.

Em sua fala, ele também trouxe à plenária um elemento que costuma aparecer apenas nas discussões paralelas: a centralidade dos povos que vivem na floresta. Para Alckmin, a proteção da Amazônia depende diretamente de seus habitantes. Ele destacou que mais de 28 milhões de brasileiros vivem no bioma, entre eles os povos indígenas e as comunidades tradicionais, reconhecidos como guardiões da floresta e detentores de uma inteligência ecológica que antecede em séculos a ciência contemporânea. O vice-presidente enfatizou que a coexistência entre produção, conservação e bem-estar social só é possível quando essas populações têm voz ativa e seus saberes são valorizados.

Ao apontar caminhos possíveis, Alckmin defendeu soluções inovadoras que integrem bioeconomia, tecnologias de baixo carbono e instrumentos regulatórios capazes de fortalecer a governança climática global. Nesse contexto, mencionou a proposta de criar uma Coalizão Global de Mercados Regulados de Carbono para ampliar transparência e harmonização entre países. Segundo ele, esse tipo de iniciativa pode estimular investimentos e aumentar a previsibilidade para empresas e governos.

Com a chegada de cerca de 160 autoridades de alto escalão, a COP30 entra agora na fase mais sensível, quando disputas sobre financiamento, adaptação e métricas de redução de emissões precisam chegar a consenso. Em meio às divergências naturais entre países, Alckmin pediu que uma diretriz norteie todas as decisões: que esta seja a conferência da responsabilidade e da verdade. Para ele, cada escolha tomada em Belém deve proteger as condições de vida no planeta, preservar a biodiversidade e garantir justiça entre as gerações.