Amazonas na COP30: saúde climática com barco hospital e telessaúde


Durante a COP30, realizada em Belém (Pará), o Governo do Amazonas apresentou um conjunto de soluções pioneiras para enfrentar os impactos das mudanças climáticas no setor saúde — provando que coordenar clima e atendimento à população é mais do que urgente, é possível. A secretária de Estado de Saúde do Amazonas, Nayara Maksoud, subiu ao palco no painel “Plano de Adaptação do Setor Saúde à Mudança do Clima – AdaptaSUS” do Ministério da Saúde, e mostrou que no coração da Amazônia os riscos ambientais reforçam a necessidade de inovação estrutural.

Foto: Divulgação/SES-AM

O Amazonas, por sua extensão continental e a presença de populações ribeirinhas, demanda formas de atenção à saúde que fogem ao modelo tradicional urbano. É justamente essa realidade que o Estado abraça com iniciativas fluvi­ais, aeronáuticas e digitais. Entre os destaques apresentados por Nayara estava o Barco Hospital São João XXIII, que navega entre localidades isoladas levando consultas, exames, cirurgias e distribuição de medicamentos. A embarcação já registra mais de 140 mil atendimentos por ano, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM), e é fruto de uma parceria com a Associação e Fraternidade Lar São Francisco de Assis na Providência de Deus, uma entidade religiosa comprometida com causas sociais.

Além do barco, o Amazonas apostou em atendimento aéreo para casos graves: uma UTI aérea garante a remoção de pacientes de municípios distantes para hospitais com maior capacidade de tratamento. Essa logística reforça a ideia de que, quando as águas sobem ou descem, a saúde não pode parar — exige planejamento climático e médico ao mesmo tempo.

Outra ferramenta urgente para adaptação climática é a tecnologia: por meio do programa Saúde AM Digital, a população tem acesso a consultas e diagnósticos por telemedicina. A SES-AM relata que pacientes usam o celular ou se deslocam até “telessalas” instaladas em unidades de saúde para fazer videochamadas e exames remotamente. As consultas cobrem especialidades como dermatologia, cardiologia, neurologia, pediatria e muitas outras, enquanto o telediagnóstico permite que os laudos de exames, como raios-X e eletrocardiograma, sejam emitidos rapidamente por médicos online.

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Foto: Divulgação/SES-AM

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A secretária Maksoud destacou ainda que a assistente virtual integrada ao WhatsApp — parte do Saúde AM Digital — tem papel central na redução do absenteísmo e no gerenciamento das filas: ela lembra os pacientes sobre exames, permite reagendamento ou cancelamento, e oferece a opção de teleconsulta. Segundo dados da SES-AM, essa automação reduziu a espera média por consulta de 100 para apenas 19 dias.

No painel da COP30, esses exemplos não foram apenas técnicos, mas narrativas poderosas de adaptação climática com justiça social. Nayara disse que levar saúde a quem vive longe dos centros urbanos é uma demonstração de equidade: “cuidar da Amazônia também é cuidar das pessoas que vivem nela”, afirmou. A estratégia é claramente interdisciplinar: não basta resistir à crise climática, é preciso transformar as estruturas de atendimento para responder a ela.

A SES-AM também reportou resultados concretos para seu sistema fluvial: algumas expedições do Barco Hospital já registraram mais de 3 mil atendimentos em apenas uma missão, com consultas médicas, odontológicas, exames, vacinas e cirurgias de baixa ou média complexidade. Esses dados servem para mostrar que a adaptação não é uma promessa futura, é prática cotidiana.

Durante a COP30, outra notícia relevante foi o lançamento, pelo Governo Federal, do Plano Mais Saúde Amazônia, uma iniciativa que se articula com a Agenda SUS para a Amazônia, priorizando cooperação regional e internacional para tornar os sistemas de saúde mais resilientes. Essa articulação amplia a narrativa: não basta proteger florestas, o desenvolvimento social e climático deve caminhar junto.

A visita de representantes do Ministério da Saúde ao Amazonas e a apresentação dessas tecnologias reforçam que o clima não é tema à parte: ele molda a forma como as comunidades devem ser atendidas. Além disso, a adoção de soluções fluviais, aéreas e digitais mostra que o Amazonas está na vanguarda da adaptação sistêmica ao clima.

A experiência apresentada pelo estado amazônico durante a COP30 é também uma mensagem para outros entes federados: quando se pensa a saúde, especialmente em regiões vulneráveis ao clima, inovar não é luxo — é necessidade. A combinação de barco hospital, UTI aérea, telessaúde e inteligência virtual representa uma arquitetura de cuidados moldada pela natureza, pela cultura e pela tecnologia.