Na mais ambiciosa iniciativa ambiental lançada até agora na COP30, em Belém, os oito países que compartilham a floresta amazônica anunciaram a criação de um sistema conjunto de monitoramento do bioma. Coordenado pela Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), o projeto busca padronizar dados científicos e fortalecer ações de combate ao desmatamento e à degradação ambiental. A proposta será viabilizada por um investimento de R$ 55 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), via Fundo Amazônia, e contará com apoio técnico do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

O anúncio foi feito nesta quinta-feira (13), durante um dos eventos paralelos da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que transformou Belém em palco de acordos internacionais para o futuro da floresta e da segurança climática do planeta.
Uma Amazônia sob vigilância colaborativa
O novo programa prevê a integração dos sistemas nacionais de observação por satélite e coleta de dados sobre desmatamento, incêndios, biodiversidade, recursos hídricos e populações tradicionais. A ideia é construir uma base unificada de informações ambientais, capaz de orientar políticas públicas, ações preventivas e a resposta a crimes ambientais transfronteiriços.
Para Martin von Hildebrand, etnólogo colombiano e secretário-geral da OTCA, a floresta amazônica deve ser tratada como um organismo vivo, interdependente e indivisível. “A Amazônia é um vasto sistema, e danificar uma peça significa comprometer o todo. Cada árvore importa. O monitoramento conjunto permitirá agir de forma preventiva ou curativa, dependendo da situação de cada região”, afirmou.
A dimensão da tarefa é monumental. A Amazônia se estende por 6,7 milhões de quilômetros quadrados, abriga quase 50 milhões de habitantes e é responsável por regular fluxos de umidade que influenciam o regime de chuvas de toda a América do Sul.

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Cooperação técnica e política
O INPE atuará na transferência de tecnologia de sensoriamento remoto e análise de dados para os países vizinhos, garantindo interoperabilidade e comparabilidade entre os sistemas nacionais. Segundo a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, o projeto marca uma nova fase de cooperação regional.
“Estamos consolidando um painel técnico-científico que servirá de base para decisões públicas em temas como clima, biodiversidade e recursos hídricos. Essa rede de conhecimento comum permitirá que as respostas políticas sejam mais coordenadas e eficazes”, afirmou.
Além do intercâmbio técnico, a OTCA propõe a criação de uma comissão de ministros de Meio Ambiente dos países amazônicos, voltada à definição de estratégias conjuntas para combater o desmatamento e o crime ambiental nas fronteiras. Marina Silva destacou ainda que a agenda inclui infraestrutura verde e resiliente, proteção da biodiversidade e mecanismos para evitar biopirataria, assegurando a partilha justa de benefícios oriundos do uso de recursos genéticos.
Observatório Regional da Amazônia
Uma das frentes centrais do projeto será o fortalecimento do Observatório Regional da Amazônia (ORA), já administrado pela OTCA, que reúne informações sobre florestas, biodiversidade, recursos hídricos, incêndios e áreas protegidas. A iniciativa ganhará novas funcionalidades, permitindo que governos e pesquisadores acessem dados atualizados e padronizados em tempo real.
A diretora socioambiental do BNDES, Tereza Campello, enfatizou que a interoperabilidade dos sistemas é essencial para enfrentar redes criminosas que se aproveitam da fragmentação institucional. “O Brasil não vai impor nada aos outros países, e os outros países não vão impor nada ao Brasil. Mas, se não unificarmos a metodologia, o crime organizado sai vencendo”, alertou.
Uma floresta, muitas nações, um desafio comum
A OTCA, criada em 1978, reúne Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. Seu papel como organismo intergovernamental é promover o desenvolvimento sustentável da Amazônia, conciliando preservação ambiental e prosperidade econômica. A nova aliança reforça a visão de que a defesa da floresta é uma responsabilidade compartilhada, tanto entre os países amazônicos quanto entre os setores público, científico e financeiro.
Com o projeto de monitoramento conjunto, a COP30 consolida-se como o marco de uma diplomacia climática amazônica – em que ciência, tecnologia e cooperação regional se unem para transformar a proteção da maior floresta tropical do planeta em uma missão coletiva e estratégica.







































