Brasília recebeu, ao longo desta semana, um dos maiores encontros internacionais de arquitetura e urbanismo já realizados no Brasil. A Conferência Internacional CAU 2025, promovida pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), reuniu cerca de 4,5 mil profissionais de diferentes países para discutir o futuro das cidades diante do avanço das mudanças climáticas e dos desafios da urbanização contemporânea.

O evento, encerrado neste sábado (6), reforçou um alerta cada vez mais evidente: o desenho das cidades, longe de ser apenas uma questão estética ou funcional, exerce papel direto nas emissões de gases de efeito estufa e, portanto, na aceleração do aquecimento global. Ao mesmo tempo, o urbanismo mal planejado potencializa os impactos dos desastres naturais, tornando populações inteiras mais vulneráveis a enchentes, ondas de calor e colapsos de infraestrutura.
Arquitetura como frente de combate climático
Nos painéis, especialistas abordaram como a geografia urbana, historicamente voltada ao crescimento rápido e muitas vezes desordenado, acaba sendo uma das principais fontes de pressão sobre o meio ambiente. As áreas impermeabilizadas, a falta de áreas verdes e o estímulo ao transporte individual motorizado contribuem para a degradação ambiental e aumentam os custos sociais dos eventos climáticos extremos.
O debate ocorreu em um momento estratégico. Em novembro, Belém será palco da COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. A proximidade do evento ampliou a relevância das discussões, já que a capital paraense deve receber líderes de todo o planeta para pactuar novas medidas de mitigação e adaptação climática. Nesse contexto, a arquitetura aparece como disciplina-chave: suas soluções podem reduzir emissões, melhorar a resiliência das cidades e promover maior inclusão social.

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Soluções em pauta
Entre as propostas apresentadas durante a conferência, destacaram-se iniciativas que unem sustentabilidade e desenvolvimento urbano. Desde o incentivo ao uso de materiais de baixo impacto ambiental até a integração de áreas verdes no tecido urbano, as ideias apontam para um modelo de cidade mais equilibrado, capaz de oferecer qualidade de vida sem comprometer o futuro climático.
Outra frente debatida foi a necessidade de ampliar a infraestrutura voltada à mobilidade coletiva e ativa, reduzindo a dependência do automóvel e abrindo espaço para transportes menos poluentes. A arquitetura, nesse sentido, não se limita à construção de edifícios, mas à articulação de espaços que definem como as pessoas se deslocam, interagem e ocupam os territórios.
A conferência não restringiu sua agenda ao campo ambiental. Questões sociais emergiram como parte essencial de um urbanismo mais justo e democrático. Painéis abordaram o direito à cidade para pessoas LGBTQIAPN+, a justiça ambiental e o papel dos povos originários na preservação e no desenho das cidades. Essas discussões ampliaram o horizonte do evento, mostrando que enfrentar a crise climática não é apenas reduzir emissões, mas também construir cidades inclusivas, capazes de acolher diferentes identidades e modos de vida.
O papel institucional do CAU/BR
Para a presidente do CAU/BR, Patrícia Sarquis Herden, a conferência consolidou o conselho como espaço de diálogo estratégico para a sociedade brasileira. “Mesmo com quase 15 anos, o CAU/BR mostra sua capacidade de promover debates essenciais em arquitetura e urbanismo, como habitação, mobilidade, mudanças climáticas e inclusão”, afirmou.
O reconhecimento da arquitetura como parte da solução para a crise climática reposiciona o papel dos profissionais da área. Se antes o arquiteto era visto sobretudo como criador de formas e espaços, agora ele se apresenta como ator fundamental para garantir sustentabilidade, segurança e dignidade urbana.
O encerramento da conferência deixou claro que os próximos passos vão além das discussões. Os arquitetos presentes assumiram o compromisso de transformar os debates em práticas concretas, que possam inspirar políticas públicas e influenciar decisões governamentais. Com a COP30 no horizonte, a expectativa é que a contribuição da arquitetura brasileira ganhe visibilidade internacional, mostrando que é possível construir cidades mais humanas e resilientes em meio às incertezas climáticas.
O encontro de Brasília, portanto, não foi apenas um evento técnico ou acadêmico. Representou um chamado à ação coletiva, em que arquitetura e urbanismo se colocam como ferramentas indispensáveis na luta contra a crise climática e na construção de um futuro urbano mais sustentável e inclusivo.









































