Um fenômeno surpreendente vem chamando atenção de cientistas e ambientalistas: as árvores da Amazônia estão crescendo mais grossas, em um processo denominado fattening forest, ou floresta “engordando”. Publicado na revista Nature Plants, o estudo mostra que, embora esse crescimento indique resiliência diante das mudanças climáticas, também levanta alertas sobre vulnerabilidades futuras da maior floresta tropical do planeta.

Pesquisas realizadas em 188 parcelas de florestas intactas da Amazônia, algumas monitoradas há mais de três décadas, indicam que a circunferência das árvores aumentou em média 3,3% por década. Esse crescimento não se limita a espécies de grande porte; árvores médias também apresentam aumento significativo de volume. O fenômeno está diretamente associado ao chamado efeito de fertilização por dióxido de carbono (CO2), em que o aumento das concentrações de CO2 na atmosfera impulsiona a fotossíntese, permitindo que as plantas armazenem mais carbono e cresçam mais rapidamente.

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Experimentos realizados em outros ecossistemas corroboram esses achados. Árvores cultivadas em ambientes com CO2 enriquecido podem crescer até 10% mais em comparação com condições naturais. No entanto, o crescimento acelerado apresenta desafios estruturais: árvores maiores demandam mais água e nutrientes, tornando-se mais vulneráveis a secas prolongadas e ondas de calor extremas, situações cada vez mais frequentes na Amazônia devido às mudanças climáticas.
A alteração no porte das árvores também pode impactar a diversidade da floresta. A predominância de espécies maiores pode modificar a dinâmica de captura de nutrientes e reduzir a variedade de espécies vegetais e animais que dependem de uma estrutura florestal diversificada. Essa mudança ecológica não afeta apenas a biodiversidade local: ela pode interferir na capacidade da floresta de funcionar como sumidouro de carbono, papel essencial para a regulação climática global.
Os cientistas alertam que a taxa de crescimento das árvores não deve se manter constante. O aumento de tamanho tende a desacelerar nas próximas décadas, acompanhado de maior mortalidade de árvores adultas. Esse cenário aumenta o risco de que a Amazônia atinja um “ponto de inflexão”, caracterizado por secas mais intensas, queimadas frequentes e perda de biodiversidade. Caso isso ocorra, partes da floresta podem passar por um processo de savanização, transformando áreas densas em paisagens de vegetação mais aberta e menos produtiva, comprometendo serviços ecossistêmicos fundamentais, como regulação hídrica e sequestro de carbono.
O estudo reforça a complexidade da resposta da floresta às mudanças ambientais. Crescimento acelerado, embora sinal de adaptação, não significa imunidade. As árvores maiores podem ser mais fortes estruturalmente, mas o aumento da vulnerabilidade hídrica e nutricional expõe a floresta a riscos inéditos. A interação entre o clima extremo e a dinâmica interna da floresta será determinante para definir se a Amazônia continuará como reguladora do clima global ou se sofrerá transformações irreversíveis.
Pesquisadores destacam a necessidade urgente de políticas de preservação e manejo sustentável. A proteção contra desmatamento, queimadas e exploração predatória é fundamental para garantir que a floresta continue a desempenhar seu papel estratégico no equilíbrio climático. Além disso, o monitoramento contínuo das mudanças na biomassa e na diversidade vegetal será essencial para antecipar impactos e implementar estratégias de mitigação e adaptação.
Em resumo, o crescimento das árvores amazônicas mostra que a floresta está tentando se ajustar ao estresse ambiental, mas essa resiliência vem acompanhada de riscos claros. O fenômeno do “fattening forest” oferece pistas valiosas sobre como as florestas tropicais respondem às alterações climáticas, ao mesmo tempo em que reforça a urgência de ações globais e locais para proteger o ecossistema mais biodiverso do planeta. A Amazônia, com sua influência no ciclo do carbono e na regulação das chuvas na América do Sul, continua sendo peça-chave na luta contra a crise climática.






































