Austrália encara futuro sombrio com riscos climáticos crescentes


O futuro da Austrália está sendo redesenhado pelas mudanças climáticas. Um novo relatório do governo federal alerta que o país enfrenta riscos múltiplos e interligados, desde a perda de vidas humanas até a queda drástica no valor de propriedades, que podem se tornar inasseguráveis diante de eventos extremos cada vez mais frequentes. Trata-se da primeira Avaliação Nacional de Riscos Climáticos, divulgada pelo Governo Albanese, que traça cenários alarmantes caso a inação prevaleça.

Foto: David Swift

O documento descreve um panorama de ameaças em cascata, onde ondas de calor, enchentes, ciclones, incêndios florestais e elevação do nível do mar se reforçam mutuamente, fragilizando comunidades inteiras. Para especialistas, o ponto mais perturbador está na previsão de um aumento exponencial das mortes ligadas ao calor em grandes cidades como Sydney e Melbourne, caso as temperaturas globais ultrapassem os limites críticos de aquecimento.

A ameaça invisível das ondas de calor

O estudo mostra que as ondas de calor já são o desastre natural mais letal da Austrália. Em Sydney, por exemplo, a mortalidade relacionada ao calor pode dobrar mesmo em um cenário de aquecimento limitado a 1,5°C. Se o planeta avançar para 3°C de aumento, a cidade poderá registrar até 450 mortes anuais adicionais. Melbourne apresenta números semelhantes, com até 355 óbitos extras projetados.

O risco não se limita às capitais. Regiões do interior e da periferia urbana, como a região oeste de Sydney e áreas além da Great Dividing Range, estão particularmente vulneráveis. Essas zonas concentram populações mais expostas, menos protegidas por infraestrutura e, muitas vezes, mais pobres.

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O peso econômico do clima

Além do impacto humano, o relatório destaca o efeito devastador no setor imobiliário. Até 2050, as perdas podem alcançar 500 bilhões de dólares australianos, à medida que seguradoras se recusarem a cobrir propriedades em áreas de alto risco, como regiões costeiras e zonas propensas a incêndios e enchentes.

Esse efeito cascata afeta toda a economia: propriedades desvalorizadas reduzem arrecadação de impostos, pressionam os mercados financeiros e ampliam desigualdades sociais, uma vez que comunidades vulneráveis ficam presas em áreas de risco sem chance de venda ou mudança.

A análise detalha como cada grande centro urbano enfrentará riscos específicos. Em Brisbane, o número de dias de inundação costeira pode triplicar até 2050, afetando bairros inteiros do sudeste de Queensland. Em Perth, locais como Fremantle podem sair de três dias de alagamento costeiro por ano para mais de duzentos até 2090.

Darwin e Adelaide também estão no mapa da vulnerabilidade: a primeira enfrenta crescente risco de enchentes costeiras, enquanto a segunda verá um aumento drástico em dias de calor extremo.

O documento enfatiza que nem todos serão atingidos da mesma forma. Crianças, idosos, pessoas com doenças crônicas e trabalhadores ao ar livre estão na linha de frente dos impactos. A combinação de calor extremo, má qualidade do ar e propagação de doenças pode ampliar as pressões sobre o sistema de saúde, especialmente em comunidades de baixa renda.

O custo da inação

Para o Ministro de Mudança Climática e Energia, Chris Bowen, o relatório é um alerta incômodo, mas necessário. Ele ressalta que “cada grau de aquecimento evitado agora representa milhares de vidas salvas no futuro”. Bowen também argumenta que, após anos de atraso político, a Austrália precisa acelerar a transição energética, ampliar investimentos em energias limpas e fortalecer políticas de adaptação.

A Avaliação Nacional de Riscos Climáticos servirá de base para o novo plano de adaptação do país e para a definição da meta de redução de emissões até 2035. A mensagem central é clara: os custos da inação climática superam de longe os custos da ação.

De acordo com as projeções, até 1,5 milhão de australianos poderão viver em áreas de alto risco de inundação costeira até 2050. O aumento da temperatura média global ameaça transformar padrões de vida, destruir comunidades costeiras e exigir níveis inéditos de resposta do sistema de emergência.

No entanto, o relatório também deixa espaço para esperança: agir agora ainda pode evitar os piores cenários. Cada decisão tomada nos próximos anos será decisiva para determinar se a Austrália enfrentará um futuro de perdas irreversíveis ou se conseguirá construir resiliência diante de uma crise climática que já não é mais distante, mas presente.