Bactéria no Solo Aumenta Atratividade das Flores para Polinizadores, Revela Pesquisa

Autor: Redação Revista Amazônia

Influência da bactéria no solo

Uma bactéria do solo, conhecida por fixar nitrogênio quando associada às raízes de certas plantas, desempenha um papel crucial na reprodução de uma leguminosa nativa chamada chamaecrista (Chamaecrista latistipula). Segundo um estudo publicado no American Journal of Botany, a presença desse microrganismo no solo torna as flores mais atraentes para os polinizadores.

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Mamangava visitando uma flor de chamaecrista – Fonte: Anselmo Nogueira

Essa interação entre microrganismos, plantas e animais é denominada mutualismo, onde todas as partes envolvidas obtêm benefícios. No caso da chamaecrista, uma leguminosa nativa do Brasil que cresce em solos pobres em nutrientes, a reprodução depende de um polinizador específico.

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Nodulações nas raizes de chamaecrista por rizóbios fixadores de nitrogênio em solo arenoso e pobre em nutrientes – Fonte: Anselmo Nogueira

“Um dos mutualismos cruciais nessa planta é com as bactérias fixadoras de nitrogênio nas raízes, que aumentam a disponibilidade desse nutriente em troca de açúcares, usados como alimento pelas bactérias”, explica Anselmo Nogueira, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC).

A pesquisa do Laboratório de Interações Planta-Animal, liderada por Nogueira, demonstrou que a presença dessas bactérias em solos pobres em nutrientes é essencial para que as flores atraiam mamangavas, um tipo de abelha.

“Descobrimos um efeito surpreendente: embora esperássemos que plantas em solos ricos em nitrogênio prosperassem sem as bactérias, nossos experimentos mostraram que essas plantas não desenvolvem flores atrativas”, comenta Caroline Souza, a principal autora do estudo, apoiado pela FAPESP.

O estudo, parte do projeto “Efeitos sinérgicos de múltiplos mutualistas nas plantas”, monitorou o crescimento de 60 pés de chamaecrista ao longo de 16 meses em dois tipos de solo: um arenoso e pobre em nutrientes, e outro rico em matéria orgânica e nitrogênio.

Antes do plantio, as sementes foram esterilizadas para eliminar bactérias externas, e o solo passou por autoclave para garantir a ausência de microrganismos. Os pesquisadores dividiram os solos em quatro grupos: com e sem a adição de rizóbio, uma bactéria fixadora de nitrogênio.

Nos solos arenosos sem rizóbio, as plantas mostraram crescimento reduzido e folhas amareladas, indicando deficiência de nitrogênio. Já as plantas em solos arenosos com rizóbio cresceram significativamente, demonstrando a importância dessa bactéria.

Além do crescimento, as flores foram analisadas quanto à reflectância da luz, essencial para atrair polinizadores. “Observamos que as anteras das flores em solos arenosos e ricos em rizóbio exibiram padrões de cor mais atraentes para as mamangavas”, diz Souza.

O estudo também analisou as raízes das plantas, encontrando maior formação de nódulos nos solos arenosos com rizóbio, indicando uma interação eficaz entre a planta e a bactéria.

“Agora, queremos investigar se o pólen dessas flores, acessível apenas às abelhas nativas, possui maior conteúdo de proteínas e aminoácidos devido à parceria entre bactérias e plantas”, conclui Nogueira.

O artigo completo pode ser lido em: American Journal of Botany.

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Chamaecrista latistipula

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