COP30 pode marcar uma nova era na governança climática global


A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém, até 21 de novembro de 2025, é mais do que um encontro internacional: representa uma oportunidade para redefinir o rumo das negociações climáticas e consolidar o protagonismo do Sul Global na agenda ambiental mundial.

COP30 - Divulgação

Em entrevista exclusiva ao jornalista Luís Boaventura, da CGTN Brasil, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou que a COP30 pode se tornar um marco para a próxima década, tanto pela sua localização simbólica na Amazônia quanto pela necessidade de implementar compromissos assumidos nas últimas três décadas de conferências climáticas.

Segundo a ministra, os acordos firmados desde a Rio-92 continuam sendo a base de um pacto global inacabado, que precisa agora se traduzir em ações concretas e mensuráveis. “Chegou o momento de fazer valer o que já foi acordado, e isso passa por uma nova visão de cooperação internacional que reconheça as desigualdades históricas e valorize o papel dos países em desenvolvimento”, afirmou Marina.

Para ela, a COP30 em Belém não é apenas uma conferência: é um convite para olhar o mundo a partir da Amazônia — um território que simboliza tanto a urgência climática quanto o potencial de soluções sustentáveis. Ao reunir lideranças, cientistas, povos indígenas e jovens de diversas partes do planeta, a conferência tem o desafio de tornar o discurso climático mais inclusivo e conectado às realidades locais.

A ministra destacou ainda que o Sul Global — formado por países historicamente marginalizados nas decisões econômicas e ambientais — pode assumir agora um papel de liderança. Essa liderança, no entanto, deve se basear em um novo modelo de desenvolvimento que una economia e ecologia, inovação tecnológica e saberes tradicionais, crescimento e conservação.

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Marcelo Camargo/Agência Brasil

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“Os países do Sul Global podem mostrar ao mundo que é possível produzir, gerar riqueza e, ao mesmo tempo, regenerar. A economia verde não é apenas um conceito, é uma oportunidade para fazer diferente”, pontuou Marina.

Durante a entrevista, a ministra também reconheceu o papel da China como uma das principais parceiras do Brasil na transição para uma economia de baixo carbono. Segundo ela, o país asiático tem dado contribuições importantes por meio do desenvolvimento de tecnologias limpas, especialmente na produção de carros elétricos e em projetos de reflorestamento em larga escala.

Essas iniciativas, avalia Marina, demonstram que é possível alinhar crescimento econômico e responsabilidade climática, criando novas cadeias produtivas mais limpas e inclusivas. “O futuro depende de uma nova lógica de cooperação, onde inovação, justiça climática e solidariedade caminhem juntas”, afirmou.

A entrevista reforça o tom otimista — mas também desafiador — que marca o início da COP30. Ao sediar o evento na Amazônia, o Brasil assume a responsabilidade simbólica de ser um mediador entre mundos: o da política global e o dos territórios que vivem, cotidianamente, os efeitos da crise climática.

A expectativa é que, até o encerramento da conferência, novas parcerias sejam firmadas em torno de temas como financiamento climático, transição justa, proteção das florestas tropicais e redução de emissões de carbono. Mais do que metas, o momento pede mecanismos de implementação que garantam que as promessas climáticas saiam do papel.

A fala de Marina Silva sintetiza esse espírito: “Belém pode ser o ponto de inflexão. Se o mundo compreender o que a Amazônia está dizendo, podemos inaugurar uma nova fase — uma década de ação real, guiada pela ética da vida”.