À medida que a Amazônia se torna um dos focos centrais das discussões internacionais sobre clima e biodiversidade, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou um novo passo para fortalecer a restauração ecológica na Bacia do Xingu. O edital Bacia do Rio Xingu 2, lançado dentro da iniciativa Floresta Viva, vai destinar R$ 6,3 milhões para financiar até seis projetos que unam recuperação ambiental e inclusão social em uma das regiões mais pressionadas da Amazônia.

Esse valor corresponde a recursos remanescentes do primeiro edital, realizado em 2023, quando quatro projetos foram selecionados, totalizando R$ 20,3 milhões. Agora, a expectativa é ampliar o alcance das ações e garantir que comunidades locais, povos indígenas, quilombolas e assentados da reforma agrária participem diretamente do processo de restauração.
O desenho do edital tem um caráter estratégico. As propostas devem se concentrar em áreas prioritárias: Unidades de Conservação, Áreas de Preservação Permanente (APP), Reservas Legais (RL) de pequenos imóveis rurais e territórios de comunidades tradicionais. A ênfase está em iniciativas que combinem reflorestamento com geração de renda sustentável, fortalecendo cadeias produtivas locais e oferecendo capacitação às organizações envolvidas. Segundo Tereza Campello, diretora Socioambiental do BNDES, pelo menos 50% dos recursos de cada proposta precisam estar direcionados à restauração ecológica.

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A gestão do edital será conduzida pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), parceiro do BNDES na implementação do Floresta Viva. As propostas podem ser submetidas até 7 de novembro de 2025, exclusivamente pelo site da instituição. Podem concorrer associações civis, fundações privadas e cooperativas sem fins lucrativos que tenham no mínimo dois anos de constituição.
O financiamento reúne diferentes fontes. Além do Fundo Socioambiental do BNDES, os aportes vêm da Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte, do grupo Energisa e do Fundo Vale. A diversidade de parceiros reforça a ideia de que a restauração da Amazônia é um desafio coletivo, que exige convergência entre setor público, empresas privadas e organizações da sociedade civil.
Silvia Cabral, diretora de Regulação, Comercialização e Sustentabilidade da Norte Energia, resume o papel da companhia no processo: “Apoiar o Floresta Viva significa somar esforços pela restauração da Amazônia e pela valorização do bioma. Essa é uma prioridade para nós: gerar energia limpa com responsabilidade socioambiental e contribuir para a preservação do território onde atuamos”.
A trajetória do Floresta Viva já mostra resultados concretos. Entre os projetos aprovados em 2023 estão:
Xingu Sustentável, o cacau orgânico gerando renda e promovendo a restauração ecológica do Médio Xingu, desenvolvido pela Cooperativa Central de Produção Orgânica da Transamazônica e Xingu;
Na trilha da Floresta Viva: restauração ecológica socioprodutiva na Bacia do Xingu, conduzido pela Associação Rede de Sementes do Xingu;
Sempre Vivas, Sempre Verdes: restauração ecológica e inclusão socioprodutiva na Resex Verde para Sempre, executado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil;
Resset Assurini, realizado pela Fundação de Ciência, Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento Sustentável Guamá.
Essas experiências revelam o potencial de integrar conservação ambiental com geração de renda, mostrando que recuperar florestas também pode significar abrir caminhos para economias mais inclusivas e sustentáveis.
Às vésperas da COP30, que ocorrerá em Belém em novembro, o novo edital ganha peso simbólico. Ele demonstra que, enquanto os líderes globais debatem metas e compromissos, ações práticas estão em andamento na Amazônia. São projetos que, ao mesmo tempo, recuperam áreas degradadas, fortalecem comunidades locais e contribuem para que o Brasil avance em sua agenda climática.
Mais do que um aporte financeiro, o Floresta Viva representa uma mudança de paradigma: a restauração florestal como vetor de desenvolvimento socioambiental. Ao investir na Bacia do Xingu, o programa aponta para um futuro em que o equilíbrio entre floresta, comunidades e economia deixa de ser um ideal distante para se tornar realidade construída coletivamente.








































