A agência Xinhua destacou que a COP30, realizada em Belém (PA), transformou-se em um palco de liderança do Sul Global, diante da ausência dos Estados Unidos e da crescente articulação entre Brasil e China para impulsionar a cooperação climática internacional.

O encontro, que reúne representantes de quase 200 países, começou no dia 10 de novembro e deve definir os rumos da governança climática mundial para a próxima década.
“Esta COP deve acender uma década de aceleração e entrega”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, durante a abertura. “Belém pode ser o ponto de virada da história climática.”

Brasil quer transformar discurso em ação
De acordo com a Xinhua, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que a conferência abandone a retórica vazia e avance em compromissos concretos.
Lula propôs a criação de um mecanismo de governança dentro da ONU, que assegure o cumprimento efetivo das metas climáticas — inclusive com possibilidade de sanções a países que descumprirem compromissos assumidos.
“A COP30 precisa ser a conferência da verdade e da ação. Não podemos mais aceitar promessas que não saem do papel”, afirmou Lula, citado pela agência.
Como anfitrião, o Brasil convidou países da América Latina e da África a colaborar na proteção da Amazônia e no desenvolvimento conjunto de energias renováveis, especialmente solar e eólica, como forma de gerar empregos e reduzir desigualdades.
Críticas à ausência dos Estados Unidos
A reportagem ressalta que a ausência de altos representantes do governo norte-americano foi amplamente criticada por líderes e especialistas.
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, afirmou que os Estados Unidos, maior emissor histórico de gases de efeito estufa, têm “grande responsabilidade pela crise climática” e falharam ao se ausentar em um momento decisivo.
“A postura dos EUA representa uma tentativa de obstruir o progresso global”, disse o economista político Samuel Spellmann, da Universidade Federal do Pará, em entrevista à Xinhua.
A ausência norte-americana, segundo analistas, reforçou o protagonismo do Sul Global, que agora busca maior autonomia na transição energética e no financiamento climático.
China e Brasil fortalecem aliança climática
A Xinhua destacou que a cooperação entre China e Brasil se tornou um dos principais eixos da COP30, especialmente nas áreas de energia limpa e tecnologia verde.
O país asiático, apontado como líder mundial em inovação energética, foi elogiado por Lula como modelo de transição sustentável.
“A China é exemplo de como inovação e desenvolvimento podem caminhar juntos com a proteção ambiental”, afirmou o presidente brasileiro.
De acordo com um livro branco publicado pelo Conselho de Estado da China, até o fim de outubro de 2025, Pequim havia firmado 55 acordos de cooperação climática com 43 países em desenvolvimento.
Essas parcerias incluem investimentos em tecnologia de baixo carbono, criação de mercados de carbono e iniciativas de adaptação climática.
Durante a COP30, o Pavilhão da China em Belém promove painéis sobre neutralidade de carbono, inovação em tecnologias limpas e estratégias para redução de emissões em setores produtivos.
Sul Global assume protagonismo climático
Segundo Fernando Romero Wimer, professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), a falta de ação dos países desenvolvidos está impulsionando o Sul Global a buscar soluções próprias.
“Estamos vendo uma transição para um modelo de cooperação entre países do Sul que não dependem mais das potências tradicionais”, afirmou.
A socióloga Leila da Costa Ferreira, da Unicamp, acrescentou que a solidariedade entre países em desenvolvimento é hoje “fundamental” para avançar na justiça climática.
Ela citou o papel da China na liderança tecnológica e o do Brasil na coordenação política e ambiental como exemplos de uma nova governança climática multipolar.
Guterres pede US$ 1,3 trilhão anuais até 2035
Durante a abertura do World Leaders Climate Action Summit, o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu que os países estabeleçam um roteiro para mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano até 2035 em financiamento climático para nações em desenvolvimento.
O objetivo é garantir meios de adaptação, mitigação e transição energética justa, especialmente em regiões mais afetadas, como América Latina, África e Sudeste Asiático.
“Assim como o Rio Amazonas é alimentado por mil afluentes, a ação climática precisa de mil correntes de cooperação”, disse Simon Stiell, secretário-executivo da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas.
Um novo mapa da diplomacia climática
Para a Xinhua, o tom da COP30 marca uma reconfiguração da liderança global:
em vez de depender das antigas potências, os países do Sul Global estão propondo sua própria agenda, baseada em cooperação técnica, autonomia financeira e inovação regional.
A agência conclui que o eixo Brasil-China, reforçado pela COP30, pode redefinir o futuro da política climática mundial — “não mais como uma promessa do Norte, mas como uma construção compartilhada entre as nações do Sul”.


































