O Brasil pretende chegar à COP30 com um pacote de instrumentos financeiros desenhados para transformar o combate ao desmatamento em vetor de desenvolvimento e atrair capital privado para a economia verde. A estratégia foi detalhada pelo secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, durante o 28º Congresso Internacional de Direito Constitucional, promovido pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), em Brasília.

Durigan defendeu que o enfrentamento da crise climática deve ser visto não como obstáculo, mas como oportunidade para o país construir um novo ciclo de prosperidade. Segundo ele, a resposta brasileira precisa combinar reindustrialização, estabilidade fiscal e inovação financeira — uma tríade capaz de alinhar crescimento econômico e preservação ambiental.
Desenvolvimento a partir da floresta
O secretário destacou que, ao contrário do Norte Global, cujo foco está na transição energética, o Brasil tem no desmatamento a principal fonte de emissões de gases de efeito estufa. “Nosso desafio é o desmatamento. A partir dele, construímos as soluções que podem inspirar o mundo”, afirmou.
Para Durigan, o país reúne condições únicas para liderar uma nova economia sustentável, amparada por políticas públicas testadas democraticamente e resultados mensuráveis. Ele ressaltou que a COP30, que será sediada em Belém (PA), é a oportunidade de consolidar essa liderança com propostas concretas.
Fundo Florestas Tropicais para Sempre
Entre as iniciativas apresentadas, uma das principais é o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (Tropical Forests Forever Fund – TFFF), lançado na COP28 em Dubai. O mecanismo busca captar recursos de investidores internacionais, com retorno financeiro, para apoiar países detentores de florestas tropicais.
O Brasil fez o primeiro aporte de US$ 1 bilhão ao fundo soberano que alimenta o TFFF. A proposta, explica Durigan, é simples e transformadora: os rendimentos desses investimentos serão repassados para ações de preservação e fortalecimento de economias florestais em países como Peru, Colômbia, Indonésia e República Democrática do Congo.
“Não estamos pedindo doações, mas investimentos. É um modelo de corresponsabilidade que remunera o investidor e beneficia quem protege as florestas”, disse o secretário. O fundo, segundo ele, será uma das principais inovações apresentadas pelo Brasil na conferência de Belém.

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EcoInvest: proteção cambial e atração de capital
Outro projeto destacado foi o EcoInvest, desenvolvido pelo Tesouro Nacional. O instrumento oferece proteção cambial a investidores estrangeiros que aportem recursos em projetos sustentáveis e de baixo carbono no Brasil. A medida busca reduzir a percepção de risco e ampliar o fluxo de capital de longo prazo em setores estratégicos, como reflorestamento, infraestrutura resiliente, energia limpa e inovação verde.
O EcoInvest responde a uma antiga queixa da indústria internacional: a volatilidade cambial brasileira. Com o mecanismo, o governo pretende transformar essa vulnerabilidade em atrativo, posicionando o país como destino seguro e competitivo para investimentos sustentáveis.
Política fiscal como base da transição ecológica
Durigan também defendeu que o sucesso da agenda verde depende da estabilidade macroeconômica. Ele lembrou que, após uma década de instabilidade, o país voltou a equilibrar as contas públicas e projeta o primeiro superávit em mais de 12 anos.
“Estabilizar as expectativas fiscais é fundamental para criar confiança e atrair capital produtivo”, afirmou. Segundo ele, o equilíbrio das contas, o controle da inflação e a gestão prudente do balanço externo criam as condições necessárias para financiar a transformação ecológica sem comprometer a responsabilidade fiscal.
Além da agenda ambiental, o secretário ressaltou a diversificação comercial do país, que reduziu a dependência das exportações para os Estados Unidos e abriu mais de 400 novos mercados. Essa ampliação, argumentou, dá sustentação à política industrial e climática, garantindo soberania e resiliência à economia brasileira.
Rumo a um novo pacto de desenvolvimento
Ao final, Durigan reforçou que o objetivo da Fazenda é “projetar o futuro do país” com base em inovação e pragmatismo. “O presente é feito para melhorar as bases da nossa economia. O futuro precisa ser construído com responsabilidade e imaginação”, concluiu.
Com iniciativas como o TFFF e o EcoInvest, o Brasil quer chegar à COP30 com o discurso de que preservar a floresta e crescer economicamente não são caminhos opostos, mas partes de um mesmo projeto nacional de desenvolvimento sustentável.








































