Brasil propõe fundo global para garantir florestas tropicais em pé


O Brasil quer transformar a preservação das florestas tropicais em uma operação financeira sólida, duradoura e capaz de gerar retorno econômico. A proposta, batizada de Tropical Forests Forever Fund (TFFF) — Fundo para Florestas Tropicais para Sempre — está sendo articulada pelo governo brasileiro como um novo mecanismo global de financiamento climático. O objetivo é simples, mas ambicioso: criar uma fonte permanente de recursos para manter em pé as florestas tropicais, as maiores aliadas do planeta na contenção do aquecimento global.

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A iniciativa nasce após o impasse da COP29, realizada no Azerbaijão, onde a comunidade internacional não conseguiu definir um novo fluxo financeiro para ajudar países em desenvolvimento a lidar com as mudanças climáticas. Esperava-se, na ocasião, um compromisso de US$ 1,3 trilhão anuais, mas o acordo fechado ficou restrito a US$ 300 bilhões até 2030, valor considerado insuficiente diante da escala da crise.

Frustrado o avanço nas negociações, o Brasil decidiu agir por conta própria — e de modo criativo. O TFFF propõe um modelo híbrido entre política ambiental e mercado financeiro, capaz de gerar lucros para investidores e, ao mesmo tempo, financiar ações de conservação. A proposta foi apresentada a países-chave durante as discussões preparatórias da COP30, que ocorre em Belém (PA), e começa a ganhar adesão de governos e instituições multilaterais.

Um mecanismo inovador de financiamento verde

Na prática, o fundo funcionaria como uma aplicação global de longo prazo. Países ricos — entre eles França, Noruega, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido e Alemanha — fariam um aporte inicial de US$ 25 bilhões, provenientes de suas reservas cambiais. Normalmente, esse capital é investido em títulos do Tesouro dos Estados Unidos, considerados os ativos mais seguros do mundo. O TFFF, porém, ofereceria a mesma rentabilidade, mas com impacto ambiental positivo: o dinheiro seria movimentado em aplicações mais rentáveis, e todo o excedente seria destinado à proteção das florestas tropicais.

A expectativa é de que o volume de transações alcance US$ 125 bilhões, multiplicando por cinco o valor inicial investido. O modelo cria um círculo virtuoso em que o capital financeiro, em vez de apenas gerar dividendos, passa a sustentar serviços ecossistêmicos vitais para o planeta — como o sequestro de carbono, a regulação climática e a preservação da biodiversidade.

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Uma coalizão das florestas

Embora o Brasil seja o idealizador do fundo, o projeto se apoia em uma ampla rede de nações que abrigam florestas tropicais. Estão entre as parceiras República Democrática do Congo, Indonésia, Malásia, Colômbia e Gana — países que, junto com o Brasil, detêm a maior parte das florestas tropicais remanescentes do planeta. A participação dessas nações é essencial para definir critérios de aplicação dos recursos e garantir que o dinheiro beneficie diretamente os territórios que mais contribuem para o equilíbrio climático global.

O fundo é também uma tentativa de corrigir uma assimetria histórica: enquanto países desenvolvidos foram os principais emissores de gases de efeito estufa, as nações tropicais continuam arcando com o custo da preservação ambiental. Ao transformar a conservação em um ativo econômico global, o TFFF propõe uma nova lógica — em que quem protege também é remunerado.

Condições e compromissos

Para ter acesso aos recursos, os países receptores precisarão cumprir uma série de exigências. Será necessário comprovar planos de combate ao desmatamento com resultados mensuráveis, manter sistemas robustos de monitoramento florestal e criar instâncias de governança participativa, incluindo lideranças indígenas e comunidades tradicionais.

Essas salvaguardas visam evitar o risco de “greenwashing” e garantir que o dinheiro público e privado se traduza em resultados ambientais concretos. A presença de conselhos formados por representantes locais, por exemplo, é vista como um avanço no desenho de políticas climáticas mais inclusivas e transparentes.

O papel do Brasil

Com a maior floresta tropical do mundo e mais de 60% da Amazônia em seu território, o Brasil se posiciona como protagonista natural do debate climático. O país tem buscado se consolidar como líder entre as nações tropicais e mediador entre o Norte e o Sul globais, defendendo uma governança climática mais equitativa.

O TFFF reflete essa estratégia: uma proposta pragmática e inovadora que pretende unir finanças, ciência e política para garantir a floresta em pé e recompensar quem protege. Em um mundo que busca soluções viáveis para conter o aquecimento global, o fundo surge como um símbolo de que preservar pode — e deve — ser também um bom negócio.