Houve um tempo em que programar significava atravessar vastas planícies de linhas de código, um labor minucioso e exaustivo que, se por um lado moldava a espinha dorsal da revolução digital, por outro exigia tempo, mão de obra especializada e paciência.

Low-code e a inteligência artificial
Esse tempo, ao que tudo indica, está ruindo. Sob o impacto de forças gêmeas, o low-code e a inteligência artificial, o desenvolvimento de software assume contornos cada vez mais acessíveis, rápidos e integrados às necessidades de um mercado que não espera.

No coração desse novo paradigma, o Brasil surge como terreno propício à metamorfose. Em vez de espectador, torna-se protagonista, adaptando-se com velocidade e apetite às potencialidades que essas tecnologias oferecem. As cifras ajudam a contar essa história: segundo a Gartner, 70% dos novos aplicativos até 2025 serão construídos com pouco ou nenhum código. A Forrester complementa: 87% dos desenvolvedores corporativos já utilizam plataformas low-code em algum grau. Os números não são meras projeções. São sintomas de uma mudança em curso, talvez irreversível.
Soluções digitais
A lógica por trás do low-code é simples, mas revolucionária. Ao reduzir a dependência de linguagens de programação complexas, ele democratiza a criação de soluções digitais. Permite que equipes menores, por vezes não tão especializadas, desenvolvam produtos robustos em tempo recorde. Não se trata apenas de acelerar o ciclo de desenvolvimento, mas de liberar as mentes técnicas para focarem no essencial: a estratégia de negócio, o valor entregue ao cliente, a inovação contínua.
Mas o low-code, sozinho, não responde às complexidades de um mercado moldado por consumidores exigentes e imprevisíveis. Entra, então, a inteligência artificial como complemento natural, quase orgânico. Juntas, essas tecnologias formam uma espécie de simbiose operacional. A IA analisa comportamentos, antecipa demandas, sugere soluções. O low-code traduz essas percepções em produtos tangíveis, interfaces intuitivas, experiências personalizadas. É um ciclo virtuoso: quanto mais dados, melhor a IA; quanto mais adaptabilidade, melhor o low-code.
Potencial
Empresários e especialistas brasileiros têm percebido o potencial dessa união. Carol Cabral, à frente da Nimbi, relata que com low-code, um módulo que levaria um ano e meio para ser finalizado ficou pronto em três meses. A Sys Manager, por sua vez, combina IA para prever preferências e LC para construir rápido. Resultados? Maior produtividade, menos erros, custos controlados. Essa eficiência não é apenas um diferencial competitivo. É o novo normal.
No horizonte, despontam os turingbots, agentes de IA que auxiliam desde a escrita de código até a automação de testes. Eles anunciam um futuro em que a inteligência generativa e a engenharia de software se entrelaçam profundamente. As chamadas plataformas AppGen caminham nessa direção: ambientes unificados que integram análise, segurança, desenvolvimento e entrega. Com turingbots, espera-se uma maturidade que tornará o desenvolvimento não apenas mais rápido, mas mais humano, mais responsivo ao usuário final.
Microcosmo da revolução brasileira
A experiência da Nimbi funciona como um microcosmo da revolução brasileira. De 2015 para cá, a empresa alcançou funcionalidades similares às dos grandes nomes do mercado, movimentando mais de R$ 550 bilhões em transações. Seu marketplace B2B, com 400 mil itens, é abastecido por uma média de 1,2 milhão de chamadas de API por dia. Não são apenas métricas impressionantes. São indícios de um modelo escalável, sustentável e, sobretudo, replicável.

Do ponto de vista dos investimentos, o otimismo é palpável. Levantamento da 4Network com a OutSystems mostra que 69% das grandes empresas privadas brasileiras já adotam low-code. Outras 31% pretendem fazê-lo em breve. O montante destinado à tecnologia em 2024 é estimado em R$ 53,2 milhões, distribuídos em 260 projetos. Automatização de processos, aplicativos mobile, eficiência operacional e aumento de receita são os focos principais.
Desafios
Obstáculos persistem, claro. Sistemas legados ainda desafiam integrações rápidas. Backlogs se acumulam. Mas o low-code, por sua flexibilidade e agilidade, tem se mostrado uma das respostas mais eficazes. A segurança, escalabilidade e integração continuam sendo exigências prioritárias na escolha de fornecedores, o que denota maturidade na tomada de decisão.
Estamos diante de uma inflexão. Um ponto em que a tecnologia deixa de ser apenas ferramenta para se tornar linguagem comum entre negócios, clientes e desenvolvedores. A alavanca não está mais em linhas e linhas de código, mas na capacidade de imaginar e iterar rápido. O low-code e a IA, juntos, não estão apenas moldando o futuro da tecnologia no Brasil. Estão redesenhando o próprio conceito de inovação.










































