Capitais brasileiras divergem das metas de redução de emissões, Segundo Pesquisa

Autor: Redação Revista Amazônia

No contexto das eleições municipais, um tema crucial permanece sem a devida atenção dos candidatos: o combate à crise climática e a redução das emissões de gases de efeito estufa. Esse silêncio preocupa ambientalistas e especialistas, especialmente diante das queimadas que têm afetado o Brasil, gerando, inclusive, nuvens de fumaça em grandes cidades como São Paulo e Belo Horizonte.

Propostas de redução de emissões

Segundo Conrado Galdino, biólogo e pesquisador da PUC Minas, embora o combate direto a esses incêndios seja responsabilidade dos governos estaduais e federal, os municípios podem adotar iniciativas próprias. Para ele, a degradação da qualidade do ar deveria motivar discussões mais aprofundadas sobre propostas de redução de emissões nas campanhas eleitorais. “A urgência em reduzir as emissões aumenta a cada queimada, e é preocupante que esse tema não esteja no centro das propostas dos candidatos”, afirmou Galdino.

Um levantamento realizado pelo Instituto Cidades Sustentáveis (ICS) expõe a gravidade da situação. Para alcançar as metas da Agenda 2030, que prevê a redução das emissões líquidas de gases de efeito estufa, cinco das dez maiores capitais brasileiras precisam cortar mais da metade de suas emissões. A meta global, fixada pela ONU, estabelece um limite de 0,83 tonelada de CO₂ por habitante. No entanto, cidades como Manaus, Rio de Janeiro e Belo Horizonte ainda registram índices muito superiores, com destaque para Manaus, que apresenta 3,06 toneladas por habitante.

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Marco Antonio Milazzo, professor de arquitetura e urbanismo do Ibmec, aponta que as prefeituras podem fazer muito mais no combate às emissões. Ele sugere ações como o incentivo ao transporte público, a criação de ciclovias e a substituição de veículos movidos a combustíveis fósseis por alternativas elétricas ou de hidrogênio. Além disso, destaca a importância da gestão adequada do lixo, eliminando lixões e promovendo aterros sanitários, além de reduzir o consumo de energia elétrica, com investimentos em energias renováveis, como a solar e eólica.

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Circulação de ônibus elétrico em Belo Horizonte – Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte/Divulgação

Belo Horizonte, que registrou um pico de emissões de 1,82 tonelada por habitante em 2022, ilustra bem o problema. Após uma breve queda em 2017, a cidade voltou a registrar aumentos significativos nas emissões a partir de 2020. Galdino aponta que o setor de transporte é o principal responsável pelas emissões na capital mineira, mas também destaca a relevância dos resíduos e da atividade mineradora. Ele sugere que o município poderia oferecer incentivos fiscais para indústrias menos poluentes, além de investir em políticas de transporte público e eletrificação da frota.

O professor Milazzo também salienta a necessidade de controlar a expansão urbana desordenada, que agrava problemas relacionados ao transporte e à gestão de resíduos. Para ele, políticas de educação ambiental são essenciais para sensibilizar a população sobre a gravidade da crise climática. “Sem uma sociedade consciente e disposta a mudar, as políticas públicas tendem a fracassar”, afirma Milazzo.

Cidades menores, como Vitória, enfrentam desafios semelhantes. Em 2022, a capital capixaba registrou 1,83 tonelada de CO₂ por habitante, um aumento acentuado em relação aos anos anteriores. A presença de “pó preto” gerado por indústrias locais mobilizou a população e resultou na aprovação de uma lei municipal para melhorar a qualidade do ar.

Embora iniciativas como a arborização urbana e a preservação de áreas verdes sejam importantes, especialistas alertam que elas sozinhas são insuficientes para alcançar as metas climáticas. Conforme Milazzo destaca, é preciso que as capitais priorizem a preservação de parques existentes e combatam o desmatamento urbano.

No entanto, a pauta ambiental ainda é negligenciada no debate eleitoral municipal. Segundo Milazzo, em cidades como o Rio de Janeiro, temas como segurança pública continuam a dominar as campanhas, enquanto a discussão sobre as mudanças climáticas e suas consequências permanece em segundo plano.

Conrado Galdino conclui que, para uma mudança real, é necessário que a população pressione os políticos e adote um consumo mais consciente. Ele afirma que sem essa mobilização, o debate sobre a sustentabilidade continuará sendo tratado como uma prioridade menor, apesar de seu impacto direto na sobrevivência e qualidade de vida nas grandes cidades.


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