Elas são simpáticas, calmas e até carismáticas nas redes sociais, mas também estão envoltas em um debate que mistura medo, informação incompleta e um toque de mito. A capivara, maior roedor do mundo, tem conquistado espaço nas margens de rios, condomínios e parques urbanos — e, com isso, crescem as dúvidas: afinal, a capivara transmite doenças? E qual é a real ligação entre esse animal e os carrapatos que assustam tanta gente?

Capivara: o símbolo da natureza que se adaptou à cidade
A presença de capivaras em áreas urbanas é resultado direto da expansão humana sobre o habitat natural. Elas encontraram nas cidades tudo o que precisam: água, grama e segurança relativa contra predadores. Em grupos familiares tranquilos, costumam ser vistas descansando à beira de lagos, pastando calmamente e, às vezes, interagindo com pessoas — um comportamento que desperta curiosidade e empatia.
Mas é justamente essa proximidade com os humanos que levanta o alerta. A principal preocupação gira em torno de uma doença chamada febre maculosa, transmitida por carrapatos do gênero Amblyomma, popularmente conhecidos como carrapatos-estrela. E aqui começam as confusões.
Carrapatos e capivaras: quem é o verdadeiro vilão?
É comum ouvir que a capivara “espalha” a febre maculosa, mas essa ideia é um equívoco. Na verdade, ela é uma das possíveis hospedeiras do carrapato — não a fonte da doença. O que realmente transmite a febre maculosa é o próprio carrapato infectado pela bactéria Rickettsia rickettsii.
As capivaras servem como elo de manutenção do ciclo natural: quando o carrapato as pica, pode se infectar e, mais tarde, transmitir a bactéria a outro animal ou ser humano. Portanto, o problema não é a presença das capivaras em si, mas a proliferação descontrolada dos carrapatos em ambientes onde esses animais vivem sem manejo adequado.
Ou seja, culpar a capivara é o mesmo que culpar o cachorro por existir pulga. O risco está no desequilíbrio ambiental — algo que pode ser prevenido com cuidados simples e responsabilidade compartilhada.
Como o ambiente interfere na proliferação dos carrapatos
Os carrapatos prosperam em locais úmidos, sombreados e com vegetação densa. Parques e margens de rios mal cuidados, com acúmulo de folhas e mato alto, se tornam o habitat perfeito. Quando o número de capivaras cresce sem controle nesses ambientes, a chance de manter populações grandes de carrapatos também aumenta.
Por isso, o manejo ambiental é uma das principais medidas preventivas. Cortar a grama regularmente, manter áreas abertas ensolaradas e evitar o contato direto com grupos de capivaras são atitudes simples que reduzem significativamente o risco de infecção.
Outro ponto importante é o comportamento humano. Pessoas que frequentam trilhas, margens de rios ou áreas com vegetação alta devem usar calças compridas, botas e repelente, além de checar o corpo e as roupas após o passeio. Essas ações básicas são mais eficazes para prevenir a febre maculosa do que afastar as capivaras do ambiente.
Mitos e verdades sobre capivaras e doenças
“Toda capivara transmite febre maculosa.” — Mito.
A maioria das capivaras não está infectada. O risco depende da presença de carrapatos contaminados, não do animal em si.
“Carrapatos só vivem em animais.” — Mito.
Eles também podem se esconder em vegetação alta, esperando por um hospedeiro. Por isso, é possível ser picado mesmo sem contato direto com bichos.
“Capivaras são importantes para o equilíbrio ambiental.” — Verdade.
Elas ajudam a controlar o crescimento de vegetação aquática e servem como alimento para predadores naturais, mantendo o ecossistema equilibrado.
“Remover capivaras resolve o problema dos carrapatos.” — Mito perigoso.
Sem o manejo correto, os carrapatos permanecem no ambiente e podem migrar para outros hospedeiros. A solução real está no controle integrado, que envolve monitoramento ambiental, limpeza e, em alguns casos, programas oficiais de manejo.
O papel do ser humano na convivência segura
A verdade é que as capivaras são apenas mais um elo da teia ecológica que o ser humano constantemente altera. Ao ocupar margens de rios e reduzir áreas naturais, criamos as condições ideais para o aumento dos carrapatos. Em vez de demonizar o animal, o caminho está em aprender a coexistir de forma responsável.
Prefeituras e condomínios que adotam planos de manejo — com controle populacional, monitoramento veterinário e manutenção de áreas verdes — têm mostrado resultados eficazes. Essa convivência equilibrada permite que capivaras continuem parte da paisagem sem colocar a saúde pública em risco.
Um símbolo de equilíbrio possível
No fim das contas, a capivara é um espelho da nossa própria relação com a natureza: dócil, adaptável e, muitas vezes, vítima de mal-entendidos. Quando olhamos com atenção, percebemos que o problema não é o animal, mas o desequilíbrio que nós criamos.
Manter a distância segura, respeitar o espaço delas e cuidar do ambiente são os verdadeiros antídotos contra o medo — e as doenças. Afinal, o segredo está em harmonizar a convivência, não em romper com ela.
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