Raoni na Semana do Meio Ambiente
Aos 92 anos, o Cacique Raoni, uma das maiores autoridades na defesa dos direitos dos povos indígenas e preservação ambiental, fez duras críticas à ação humana como causa dos desastres naturais. Durante a Semana do Meio Ambiente (Semeia), no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, ele abordou o recente desastre climático no Rio Grande do Sul, onde chuvas intensas, inundações e deslizamentos causaram estragos significativos. Raoni destacou a necessidade urgente de reflexão sobre a responsabilidade humana nos extremos climáticos.
“Não sei se as pessoas vão despertar para essa realidade. Após essa tragédia, provocada pela destruição da natureza pelos homens brancos, que constroem casas em locais inadequados, é essencial refletir sobre os acontecimentos. São eles que provocam e sofrem as consequências. Conheci muitos espíritos da água e da floresta, e eles dizem o mesmo: se continuarem sendo ameaçados, vão retaliar. Isso não é bom para ninguém. É preciso cuidar melhor do nosso ambiente. Todos devem dialogar para encontrar o caminho certo”, declarou o líder indígena caiapó.
Raoni enfatizou que a luta pela proteção ambiental é contínua e deve ser renovada com o fortalecimento de jovens lideranças indígenas. Ele acredita que o futuro do planeta depende da união entre diferentes povos.
“Há muitos anos, nossos ancestrais – tanto os brancos quanto os indígenas – lutaram nesta terra, no Brasil. Houve guerras e violência. Devemos deixar o passado para trás e focar no futuro. Para nosso bem, é necessário pensar mais nas florestas, rios e em todo o meio ambiente”, afirmou o cacique.
Semana do Meio Ambiente
De 5 a 9 de junho, o Museu do Amanhã realiza uma programação especial para a Semana do Meio Ambiente, com o tema “Trilhas da Florestania”. Este conceito, defendido por líderes como Ailton Krenak e Cacique Raoni, propõe uma visão de mundo que integra o ecossistema de maneira holística.
“O conceito de florestania, trazido por Ailton Krenak e Cacique Raoni, é sobre a floresta que existe dentro de nós. Quem vive nas cidades costuma ver a floresta como algo externo, mas, sendo parte da natureza, a floresta vive em nós. Os desafios atuais, como os que estamos enfrentando no Rio Grande do Sul, têm muito a ver com essa desconexão da natureza”, refletiu Fabio Scarano, curador do Museu do Amanhã e professor de Ecologia na UFRJ.
Scarano ressaltou a importância de aprender com os povos indígenas sobre a forma de ver e cuidar do meio ambiente.
“Com este evento, tentamos motivar as pessoas a redescobrir as florestas do mundo e a floresta interna. Os povos que nunca se separaram da natureza, como os originários e ancestrais, podem nos guiar de volta ao caminho da harmonia com o ambiente”, concluiu Fabio.