A China braça a sustentabilidade enquanto os EUA recuam, afirma presidente da COP30


A corrida pela liderança global no combate às mudanças climáticas revela uma dicotomia fascinante entre as duas maiores economias do mundo: os Estados Unidos e a China. Enquanto o governo de Donald Trump adota uma postura de recuo em relação aos compromissos climáticos, a China avança com determinação, enxergando na agenda de sustentabilidade uma oportunidade econômica e tecnológica. Essa dinâmica, segundo o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, que ocorrerá em Belém, no Pará, desenha um cenário de tensões e oportunidades que molda o futuro do planeta.

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Para Corrêa do Lago, a atual política norte-americana de distanciamento de acordos como o Acordo de Paris não é apenas uma questão ideológica; é uma decisão com profundas implicações econômicas. Em uma conferência na Universidade de Columbia, em Nova York, o embaixador destacou que a relutância dos EUA em combater as mudanças climáticas está diretamente ligada aos interesses de setores tradicionais da economia, como o de combustíveis fósseis. Essa abordagem tem gerado consequências visíveis, como a diminuição do engajamento de grupos financeiros em projetos de energia limpa e o desvio de recursos de agendas ambientais para outras prioridades, como orçamentos de defesa na Europa.

A postura de Trump, vista por muitos como uma reversão de políticas progressistas em diversas áreas, incluindo saúde pública e comércio, encontra forte oposição. No entanto, o embaixador ressalta que as reações a essas mudanças ainda estão em estágios iniciais. “O presidente Trump está fazendo coisas surpreendentes em muitas áreas. Você tem o tema da vacina, o tema da guerra, o tema do clima. Você tem tantos temas que estão sendo muito questionados por esse governo e eu acho que está todo mundo ainda meio num efeito de início de governo. Pouco a pouco, vai começar a ter certas reações e certas consequências”, pontuou.

Essa dinâmica geopolítica coloca a China em um papel de protagonista na agenda climática. Diferentemente dos EUA, o gigante asiático abraçou a sustentabilidade não apenas como uma obrigação, mas como uma estratégia de crescimento. A China tem investido pesadamente em tecnologias verdes, como a produção de painéis solares, veículos elétricos e baterias, tornando-se líder global nessas frentes. Essa abordagem não apenas impulsiona a inovação e cria novos mercados, mas também posiciona o país como um defensor proeminente do clima, em contraste com o tradicional papel de maior poluidor do mundo.

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“A gente está diante de uma situação interessante, porque a China abraçou essa agenda e está com as tecnologias mais avançadas e com os resultados mais impressionantes”, disse Corrêa do Lago. Ele descreve a situação como um contraste entre as duas maiores economias: uma acelerando em direção à sustentabilidade, por ter percebido os benefícios econômicos dessa transição, e a outra pisando no freio para favorecer a economia baseada em combustíveis fósseis.

Apesar da saída dos EUA, o embaixador lembra que o Acordo de Paris continua robusto, sem que nenhuma outra nação tenha seguido o exemplo americano. Essa resiliência do acordo, somada à liderança chinesa, sugere que a transição energética global é um movimento inexorável, independentemente das políticas de um único país. A COP30, que acontecerá na Amazônia, um dos biomas mais importantes para o equilíbrio climático, será um palco crucial para demonstrar essa determinação global.

No entanto, o evento em Belém enfrenta seus próprios desafios. Corrêa do Lago mencionou as dificuldades logísticas e o custo de hospedagem, que têm disparado na cidade. Segundo ele, enquanto em outras COPs os preços dobram ou triplicam, em Belém eles chegam a ser 10 ou 15 vezes mais caros. “A coisa é que os preços realmente são inexplicáveis”, afirmou, apontando que esse obstáculo pode afetar a participação de algumas delegações, embora a expectativa seja de que todos os países estejam representados, mesmo que com um número menor de membros.

A dicotomia entre a China e os EUA, a resistência do Acordo de Paris e os desafios de sediar a COP30 na Amazônia compõem um cenário complexo e cheio de nuances. O que é certo, no entanto, é que a transição para uma economia de baixo carbono não é apenas uma necessidade ambiental, mas também uma nova fronteira para a disputa de poder e influência global.