No coração da maior floresta tropical do mundo, o Dia da Árvore, celebrado em 21 de setembro, transcende o simbolismo de um simples plantio. É uma data que impõe uma reflexão profunda e pragmática sobre o maior desafio da região: como conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação de um patrimônio natural insubstituível? A resposta, defendida e regulamentada pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), está em uma abordagem que enxerga a floresta não como um obstáculo, mas como a própria base de uma economia sustentável e justa.

Trata-se do manejo florestal sustentável, uma ciência e uma filosofia de trabalho que permite a extração de madeira e outros produtos da floresta de forma planejada, controlada e responsável. Longe da imagem predatória da exploração ilegal, essa prática funciona como uma coreografia cuidadosa, na qual a intervenção humana é calculada para garantir que a floresta mantenha sua vitalidade, sua biodiversidade e sua capacidade de se regenerar. É a colheita inteligente que assegura a safra de amanhã.
O Ipaam atua como o guardião desse equilíbrio, orientando empreendedores e produtores rurais a trilharem o caminho da legalidade e da sustentabilidade. Conforme destaca o diretor-presidente do órgão, Gustavo Picanço, os benefícios dessa abordagem se desdobram em múltiplas frentes. “O manejo florestal sustentável contribui para a conservação da biodiversidade, protege o solo e os recursos hídricos, e ajuda a mitigar as mudanças climáticas”, afirma. Do ponto de vista ambiental, cada hectare manejado corretamente continua a prestar serviços ecossistêmicos vitais, como a fixação de carbono e a regulação dos ciclos de chuva.

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Economicamente, o impacto é transformador. Ao invés de uma economia baseada na destruição, cria-se uma bioeconomia robusta, que gera empregos e renda para as comunidades locais, atrai investimentos privados e garante um fornecimento contínuo de matéria-prima para a indústria. Socialmente, o manejo fortalece a gestão participativa, empoderando os povos da floresta e melhorando sua qualidade de vida, consolidando-os como os principais guardiões do recurso que lhes provê o sustento.
Essa prática não opera em um vácuo legal. Pelo contrário, é sustentada por uma arquitetura jurídica robusta. A base é a Lei Federal nº 12.651/2012, o Código Florestal, que dita as regras gerais para a proteção da vegetação nativa no país. Em nível estadual, o Amazonas aprimorou a regulamentação através da Resolução nº 35/2022 do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Cemaam), que detalha os procedimentos técnicos para a elaboração e aprovação dos Planos de Manejo Florestal Sustentável (PMFS). A legislação é clara e as penalidades são severas: um decreto recente estabelece multas de R$ 1.000 por hectare para infrações, reforçando que a ilegalidade não compensa.
Mas como funciona na prática? A coordenadora da Gerência de Controle Florestal (GECF) do Ipaam, Crystianne Bentes, explica que o papel do Instituto é multifacetado: licenciar, monitorar e fiscalizar. A jornada para a exploração legal começa com um portal digital, onde o empreendedor solicita uma autorização prévia. Em seguida, é submetido um plano técnico minucioso, que inclui um inventário completo das espécies, o volume a ser explorado e as técnicas de mínimo impacto que serão utilizadas.
Para garantir a transparência e a rastreabilidade, todo o processo é integrado ao Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais (Sinaflor), do governo federal. Essa ferramenta confere um “DNA digital” à madeira, permitindo que cada tora seja monitorada desde o seu ponto de corte na floresta até o seu destino final na serraria ou no porto. É um sistema poderoso que fecha as portas para o comércio de madeira de origem ilegal, separando claramente os produtores responsáveis daqueles que operam à margem da lei.
Neste Dia da Árvore, a mensagem do Ipaam é clara: a verdadeira celebração da floresta amazônica não está apenas em protegê-la de forma intocável, mas em aprender a conviver com ela de forma inteligente e produtiva. O manejo florestal sustentável é o caminho para que as árvores do Amazonas continuem a crescer, a sustentar a vida e a gerar um futuro próspero para as gerações presentes e futuras.








































